Caged mostra que mercado de trabalho está resiliente, mas aponta para desaceleração, avaliam economistas
Analistas se surpreendem com os resultados do levantamento de criação de vagas no país, mas ajuste sazonal pode ser um dos motivos
Com referência a abril, o Novo Caged registrou criação líquida de mais 180 mil postos formais de trabalho. Este numero é resultante de 1.865.279 admissões e 1.685.274 desligamentos no mês. O resultado é 12,4% menor que o mês anterior, no qual foram gerados 195.171 postos.
Economistas entrevistados pela CNN atribuem a sazonalidade aos números divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego nesta quarta-feira (31).
Marco Caruso, economista do Banco Original, diz que os dados vieram acima da sua projeção de 110 mil. Para ele, considerando os dados com ajuste sazonal, os desligamentos diminuíram 3,4% e as admissões 9,9%, resultando em uma criação líquida no saldo de vagas que passou de 275,9 mil postos em março para 128,7 mil postos em abril.
A partir do detalhamento setorial, todos os grandes grupos de atividade econômica registraram saldo positivo. O grande destaque ficou por conta dos Serviços (+103 mil). Comércio (+27 mil), Construção Civil (+26 mil), Indústria (+18 mil) e Agropecuária (+2 mil) fecham os grandes grupos.
Caruso esclarece que, em suma, o resultado mostra que o mercado de trabalho continua resiliente mesmo com as condições financeiras adversas. Serviços — o que mais emprega — vem sendo o carro chefe, refletindo as mudanças no pós-pandemia.
“Olhando à frente, segue válida nossa visão de que alguns fatores devem se traduzir em uma perda de ímpeto do mercado de trabalho: uma retomada da taxa de participação, a perspectiva de desaceleração da atividade econômica e o declínio das forças que impulsionaram o setor de serviços. No entanto, os dados resilientes mostram que essa desaceleração será mais lenta.”
Já na visão de Bruno Imaizumi, economista da LCA Consultores, o resultado foi ligeiramente abaixo da sua projeção da LCA, que tinha a mediana de 189,1 mil.
“Considerando dados com ajuste sazonal, as admissões e desligamentos tiveram queda de 9,9% e 3,4% em relação à divulgação anterior e resultaram em uma criação líquida de 128,8 mil vagas, resultado abaixo das 275,9 mil vagas observadas em março e ligeiramente acima dos saldos dos dois primeiros meses do ano.”
O economista da LCA explica que esse movimento de retorno às empresas também contribui para os desligamentos a pedido do trabalhador. Em abril foram registrados 570.071 desligamentos desse tipo — volume 2,9% maior quando comparado a abril de 2022 e chegando a 7,0 milhões no acumulado em 12 meses.
“A crise provocada pela Covid-19 mudou a forma como parte das pessoas se relaciona com o trabalho, especialmente as mais jovens, que parecem buscar equilibrar remuneração e qualidade de vida.”
Mercado de trabalho
Imaizumi pontua que durante os piores momentos da pandemia, muitas pessoas aceitaram empregos de menor remuneração e ainda se observa um movimento de normalização: trabalhadores estão se desligando de seus empregos “provisórios” para serem admitidos em outros mais condizentes com suas qualificações. “O indicador é um sinalizador de que o mercado de trabalho continua, de alguma maneira, aquecido.”
André Cordeiro, economista-sênior do Inter avalia que, apesar de robusto, o resultado foi menor que o observado em março, recuando em 6,7%. Na comparação com abril de 2022, houve redução de 12,4%.
“Tal movimento é fruto da desaceleração, na margem, da atividade econômica devido aos elevados juros. Ainda assim, o mercado de trabalho se mostra aquecido. A taxa de desemprego medida pela Pnad recuou para 8,5%, nível baixo em termos históricos. Além disso, já foram criados mais de 705 mil empregos com carteira assinada em 2023.”
Diante da perspectiva de desaceleração da economia ao longo de 2023, Imaizume diz que espera a evolução mais moderada do mercado de trabalho.
“Nossa perspectiva para 2023 é de um saldo líquido positivo de 1,5 milhão de vagas formais, mostrando desaceleração em relação ao ano passado e condizendo com a nossa perspectiva de crescimento real de 1,7% para o PIB em 2023, que se encontra acima da mediana da pesquisa Focus do Banco Central de 1,26%.”
Remuneração
Com relação aos salários, os rendimentos subiram. O salário médio real de admissão saiu de R$ 1.971,11 em março para R$ 2.015,58 em abril. Já o salário médio real de desligamento saiu de R$ 2.076,07 em março para R$ 2.096,25 em abril.
Cordeiro destaca o aumento no salário médio de admissão, o que, combinado com a queda da inflação, pode ser um impulso positivo à demanda nos próximos meses.
Entretanto, a expectativa é de continuidade de desaceleração no ritmo de contratação, à medida que a contratação no crédito seja mais sentida na atividade real, o que acontece com grande defasagem.
“Porém, não enxergamos tal desaceleração sendo suficiente para gerar destruição líquida de emprego, e a economia brasileira ainda deve encerrar 2023 com uma adição líquida de empregados com carteira assinada.”