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    Apesar de otimismo aparente, ressaca de 2020 na economia está longe de acabar

    Cadeia de abastecimento global está um desastre, Europa e Ásia vivem uma crise energética e EUA ainda precisa resolver conflito do teto da dívida

    Allison Morrowdo CNN Business* , Nova York

    Apesar das boas notícias sobre as vacinas contra a Covid-19, uma recuperação econômica sólida e um otimismo aparentemente ilimitado em Wall Street, não estamos nem perto de ter resolvido os problemas.

    A cadeia de abastecimento global está um desastre. A Europa e a Ásia estão enfrentando uma escassez de energia potencialmente paralisante. E o impasse partidário do governo dos Estados Unidos em relação ao teto da dívida está longe de estar resolvido.

    Tudo isso coloca a economia global em um aperto do qual não estaremos livres tão cedo.

    “Há tanta incerteza hoje quanto havia em março de 2020, quando a pandemia estava começando”, disse Mike O’Rourke, estrategista-chefe de mercado da Jones Trading. A única diferença agora, diz ele, é que os investidores estão nadando em um dinheiro fácil que lhes permite ignorar as más notícias.

    Caos na cadeia de suprimentos

    O governo Biden está fazendo o que pode. Na quarta-feira, a Casa Branca anunciou uma “corrida de 90 dias” para desobstruir o congestionamento dos portos, colocando o porto de Los Angeles em funcionamento 24 horas por dia e incentivando o setor privado a expandir suas operações noturnas.

    A mudança para o horário integral, porém, é algo simples, disse Geoff Freeman, CEO da Consumer Brands Association. Os portos no exterior operam dessa forma há meses.

    O problema é muito mais profundo do que esses gargalos. Os motoristas de caminhão, por exemplo, estão sendo muito procurados em quase todos os lugares, tanto quando os caminhões, que dependem de chips de computador, que têm – como você pode imaginar – uma fila de espera para entregas até o fim dos tempos.

    A maioria dos executivos financeiros espera que os problemas de abastecimento durem até pelo menos 2022, se não mais tarde, de acordo com uma pesquisa divulgada na quinta-feira pela Duke University.

    Preços em alta

    Tudo isso está elevando os preços. Não é preciso um Ph.D em economia para perceber isso, e mesmo assim os banqueiros centrais e economistas ainda continuam chamando os aumentos de “transitórios”.

    O Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, já usou tanto o termo que ele praticamente perdeu todo o significado.

    Na quarta-feira, a declaração oficial do Fed foi: “A equipe continua esperando que o aumento da inflação neste ano se mostre transitório.” No mesmo dia, o governo divulgou dados mostrando que o índice de preços ao consumidor do país subiu 5,4% em setembro em relação ao ano anterior.

    A linha “transitória” do Fed parece muito otimista para pessoas cujo trabalho é manter a inflação em torno de 2%.

    Como se tudo isso não fosse difícil o suficiente para os consumidores, o inverno está chegando no hemisfério norte e o mundo está enfrentando uma escassez aguda de energia.

    As famílias americanas podem esperar gastar 54% mais com propano, 43% mais com óleo para aquecimento doméstico, 30% mais com gás natural e 6% mais com aquecimento elétrico, disse a Agência de Informação de Energia dos Estados Unidos na quarta-feira.

    Os aumentos são ainda mais dramáticos na Europa, onde os preços da eletricidade no atacado aumentaram 200% em relação à média de 2019, de acordo com a Comissão Europeia. Os preços do carvão na China estão em níveis recordes e blecautes para conservar energia já começaram.

    E apenas para manter as coisas interessantes, os legisladores dos EUA estão flertando com um desastre financeiro.

    O presidente Biden assinou na sexta-feira uma suspensão do teto da dívida de curto prazo, evitando um calote iminente da dívida dos EUA. Mas o Tesouro diz que o acordo só levará o país até 3 de dezembro, estabelecendo mais um confronto para republicanos e democratas.

    É difícil calcular o quão devastador seria um calote. A perda de milhões de empregos anularia todos os ganhos que o mercado de trabalho obteve desde o choque da pandemia e os mercados de crédito paralisariam. Os pagamentos dos funcionários federais, os benefícios do Medicare [programa de plano de saúde do governo dos EUA] , os salários de militares e outras contas seriam suspensas.

    “Ninguém seria poupado”, disse Maya MacGuineas, presidente do Comitê para um Orçamento Federal Responsável, à CNN no mês passado. “Seria um desastre auto-imposto do qual não nos recuperaríamos, e em um momento em que nosso papel no mundo já está sendo questionado.”

    Cegueira em Wall Street

    Diante de tanto risco, você pode se perguntar por que Wall Street parece tão despreocupada. Apesar da volatilidade recente, o S&P 500, a medida mais ampla das bolsas de Nova York, subiu mais de 18% neste ano.

    Os investidores odeiam a incerteza, mas amam mais o dinheiro fácil. “São US$ 10 trilhões de estímulo fiscal e monetário injetados em uma economia de US$ 22 trilhões”, disse O’Rourke, da Jones Trading.

    Todo esse dinheiro neutralizou os sinais que os investidores poderiam receber de que o problema está acontecendo.

    “Há muita liquidez e todos se sentem tão confortáveis com isso que estão ignorando as notícias e os riscos, por enquanto”, disse O’Rourke. “Mas é improvável que ignorem para sempre.”

    Isso porque o Fed planeja começar a pisar no freio em suas políticas de dinheiro fácil, provavelmente no mês que vem.

    O medo de ficar de fora é outro sentimento poderoso que mantém os mercados de ações em alta. Os investidores estão bem cientes de que a festa não pode durar para sempre, então eles vão enlouquecer enquanto podem.

    Estamos em uma “bolha enorme”, de acordo com O’Rourke. E é difícil, senão impossível, prever quando ela vai estourar.

    *Com reportagem adicional de Matt Egan e Paul R. La Monica

    (Matéria traduzida, clique aqui e leia a original em inglês) 

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