Banco Central descarta risco para estabilidade do sistema financeiro mesmo após caso Americanas
Testes de estresse, inclusive um específico com a varejista, indicam que setor bancário se mantém resiliente
O Banco Central (BC) avaliou nesta quarta-feira (10), por meio do Relatório de Estabilidade Financeira (REF) do segundo semestre de 2022, que os resultados das análises realizadas continuam indicando que não há risco relevante para a estabilidade financeira no Brasil.
“Os testes de estresse de capital e de liquidez demonstram que o sistema bancário se mantém resiliente. O Sistema Financeiro Nacional (SFN) permanece com capitalização e liquidez confortáveis e provisões adequadas ao nível de perdas esperadas”, disse o documento divulgado nesta quarta.
Segundo o BC, o sistema bancário permanece com liquidez confortável para manter a estabilidade financeira e o regular funcionamento do sistema de intermediação.
O órgão afirmou que permanece a tendência de convergência das taxas de captação praticadas pelos diferentes segmentos bancários, o que reflete a maior concorrência por funding, inclusive via plataformas.
Em relação à base de capital, o regulador do sistema financeiro avaliou que continua sólida. O Índice de Basileia atingiu 16,0% em dezembro de 2022, contra 16,1% em junho. No Brasil, o índice a ser obedecido é de 8%.
“A capitalização permanece confortavelmente acima dos mínimos regulamentares. A margem de capital regulatório não é restrição para a expansão da oferta de crédito de forma sustentável”, avaliou o BC.
Caso Americanas
O Banco Central afirmou também nesta quarta-feira que o teste de estresse realizado devido à crise da varejista Americanas demonstra impacto “irrelevante” na solvência do sistema bancário, que, segundo a autarquia, segue resiliente.
“Em decorrência do caso Americanas, efetuou-se teste de estresse específico considerando eventual default dessa empresa e da rede de fornecedores que dela dependem de forma relevante. O resultado desse teste demonstra impacto irrelevante na solvência do sistema bancário”, disse o BC no REF, que também citou eventos vividos em 2023.
A Americanas entrou em recuperação judicial após revelar no início deste ano inconsistências contábeis da ordem de R$ 20 bilhões.
Segundo o documento, “análises realizadas pelo BC continuam indicando não haver risco relevante para a estabilidade financeira”, em meio a “elevado apetite ao risco” de instituições financeiras, apesar de uma desaceleração do crescimento da oferta de crédito.
Ainda assim, a autarquia apontou que a crise da Americanas provocou aumento no custo do crédito via mercado de capitais e uma postura mais rigorosa das instituições financeiras nas operações de risco sacado.
“Considerando esse acontecimento e o ambiente de elevados comprometimento de renda e endividamento das famílias e de redução da capacidade de pagamento das empresas, 2023 inicia acentuando a redução do ritmo de crescimento”, afirmou o BC.
“A percepção de desaceleração da economia e de resiliência do sistema financeiro nacional está em linha com a opinião dos agentes do mercado financeiro”, acrescentou.
Ao mesmo tempo, a autarquia afirmou que a materialização de risco, embora tenha arrefecido no segundo semestre de 2022, deve permanecer elevada no médio prazo.
“Critérios de concessão mais restritivos em modalidades mais arriscadas refletiram em arrefecimento da materialização de risco no crédito às famílias. Contudo, o crédito contratado por (pessoas físicas) com critérios menos restritivos ainda não se maturou completamente”, explicou o Banco Central.
Em linha com o aumento da materialização de risco, as provisões aumentaram e permanecem acima das perdas esperadas, acrescentou a autoridade monetária, o que, por sua vez, fez cair a rentabilidade do sistema bancário.
Segundo o BC, “o sistema bancário permanece com liquidez confortável para manter a estabilidade financeira e o regular funcionamento do sistema de intermediação”, enquanto “a base de capital permanece sólida”.
O relatório mostrou ainda avaliação da autarquia de que testes de estresse de liquidez indicam que o sistema bancário “mantém ativos líquidos suficientes para absorver potenciais perdas em cenários estressados”.
*Com informações da Reuters