Canadá corta relações com banco de desenvolvimento chinês, alegando controle do Partido Comunista
Bob Pickard, que fez as alegações, renunciou ao cargo de chefe global de comunicações do Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB) no início desta semana
O Canadá está suspendendo os laços com um credor multinacional com sede em Pequim – anunciado como a resposta da Ásia ao Banco Mundial – enquanto se aguarda uma revisão das alegações de que o Partido Comunista Chinês se infiltrou na instituição.
Quem as fez foi Bob Pickard, um cidadão canadense que renunciou ao cargo de chefe global de comunicações do Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB) no início desta semana.
O governo canadense anunciou na quarta-feira que “interromperia imediatamente todas as atividades lideradas pelo governo” com o AIIB, um banco de desenvolvimento liderado pela China que também conta com países do G7, como Reino Unido, França e Alemanha.
Em um discurso em Ottawa, a ministra das Finanças do Canadá, Chrystia Freeland, disse que ordenou o congelamento – e um inquérito – depois de saber da renúncia de Pickard.
Pickard anunciou sua saída na quarta-feira, dizendo no Twitter que “como um canadense patriota, este era meu único curso”.
“O banco é dominado por membros do Partido Comunista e também tem uma das culturas mais tóxicas que se possa imaginar”, acrescentou, sem dar mais detalhes. “Não acredito que os interesses do meu país sejam atendidos por seus membros do AIIB.”
Pickard não forneceu evidências para apoiar as alegações, nem respondeu imediatamente na quinta-feira a um pedido de mais comentários ou entrevista.
Em comunicado, o AIIB chamou seus comentários de “infundados e decepcionantes”.
“Ao longo desse tempo, o banco o apoiou e capacitou para desempenhar sua função”, afirmou.
O AIIB iniciou suas operações em 2016 como ideia do líder chinês Xi Jinping e foi projetado para fornecer investimentos em infraestrutura e redes regionais.
Pequim estava frustrada com sua falta de influência no Banco Mundial, com sede em Washington, DC, e no Banco Asiático de Desenvolvimento, onde o Japão é uma grande força.
Céticos sobre como o banco seria administrado e buscando limitar sua eficácia, os Estados Unidos silenciosamente encorajaram os aliados a não participar.
Mas o Reino Unido foi o primeiro a romper as fileiras, anunciando em 2015 que se candidataria à adesão. Os Estados Unidos não são membros.
Escrutínio sobre a China
O Canadá ingressou no AIIB em 2018 e, desde então, prometeu um total de US$ 995,4 milhões, segundo o banco.
Em seus comentários na quarta-feira, Freeland disse que a revisão do governo seria acelerada e que ela “não descartava nenhum resultado após sua conclusão”. Ela disse que o Canadá discutiria o assunto com aliados e parceiros que também são membros do banco.
Freeland também compartilhou opiniões sobre o papel internacional da China de forma mais ampla, dizendo que a segunda maior economia do mundo “deve necessariamente desempenhar um papel na abordagem de desafios globais comuns”.
“No entanto, como as democracias do mundo trabalham para reduzir os riscos de nossas economias, limitando nossas vulnerabilidades estratégicas a regimes autoritários, também devemos ser claros sobre os meios pelos quais esses regimes exercem sua influência”, continuou ela.
Nos últimos anos, as empresas ocidentais têm sofrido pressão para reduzir o risco para seus negócios, diversificando as cadeias de suprimentos ou operações fora da China.
Isso foi impulsionado por uma série de fatores, incluindo o medo de que Pequim pudesse atacar Taiwan em meio à tensão contínua entre China e EUA.
Em um comunicado na quarta-feira, a embaixada chinesa no Canadá chamou os comentários de Pickard de “mentiras descaradas” que buscavam sensacionalizar sua saída.
A China “sempre seguiu regras e procedimentos multilaterais”, disse um porta-voz da embaixada, rejeitando a noção de que havia a necessidade de “reduzir o risco” do país.
Apesar de inicialmente serem vistos como rivais do Banco Mundial, as duas instituições se associaram, fornecendo financiamento conjunto para dezenas de projetos.
Em março, o presidente do AIIB, Jin Liqun, reuniu-se com o novo presidente do Banco Mundial, Ajay Banga, em Pequim, para discutir o aprofundamento dos laços.
O AIIB conta com a China como seu maior financiador, com US$ 29,8 bilhões prometidos ao banco.
No geral, a organização divulgou US$ 100 bilhões em capital, com compromissos consideráveis do Reino Unido, França, Alemanha e outros.