Após corte de juros do Fed, expectativas sobre decisão do BCE em outubro crescem
O BCE já cortou os juros em junho e neste mês, e muitos no banco central têm sugerido que haverá cortes trimestrais e constantes para garantir que a inflação seja controlada de forma duradoura
O corte de 50 pontos-base na taxa de juros pelo Federal Reserve na quarta-feira (18) aumentou as apostas de mais afrouxamento da política monetária do Banco Central Europeu (BCE) em outubro, mas esse ainda não é o movimento mais provável, dadas as diferentes realidades econômicas.
O BCE já cortou os juros em junho e neste mês, e muitos no banco central têm sugerido que haverá cortes trimestrais e constantes para garantir que a inflação seja controlada de forma duradoura.
Embora a aparente pressa do Fed dê algum apoio aos argumentos de que o BCE está ficando para trás em relação aos riscos crescentes de recessão, os fundamentos econômicos não mudaram da noite para o dia, de modo que os membros “hawkish” (mais agressivos no combate à inflação) do Conselho do BCE podem argumentar a favor da espera até dezembro.
“A afirmação de que o BCE precisa cortar em outubro por causa do que o Fed fez é um argumento ridículo que não será aceito pelo Conselho do BCE”, disse Dirk Schumacher, economista da Natixis.
“A única maneira de argumentar isso é dizer que (o corte do Fed) mudará os dados da zona do euro, o que pode ser o caso, mas ainda não vimos isso.”
Isso também se reflete na precificação do mercado, que agora vê 35% de chance de um corte de 25 pontos-base na taxa de depósito em outubro, ante 30% há um dia, uma mudança pequena, mas ainda assim notável, que deixa dezembro como a data mais provável para uma nova ação do BCE.
É provável que o BCE vá mais devagar do que o Fed porque tem muito menos a fazer.
O banco central da zona do euro tem cinco ou seis cortes de 25 pontos-base para fazer até atingir uma taxa “neutra” em torno de 2,0% ou 2,25%, de acordo com várias estimativas que incluem a do próprio BCE.
O Fed, por sua vez, tem provavelmente oito reduções desse nível até lá, de modo que os dois principais bancos centrais do mundo ainda podem chegar ao ponto final da política de afrouxamento ao mesmo tempo.
Além disso, há os fundamentos.
A inflação da zona do euro, atualmente em 2,2%, poderá subir para 2,5% até o final do ano e, provavelmente, cairá lentamente para 2% até as últimas semanas de 2025, uma vez que as pressões salariais arraigadas aumentam os custos dos serviços.
“A inflação atualmente não está onde queremos que esteja”, disse o chefe do banco central alemão, Joachim Nagel, na quarta-feira.
Os membros “hawkish”, que conduziram uma série recorde de aumentos de juros em 2022 e 2023, provavelmente ainda serão maioria e é por isso que os mercados não estão reavaliando os movimentos do BCE após a decisão do Fed.
Já os membros menos conservadores, principalmente do sul da Europa, argumentam que o crescimento está vacilando, a indústria está em recessão, o consumo é fraco e as pessoas estão ampliando suas poupanças, talvez por medo de uma retração econômica.
Esses fatores são todos deflacionários e criam riscos negativos para o aumento dos preços.