Associações comemoram reabertura em SP, mas aguardam dificuldades na retomada
Entre os problemas estão a falta de confiança (e de renda) dos consumidores, os caixas combalidos das companhias e o avanço da pandemia
O anúncio de uma abertura gradual em São Paulo a partir de 1º de junho animou varejistas e associações comerciais de São Paulo, mas todos esperam por dificuldades assim que as lojas reabrirem. Entre os problemas estão a falta de confiança (e de renda) dos consumidores, os caixas combalidos das companhias, especialmente das pequenas, e a velocidade da retomada, caso o pico da Covid-19 insista em não cair.
Na visão de Francisco De La Tôrre, vice-presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), a decisão de reabertura pode até trazer uma tranquilidade para os negócios voltarem a funcionar, mas o impacto econômico causado pela doença ainda será muito sentido pelos comerciantes.
A FecomercioSP usa uma estimativa para apresentar o seu ponto de vista. Segundo a federação, o prejuízo do setor, entre março e maio, deve ser R$ 44 bilhões – o que dá uma perda diária de quase R$ 660 milhões. “O governo de São Paulo disponibilizou R$ 650 milhões em crédito pelo Banco do Povo e isso não cobre nem mesmo um dia de prejuízo do faturamento no setor”, diz De La Tôrre.
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Por isso, na visão do executivo, é essencial que o governo do estado e o governo federal anunciem mais pacotes de socorros para a empresa. “O governo federal pode assumir risco dos empréstimos por meio do BNDES ou outros bancos, já que os bancos privados não querem esse risco”, diz ele.
Outro problema da reabertura é o medo. Muitos varejistas estão preferindo não voltar ao trabalho normal por receio do avanço do vírus ou até mesmo da possibilidade em aumentar os seus custos sem necessariamente ter um incremento relevante no faturamento.
O caso dos shoppings é um exemplo para isso. O presidente da Associação Brasileira de Shoppings Centers (Abrasce), Glauco Humai, disse que já há 155 shoppings de portas abertas no Brasil, principalmente no interior. A reabertura, porém, não acontece a todo vapor – 30% dos lojistas preferiram continuar fechados.
O restante dos lojistas preferiu temporariamente não abrir – como grandes nomes como Magazine Luiza –, uma parte ainda não conseguiu porque faltam funcionários ou estoque e, por fim, uma parte dos comerciantes quebrou desde o início da pandemia.
“Mas é uma pequena parcela desses que não voltaram”, diz o presidente da Abrasce.
Tem que combinar com os consumidores
Apesar da vontade de diversos comerciantes, a reabertura, não necessariamente traz retornos rápidos ao faturamento. Atualmente, o movimento de pessoas nos shoppings, por exmeplo, está em torno de 50% do considerado normal e o volume de vendas está entre 40% e 50%”, segundo Humai. Em cidades em que a reabertura já ocorreu há mais tempo, como Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, o fluxo já está perto de 75% do considerado normal e as vendas alcançam 65%.
E o consumidor, caso volte para as lojas, também tem um jeito diferente de gastar.
“Passou a ser um cliente muito mais assertivo. Se antes da pandemia o consumidor médio costumava gastar, na média, 76 minutos por visita no shopping, os empreendimentos que reabriram agora observam média de apenas 25 minutos por visita. “É um consumidor mais direto, que vai diretamente para a loja”.
Além disso, há o caso do aumento do desemprego e, consequentemente, a diminuição da renda dos brasileiros. Essa é uma preocupação de Alfredo Cotait, presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
Embora tenha visto com bons olhos a iniciativa dos governos de São Paulo, Coitat alerta para um ponto importante – e de preocupação – a perda da renda dos consumidores, motivadas pela perda de vagas formais (só no mês de abril, 860 mil vagas formais de trabalho foram fechadas, de acordo com o Caged), poderá manter o movimento baixo e lento.
“Será que as condições do mercado e os consumidores ajudarão estas empresas a funcionar? É o que vamos monitorar a partir de agora. Não tenho uma expectativa muito otimista em relação à isso, principalmente pela perda de renda”, afirma.
Para tentar diminuir o impacto da crise motivada pelo novo coronavírus, o presidente da entidade comenta que campanhas que incentivam a população a consumir de produtores do bairro, ou cupons – para desconto ou de compras para o futuro – poderão contribuir para esquentar o mercado.
“Iniciativas de incentivo ao comércio continuarão sendo feitas, assim como a readaptação do lojista, que deverá continuar apostando em iniciativas digitais para atração do consumidor.”
Cotait, no entanto, está mais animado do que desanimado com a reabertura. A ACSP, inclusive, defendia uma retomada das atividades no dia 1º de maio.
“A reabertura econômica é uma importante sinalização não só para a cidade ou estado de São Paulo, mas para o país”, diz o presidente da entidade. “A retomada é fundamental para dar alento ao comerciante.” A questão é saber se a pandemia, que segue em viés de alta em número de infectados e mortos, não freará essa retomada.