Após alta na pandemia, empregos para pessoas com deficiência têm cenário incerto nos EUA
Participação dessa fatia da população no mercado de trabalho cresceu 30%
A Covid-19 mudou a trajetória da carreira jurídica de Lucy Trieshmann. Com síndrome de Ehlers-Danlos, uma rara doença hereditária, as aulas de direito presenciais eram insuportáveis a menos que Trieshmann passasse uma parte do tempo deitada no chão.
Após os lockdowns em março de 2020, muitas aulas passaram a ser on-line e, em pouco tempo, Trieshamn pegou embalo assistindo-as de casa e acabou recebendo uma bolsa da União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU, na sigla em inglês) que previa o trabalho remoto.
“Consegui comparecer ao tribunal de habitações de Nova York representando os clientes e ter energia para eles porque eram remotos”, disse Trieshmann, que usa os pronomes ela/elu.
Trieshmann está entre os quase dois milhões de norte-americanos com deficiência que conseguiram emprego ou começaram a procurar por um desde dezembro de 2019, segundo dados do Departamento de Estatísticas Trabalhistas.
É um aumento sem precedentes de 30% em participação na força de trabalho de um grupo que, antes da pandemia, tinha quatro a cada cinco indivíduos com deficiência afastados do mercado, uma taxa que agora baixou para três a cada quatro.
A participação na força de trabalho de pessoas com deficiência aumentou com o número de pessoas identificadas com deficiência pelos dados do departamento na população mais ampla dos EUA, impulsionado, segundo especialistas, por uma auto-identificação maior de indivíduos com doenças mentais debilitantes e Covid longa.
Para muitos, a abundância de opções de trabalho remoto durante a pandemia abriu oportunidades de emprego que durante muito tempo estiveram fechadas para eles. Um mercado de trabalho forte também ajudou.
“Um mercado de trabalho apertado aumenta oportunidades para todos e o trabalho de casa ou trabalho remoto meio que expandiu as oportunidades para alguns segmentos de trabalhadores com deficiência e fortaleceu suas oportunidades de emprego”, disse Andrew Flowers, um economista do trabalho da Appcast, empresa de recrutamento digital.
Com mais empregadores pressionando por políticas de retorno ao trabalho presencial no começo de 2024, isso pode significar que esses ganhos estão em um ponto de inflexão. De fato, embora os dados do departamento suavizados em um período de seis meses mostrem uma tendência de alta, os números para três meses começarem a se estabilizar.
Quanto tempo vai durar?
Alguns dados recentes mostram que o embalo dos empregos para trabalhadores com deficiência está diminuindo, e alguns economistas e especialistas dizem que eles podem encontrar um cenário diferente em 2024.
Para começar, um relatório da Resume Builder mostrou que 90% das empresas planejam aplicar políticas de retorno ao trabalho presencial até o fim de 2024, o que pode ressuscitar uma barreira pré-Covid para muitos.
Para manter pessoas com deficiência empregadas, a diretora sênior de política da RespectAbility, Stacy Cervenka, diz que o governo federal e agências públicas precisam agir como empregadores modelos e estabelecer diretrizes que sejam inclusivas ao trabalho remoto.
Algumas pessoas com deficiência em busca de empregos, como Trieshmann, agora procurando um posto de trabalho como advogada após completar a bolsa da ACLU em dezembro, dizem que estão começando a sentir os efeitos das políticas de retorno ao trabalho presencial.
Após inicialmente receber uma proposta de emprego ano passado e viajar para se reunir com os entrevistadores pessoalmente, Trieshmann disse que a oferta foi revogada.
“As pessoas estão fazendo perguntas inadequadas, questionando minhas capacidades básicas para o emprego por causa da minha deficiência — embora minha deficiência seja exatamente a razão pela qual me tornei advogada e o que me motiva a fazer esse trabalho”, disse Trieshmann.