Carros dos anos 70 ainda estão na Lua, mas GM e Lockheed Martin vão enviar novos
Três carros usados pela Nasa nos anos 70, da última vez que o homem pisou na lua, ainda estão lá, mas ninguém vai tentar fazê-los funcionar de novo
Existem três carros de 50 anos estacionados na Lua. Agora, a General Motors e a Lockheed Martin querem construir novos e levá-los para a Lua também.
Na década de 1960, a GM trabalhou com a Boeing (BA) para criar o Veículo Móvel Lunar (LRV, na sigla em inglês). Três deles – os LRV-1, LRV-2 e LRV-3 – foram dirigidos na superfície da Lua em 1971 e 1972. Os seres humanos não foram à Lua desde então, mas os Lunar Rovers, como eram mais conhecidos, ainda estão por lá.
A NASA (Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço) quer retornar à Lua, e os astronautas precisarão de um veículo quando chegarem. A tecnologia evoluiu muito desde 1972, mas os astronautas não vão tentar ligar um daqueles velhos Rovers, como se fosse um carro antigo do seu avô.
Em vez disso, a GM (GM) se uniu à Lockheed Martin (LMT) para desenvolver uma nova geração de Rovers. Graças às novas tecnologias de bateria, os novos Lunar Rovers serão capazes de ir mais longe do que os antigos, que percorriam menos de oito quilômetros. Nenhuma das empresas disse ainda qual a distância que os novos poderão rodar.
Os Rovers serão importantes porque os lugares que cientistas querem pesquisar na superfície da Lua provavelmente não serão os locais onde as espaçonaves pousarão. Bons pontos de pouso são grandes, planos e sem características. Como na Terra, os lugares geologicamente mais interessantes da Lua são irregulares, ásperos e rochosos, disse Kirk Shireman, vice-presidente da Campanha de Exploração Lunar da Lockheed Martin. Os astronautas precisarão se deslocar para seus locais de trabalho lunares com todo o equipamento.
Os novos Rovers ainda serão movidos a eletricidade, assim como os originais, disseram os engenheiros da GM e da Lockheed. Os motores de combustão interna não são uma opção, pois requerem muito ar rico em oxigênio, algo que a Lua não tem.
Fora isso, não se sabe muito sobre os novos Lunar Rovers. O projeto ainda está em fase de planejamento. A NASA ainda nem fez uma solicitação oficial de propostas, mas a GM e a Lockheed querem estar preparadas para quando isso acontecer. A solicitação irá detalhar exatamente do que a NASA precisa em um veículo lunar moderno.
Mesmo assim, já se sabe muito sobre o desafio de levar um veículo motorizado à Lua e fazê-lo circular por lá.
O Lunar Rover não irá à Lua em peças que precisam ser montadas, como a bicicleta de uma criança na época do Natal. A NASA enviará cientistas altamente treinados à Lua, e eles terão coisa melhor para fazer do que procurar a “Parte A” descrita no manual de montagem.
“Você quer que eles façam pesquisas, não que construam carros”, comentou Shireman.
De uma forma ou de outra, mesmo que dobrado como um sofá-cama, o Lunar Rover chegará à Lua inteiro. Além disso, o Lunar Rover será capaz de dirigir de forma autônoma. Isso o tornará muito mais útil, porque poderá deixar carga ou astronautas nos locais de trabalho e depois dirigir de volta, ou para seu próximo destino, por conta própria.
Exatamente como o Rover será controlado pelos astronautas ainda não foi decidido, contou Ryder. Ele poderia ser totalmente autônomo, com os astronautas inserindo um destino para onde o Rover os levaria, ou poderia ter um volante ou uma chave de controle, como os Rovers originais.
A intenção das empresas é que haja vários Rovers na Lua ao mesmo tempo. Eles poderiam ir a lugares diferentes, ou seguir uns aos outros como se fossem bondinhos de Lunar Rovers.
