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    Câmbio tem desempenho melhor, mas há incerteza no médio prazo, diz diretor do BC

    Segundo ele, os efeitos do aumento de juros devem ser sentidos na economia a partir do segundo semestre

    Bernardo Caramda ReutersEduardo Laguna e Antonio Temóteodo Estadão Conteúdo , da Reuters

    O câmbio no Brasil está tendo um desempenho melhor por conta de fatores como a reversão da crise hídrica e uma situação fiscal mais positiva, disse nesta segunda-feira (16) o diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, ponderando que ainda há incertezas no médio prazo.

    Em evento promovido pelo Goldman Sachs, Serra afirmou que o câmbio no país foi pressionado por uma série de fatores em 2020 e 2021, como os juros baixos e incerteza fiscal. Naquele período, segundo ele, o real chegou a se desvalorizar 25% em relação a seus pares.

    Para ele, houve melhora nesse cenário cambial, também influenciado por mudanças na tributação de investimentos no exterior, retorno de brasileiros a investimentos domésticos e fluxo de recursos de empresas.

    Na avaliação de Serra, o movimento recente do câmbio –que voltou a subir para patamares superiores a 5 reais por dólar– refletiu impacto da desaceleração da China, que enfrenta uma onda de Covid-19, e do aperto monetário implementado nos Estados Unidos.

    Para ele, o efeito causado pela China sobre o real foi mais forte do que o dos juros nos Estados Unidos.

    Efeitos das altas de juros

    Serra, também afirmou nesta segunda-feira que os efeitos do aumento de juros, que chegou 12,75% ao ano, devem ser sentidos na economia a partir do segundo semestre. Segundo ele, mesmo com a elevação da Selic, o país deve crescer pelo menos 1% em 2022.

    “Com a melhora das contas externas, o desemprego caindo e o mercado de capitais consistente, podemos imaginar perspectivas melhores”, disse Serra.

    O diretor do BC ainda afirmou que parte do crescimento econômico deve ocorrer com base na recuperação do setor de serviços. “Ainda tem coisa para acontecer na retomada dos serviços. Se tivesse que apostar, o crescimento do PIB em 2022 seria mais de 1%. O investimento surpreende e cresce bem desde a retomada pós-pandemia”, disse.

    Comparação com outros países

    Bruno Serra citou o maciço estímulo fiscal feito pelo governo brasileiro na pandemia, superior ao de seus pares, entre os motivos que obrigaram a autarquia a subir os juros mais cedo do que a maioria dos países emergentes.

    Apontou ainda a depreciação do real frente o dólar, a crise hídrica, que teve impacto pesado nas tarifas de energia, e a indexação “mais enraizada” do que a de pares, ampliando assim os efeitos inerciais da inflação, ao explicar por que o Brasil começou o combate à alta de preços em situação pior do que a de outros emergentes.

    “O desafio foi mais duro”, declarou Serra ao lembrar, como num desabafo, que o choque inflacionário global atingiu o Brasil após o país despejar mais de R$ 600 bilhões no enfrentamento da pandemia. “O Brasil estava em situação mais difícil do que a de pares até recentemente.”

    Ao falar sobre o futuro, ele traçou, no entanto, um cenário desinflacionário, apontando a tendência de normalização das variáveis que influenciam os preços.

    Apesar das avaliações no mercado de que o governo, com medidas de incentivo ao consumo, isolou o BC no enfrentamento da inflação, Serra julgou que a política fiscal não tem mais atrapalhado a condução da política monetária. “Daqui para frente, a gente começa a normalizar”, assinalou o diretor do BC.

    Diferenças entre previsões

    O diretor de Política Monetária do Banco Central afirmou que as diferenças entre as previsões do mercado e da autoridade monetária para a inflação estão concentradas nos preços industriais e de alimentos. Segundo ele, o mercado prevê que a normalização das cadeias de produção deve demorar mais do que o BC estima.

    “A preferência da maioria é por menos flutuação da taxa básica. Se a taxa Selic puder flutuar menos, é melhor. A taxa de juros parada por mais tempo é melhor, mas nem sempre é possível”, disse ele.

    Serra ainda declarou que o objetivo do BC é perseguir a meta de inflação. Para 2022, a meta de inflação é de 3,5%, com intervalo de tolerância de 1,5%.

    “A gente não se amarra em um cenário específico. O objetivo é perseguir meta. Conceitualmente, em regime de metas de inflação, não há limite para a taxa de juros. Estamos sendo cobrados para entregar nosso mandato, não temos que ter receio de persegui-lo”, disse.

    O diretor do BC também afirmou que as estimativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apresentadas no Focus são melhores para prever a inflação futura do que as taxas implícitas. “O Focus é melhor do que inflação implícita para prever inflação futura. O descolamento da inflação implícita da meta é generalizado no mundo. Isso não influencia decisões”, declarou.

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