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    Batalha da China contra variante Ômicron pode custar caro à economia

    À medida que o resto do mundo aprende a conviver com o vírus, economistas dizem que a estratégia de "Covid-zero" do país provavelmente fará mais mal do que bem

    Laura Hedo CNN Business* , em Hong Kong

    A insistência inabalável do governo chinês em eliminar qualquer vestígio do coronavírus está enfrentando seu maior teste até agora, enquanto autoridades lidam com a disseminação acelerada da Ômicron – e pode custar caro à segunda maior economia do mundo este ano.

    A variante da Covid-19 vem aparecendo em toda a China nos últimos dias, inclusive nas principais cidades portuárias como Dalian e Tianjin, provocando restrições que podem prejudicar as operações comerciais nesses locais.

    O resto do mundo também está lidando com a Ômicron, embora o caso da China seja diferente por causa da intenção das autoridades em impedir qualquer surto generalizado, bloqueando cidades e restringindo viagens.

    A abordagem estrita até agora tem sido eficaz: a China registrou muito menos casos de Covid-19 do que muitas outras nações durante a pandemia, e sua economia foi a única grande a crescer em 2020.

    A Ômicron, porém, ameaça expor algumas falhas graves nesse plano. A variante é muito mais transmissível que as outras, dificultando sua contenção.

    E, à medida que o resto do mundo aprende a conviver com o vírus, os economistas dizem que a estratégia de tolerância zero da China provavelmente fará mais mal do que bem em 2022.

    O Goldman Sachs, por exemplo, acaba de reduzir sua projeção de crescimento econômico chinês em 2022 de 4,8% para 4,3%. Isso é cerca de metade da taxa de crescimento do ano passado.

    Essas revisões vêm “à luz dos últimos desenvolvimentos da Covid – em particular, o nível médio mais alto de restrição (e, portanto, de custo econômico) para conter a variante Ômicron, mais infecciosa”, escreveram analistas do Goldman em uma nota de pesquisa na última terça-feira (11).

    O Morgan Stanley está adotando uma visão semelhante de que a Ômicron pode significar que os custos de uma abordagem Covid-zerp superam os benefícios.

    Na semana passada, analistas previam um crescimento de 4,9% no primeiro trimestre, mas suspeitam que possa desacelerar para 4,2% “se a Ômicron se espalhar para outras regiões e levar a vários bloqueios em toda a cidade”.

    Os analistas citaram uma “interrupção mais profunda nos serviços” como um dos principais riscos para a China, se o país estender as medidas de contenção a várias cidades.

    Isso marcaria a tentativa mais grave e generalizada da China de conter o coronavírus desde abril de 2020, quando suspendeu o bloqueio maciço em Wuhan, o epicentro original do vírus.

    Ameaças às cadeias de suprimentos

    Junto com o precário setor de serviços do país, que já está lutando por causa de surtos esporádicos de Covid e medidas antivírus, a Ômicron pode dar um golpe nas fábricas e cadeias de suprimentos, agravando a ameaça econômica.

    Um surto da variante Delta, a mais antiga, forçou o centro industrial de Xi’an a fechar no início deste ano, afetando as linhas de produção de fabricantes globais de chips como Samsung e Micron.

    Além disso, há os casos de Ômicron detectados nas principais cidades portuárias. O congestionamento de navios nos portos chineses piorou recentemente, à medida que mais cidades implementam restrições rigorosas à Covid por causa dos surtos, ou à medida que reforçam as políticas de testes antes do feriado do Ano Novo Chinês, a partir de 31 de janeiro.

    O terminal Shekou em Shenzhen, por exemplo, começou a restringir os caminhoneiros que trazem contêineres carregados.

    A partir da próxima sexta-feira (21), os caminhoneiros só podem entrar no terminal se tiverem reservas para contêineres com destino à exportação em navios que cheguem em três dias, disse a operadora em comunicado nesta semana.

    As restrições ecoam as do ano passado, quando vários portos chineses fecharam brevemente depois que as infecções foram encontradas em quantidade de trabalhadores portuários.

    Esses problemas criaram acúmulos de contêineres esperando para sair e navios esperando para atracar – e aumentaram a pressão sobre as tensas cadeias de suprimentos globais.

    Até agora, não parece ter havido um impacto duradouro no comércio. Dados alfandegários divulgados na última sexta-feira (14) mostraram que as exportações aumentaram 21% em dezembro em relação ao ano anterior, superando as expectativas.

    O superávit comercial do país foi de US$ 676 bilhões em 2021, um recorde histórico.

    Isso indica que a estratégia da China pode realmente estar ajudando: os pedidos de exportação podem ter sido transferidos para a China de outros países em desenvolvimento por causa do “dano da Omicron à cadeia de suprimentos global”, de acordo com Zhiwei Zhang, economista-chefe da Pinpoint Asset Management.

    Mesmo assim, há riscos – especialmente se a China impor um bloqueio nacional.

    “Embora a última onda de vírus da China não pareça ter prejudicado muito as exportações em dezembro, os relatos da mídia apontam para um crescente congestionamento e atrasos ligados ao vírus em vários dos principais portos chineses desde o início do ano”, escreveu Julian Evans-Pritchard, economista sênior da China para Capital Economics, em uma nota de pesquisa de sexta-feira.

    “Com casos surgindo em ainda mais cidades portuárias nos últimos dias, incluindo Dalian e Xangai, a situação provavelmente piorará no curto prazo, reduzindo os embarques este mês”.

    Mantendo o curso, a um preço

    A China provavelmente não deixará de lado sua abordagem “Covid-zero” por um tempo. O motivo: a vacina Sinovac Covid-19 do país não é tão eficaz quanto outras contra a variante, de acordo com relatórios recentes.

    “A população praticamente não tem anticorpos contra o Ômicron”, escreveram executivos do Eurasia Group em um relatório publicado no início deste mês.

    “Manter o país fechado por dois anos tornou mais arriscado abri-lo novamente.”

    Juntamente com as preocupações com a saúde de sua população, um punhado de eventos significativos e futuros provavelmente convencerão Pequim a manter o curso.

    O país sedia os Jogos Olímpicos de Inverno de 2022 em fevereiro, tornando a contenção da Ômicron importante no curto prazo.

    Espera-se também que o presidente chinês Xi Jinping busque um terceiro mandato histórico quando o Partido Comunista Chinês realizar seu 20º Congresso do Partido no segundo semestre deste ano, ressaltando a necessidade de estabilidade nesse meio tempo.

    Ainda assim, o custo econômico de conter uma variante agressiva pode ser grande.

    Analistas da Nomura escreveram esta semana que as vendas no varejo e outros serviços podem sofrer um grande impacto se houver mais bloqueios, acrescentando que os benefícios do Covid-zero estão “provavelmente diminuindo enquanto os custos aumentam”.

    Eles preveem um crescimento do PIB de 2,9% para o primeiro trimestre e 4,3% para todo o ano de 2022.

    Enquanto isso, o presidente do Eurasia Group, Ian Bremmer, e o presidente Cliff Kupchan, rotularam o fracasso da política de Covid-zero da China como o principal risco geopolítico global para 2022, sugerindo que um colapso poderia levar a surtos maiores, bloqueios mais severos e maiores perturbações econômicas.

    “É o oposto de onde Xi Jinping quer que seu país esteja no período que antecede seu terceiro mandato, mas não há nada que ele possa fazer sobre isso”, escreveram em sua previsão deste mês.

    “O sucesso inicial do Covid-zero e o apego pessoal de Xi a ele tornam impossível mudar de rumo.”

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