A segurança é, obviamente, muito importante, afirmou Jeff Ryder, vice-presidente de desenvolvimento e estratégia da GM Defense, a subsidiária que está trabalhando com a Lockheed. A segurança da bateria é importante, como acontece com veículos elétricos na Terra, mas existem outras diferenças.
As temperaturas na Lua serão um desafio para os astronautas e o Rover. As mudanças de temperatura na Lua não são apenas extremas. São extremamente extremas.
Quando o sol está alto, as temperaturas chegam a cerca de incríveis 126º Celsius. Isso é quase o dobro da temperatura de superfície mais alta já registrada na Terra. À noite a temperatura atinge cerca de -173º. Sem uma atmosfera para estabilizar as temperaturas, a mudança é instantânea.
“Às 8:00 está frio, e às 8:01 fica quente”, contou Shireman.
Os Rovers elétricos serão provavelmente carregados utilizando energia solar, o que funcionará perfeitamente durante o longo dia lunar de quase duas semanas. No entanto, a energia precisará ser armazenada para uso durante as duas semanas da noite lunar. A lua gira em torno de seu eixo uma vez a cada volta ao redor da Terra. É assim que a Lua sempre mantém o mesmo lado voltado para a Terra, e é por isso que um dia e uma noite na Lua duram cerca de um mês.
A segurança contra colisões também é importante, alertou Ryder. O Rover deve dirigir muito devagar e com cuidado. Com apenas 1/6 da gravidade da Terra, se rodasse em velocidades normais de carro um Rover poderia dar um salto do tipo que se vê em filmes de ação por conta de uma pequena lombada. Além disso, existem outras razões para se evitar ferimentos na Lua.
“Esperar por uma ambulância na Lua vai demorar”, disse Shireman.
Entre os perigos estão a areia, que não apenas tende a grudar no material, mas também é afiada como cacos de vidro, já que não existe vento para soprá-la e alisá-la. E, embora haja pouco risco de uma colisão em alta velocidade com um caminhão, mesmo um pequeno solavanco em baixa velocidade poderia arrancar o traje espacial de um astronauta. Também deve-se ter cuidado com áreas pontiagudas e expostas.
O software de direção autônoma desenvolvido para uso na Terra terá utilidade limitada na Lua. Pesquisadores de direção autônoma que trabalham em carros terrestres passam muito tempo projetando sistemas para evitar ciclistas, pedestres, sinalizações de obras e outros perigos que, até agora, não foram encontrados na Lua.
Dirigir na superfície estéril da Lua seria mais semelhante a uma direção autônoma off-road. A questão será evitar os perigos como pedras, declives acentuados e áreas profundas de areia pegajosa.
Os sistemas de navegação também terão de ser diferentes daqueles usados na Terra. Uma bússola não funcionaria, porque a Lua não tem um campo magnético forte como o da Terra. A navegação GPS também não, porque a Lua não está rodeada por satélites de posicionamento global.
Para encontrar o caminho, o Lunar Rover terá de confiar em métodos antiquados, ainda que contando com os benefícios de computadores modernos. O clássico Rover do início dos anos 1970 simplesmente mantinha o controle da distância que rodava em cada direção – informação que era inserida em um computador pelos astronautas – para descobrir o caminho de volta. Ele também podia usar o sol para ajudar a calcular sua posição.
O Rover de hoje também poderia comparar seus arredores com dados detalhados do mapa tridimensional para descobrir onde está em relação a colinas, montanhas e pedras ao seu redor. Além disso, poderia usar as estrelas, como viajantes aqui na Terra têm feito há milhares de anos. De qualquer maneira, navegar na Lua não será um grande desafio, afirmou Shireman.
Por enquanto, as duas empresas estão apenas trabalhando no básico. Espera-se que a solicitação de propostas da NASA saia ainda neste ano, e que haja concorrência pelo trabalho. Mas a corrida já começou.
(Texto traduzido. Clique aqui para ler o original)