BC projeta menor crescimento de PIB do agro e melhora da indústria e de serviços
Efeitos da La Niña na safra de verão e incerteza da oferta de fertilizantes devem impactar a produção agropecuária deste ano, segundo a entidade monetária
Apesar de manter a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 1% para este ano, o Banco Central (BC) alterou a previsão de produção dos três setores econômicos do país: indústria, agropecuária e serviços.
De acordo com o Relatório de Inflação, divulgado nesta quinta-feira (24), as consequências econômicas da guerra na Ucrânia, a inflação e a estiagem que afeta a safra de verão serão fatores determinantes para o cenário econômico em 2022.
Agropecuária
O setor da agropecuária, já afetado pela falta de chuvas na região Sul do país, seguirá enfrentando as consequências da baixa produção.
Segundo Felippe Serigati, coordenador do mestrado profissional em Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV), as dificuldades de crescimento do setor se dão principalmente por conta da incerteza em torno da oferta de fertilizantes e dos efeitos climáticos da La Niña.
“Presenciamos uma La Niña clássica, com seca nas partes sul do hemisfério Sul, e excesso de chuva na porção Norte. Estamos encerrando a safra de verão, que é a principal para o país, e a região Sul também foi fortemente prejudicada devido à falta de chuvas”, disse.
“Aquela safra mais robusta que imaginávamos em outubro foi frustrada, mas não tão fortemente, pois tivemos um volume de chuva razoável na região Centro-norte”, acrescentou o professor.
Serigati explicou que a safra de inverno pode ser melhor. Segundo ele, o plantio já começou favorável em termos de chuvas, mas o conflito no leste europeu ainda pode criar desafios para o agro.
“O principal ponto é a incerteza sobre a oferta dos fertilizantes. Não adianta o conflito acabar em julho e embarcar os fertilizantes, porque precisa de tempo para ele ser aplicado na produção”, afirmou.
“E não é apenas isso, tem a questão do preço. Vamos supor que os fertilizantes sejam liberados a tempo, mas a que custo? Porque dependendo do valor, não compensa. Você aplica o fertilizante porque ele aumenta a produtividade, mas se ele for muito caro, a relação de troca não faz sentido”, completou.
Indústria
Apesar de ter um reajuste positivo de crescimento, a indústria brasileira terá apenas uma perda menor, segundo o próprio Banco Central.
De acordo com Felippe Serigati, o aumento dos preços de frete, por conta da alta do petróleo, e as incertezas no abastecimento ainda afetam o setor industrial.
“O principal fator pode ser o aumento de custo da cadeia logística de suprimentos, principalmente o aumento no preço do petróleo. Isso consequentemente afeta o custo de produção. Mas temos também outros fatores, como a indefinição sobre o abastecimento por falta de peças, partes e componentes. Por mais que o empresário tenha estoque, não se sabe quanto tempo irá durar”, destacou.
Serviços
O setor de serviços foi afetado positivamente pelo fim das restrições impostas devido à pandemia e pelo aumento da circulação de pessoas.
Ainda assim, o economista Fabio Bentes, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, pondera que as categorias do setor certamente terão um aumento nos preços e uma queda no consumo, graças à inflação.
“O relatório de inflação normalmente tem uma ideia um pouco mais otimista, mas me surpreendeu a curva do setor de serviços estar imbicando para cima. Ainda temos o problema da deterioração econômica, que afeta o poder de compra da população”, disse.
“A inflação do setor ainda está abaixo da média, em 6%, mas ainda com a previsão do aumento dos custos para o segundo semestre deste ano”, acrescentou o economista.
Por fim, o professor da FGV Felippe Serigati disse acreditar que o Brasil será uma das economias mundiais menos afetadas pela guerra na Ucrânia.
O professor explica que o país tem forte influência das exportações de commodities, que estão sofrendo um processo de valorização no mercado internacional.
Outro fator favorável é a valorização do real, já que o câmbio atingiu a casa dos R$ 4,83 nesta quinta-feira (24), o menor valor dos últimos dois anos.