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    Brasil não tem mais espaço fiscal para investimento público, diz Frischtak

    Economista da consultoria Inter.B enxerga riscos com a volta do populismo e vê investimento público como realidade apenas se as reformas passarem

    André Jankavski, , do CNN Brasil Business, em São Paulo

     

    Claudio Frischtak, presidente da Inter.B
    Claudio Frischtak
    Foto: Dilvulgação/Inter.B

     O economista Cláudio Frischtak é considerado um dos maiores nomes do Brasil quando o assunto é infraestrutura. Fundador da consultoria internacional de negócios Inter.B e um dos responsáveis pela área de indústria e energia do Banco Mundial durante sete anos, ele não enxerga espaço para o Estado ser o provedor de crescimento no Brasil, algo que está ocorrendo nos Estados Unidos e na Europa.

    Segundo ele, o atual governo também não conseguiu criar uma relação de confiança com investidores e os atuais desmandos do presidente Jair Bolsonaro atrasam ainda mais uma retomada.

    Além disso, o economista não vê espaço fiscal para o Estado conseguir assumir um papel que a iniciativa privada, por receio da pandemia e com o futuro da economia, ainda não quer. O Estado como motor de crescimento, aliás, foi algo que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu em um discurso nesta semana.

    Para 2021, Frischtak enxerga um crescimento de 3% na economia, fruto da herança estatística, que é uma espécie de impulso deixado de herança do último trimestre de um ano para o seguinte. Como a atividade no quarto trimestre foi mais forte do que nos anteriores, mesmo que o resultado trimestral do PIB seja uma estagnação, ainda teremos um PIB positivo. Porém, para crescer acima disso nos próximos anos, será necessário reformas e privatizações.

    Confira a entrevista completa, a seguir.

    O Brasil, atualmente, tem uma taxa de investimento na faixa de 16% do PIB. Economistas acreditam que isso deveria aumentar para, pelo menos 22%. Como fazer para aumentar esse valor?

    Não é algo voluntário. Não basta o governo ter uma decisão de que a taxa vai ser de 22% ou 23%. É necessário criar um ambiente condições básicas para que isso aconteça. Não adianta apenas dizer que investir apenas mais e aumentar gastos do governo. A experiência do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), por exemplo, foi bem ruim. 

    Mas há espaço para aumento dos investimentos públicos, como disse recentemente o ex-presidente Lula? 

    O ex-presidente Lula está errado neste aspecto. Não é que não possamos aumentar os investimentos públicos. É possível, mas o espaço fiscal é apertado. Em tese, você pode aumentar em algumas áreas para diminuir gargalos ou investir com altíssimos retornos sociais. Mas quando ele fez isso no seu primeiro mandato, em 2003, ele teve um plano de fortíssimo ajuste fiscal. O ex-ministro Antônio Palocci e o ex-presidente do Banco Central fizeram um papel brilhante com as suas equipes para ajustar as contas às novas condições. Por isso, as reformas são necessárias.

    No discurso dele, não houve nenhuma palavra sobre ajuste fiscal.

    Ele pode falar de investimento público, mas se ele for eleito a dança vai precisar ser diferente. Qual o espaço que ele tem? O Estado tem limitações claras. Se você não obedece a essas limitações e acredita que basta um ato de mágica e voluntarista, no momento seguinte terá uma disparada ainda maior do dólar. Os juros longos também vão empinar. E isso vai afetar o próprio investimento. Vai ser completamente contraproducente. Já aprendemos isso na prática.

    Como você enxerga a economia em 2021? Teremos uma retomada?

    Acredito que vai ser um ano muito difícil para a nossa economia. Vai ter crescimento por causa de uma herança estatística, que é significativa. Essa herança vai permitir que o Brasil cresça 3%. Mas na ausência dessa herança, vamos ter quase estagnação em 2021. E não está claro o que vai acontecer em 2022. Agora, o presidente Bolsonaro está falando que a arma é a vacina, mas ele deveria ter descoberto isso há seis meses atrás, no mínimo. 

    Há a preocupações de diversos economistas com a volta do populismo. Qual a sua opinião?

    Existe um risco real do populismo. Todos os agentes estão olhando com muito cuidado e as intervenções no Banco do Brasil, Petrobras e todas as oscilações que são efeito disso.

    Estamos vendo uma alta das commodities e uma recuperação de economias globais com investimento estatal, como é o caso dos Estados Unidos. Podemos esperar anos melhores à frente?

    É verdade que esse ano será um ano de recuperação global. A economia americana deve crescer 7% e a China também vai ter uma alta forte. Assim como a União Europeia. Mas, no ano que vem, é provável que teremos arrefecimento depois dessa forte puxada. Mesmo assim, a tendência é de alta. Os preços das commodities devem refletir esse ciclo de recuperação. Para o Brasil é bom, tanto no setor agrícola quanto no de mineração. A nossa economia vai se beneficiar disso.

    Podemos considerar um novo “boom das commodities”, mesmo que em escala menor do início dos anos 2000? Como fazer para aproveitar isso?

    Precisamos voltar à normalidade e o governo precisa ter compostura. Temos que aprovar, sim, um programa fiscal com consistência e com alicerces. A postura do governo é modesta em relação a esse tema. Precisamos aprovar uma reforma administrativa que vale para atuais e novos funcionários públicos. Também é necessária uma reforma tributária. É preciso acabar com as distorções enormes que temos aqui. Precisamos de uma agenda para normalizar as relações com o restante do mundo. Se não, vamos perder esse “boom”. Nós precisamos de um governo normal. 

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