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    Altos custos com cuidados infantis dificultam participação das mulheres no mercado de trabalho, diz estudo

    EUA é o país mais caro para creches e apresenta uma taxa de participação do público feminino ainda baixa

    Síntese de Indicadores Sociais 2023 do IBGE mostra que 71% das mulheres estavam fora da força de trabalho
    Síntese de Indicadores Sociais 2023 do IBGE mostra que 71% das mulheres estavam fora da força de trabalho Freepik

    Marien Ramosda CNN*

    São Paulo

    O aumento nos custos dos cuidados infantis ao redor do mundo dificulta a entrada das mulheres no mercado de trabalho, revela estudo do Bank of America (BofA).

    A taxa de participação feminina na faixa dos 15 a 64 anos nos EUA se encontra abaixo da média de 70,7% dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), com 69% em 2022.

    No Brasil, essa fotografia não é muito diferente. A Síntese de Indicadores Sociais 2023 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que 71% das mulheres estavam fora da força de trabalho — ou seja, aquelas que nem trabalham, nem estão em busca de ocupação.

    O banco americano afirmou que esse cenário “deve-se, na nossa opinião, potencialmente aos elevados custos com cuidados infantis”.

    A falta estruturas de acolhimento de crianças a preços acessíveis “tem sido provavelmente, há muito tempo, um dos principais impulsionadores da disparidade de gênero na força de trabalho”, acrescentou o BofA.

    Os pagamentos de cuidados infantis de uma família cresceram 26% no ano passado e 32% em janeiro de 2024, em relação à média de 2019, dizem dados internos da Bank of America.

    Globalmente, esse aumento foi de 5% nos preços médios das creches, sendo que os Estados Unidos, a Suíça e o Reino Unido são os países mais caros, conforme dados da ECA Internacional, em 2023.

    Isso se soma a que, tradicionalmente, a responsabilidade pelo bem-estar das famílias recai sobre a fatia feminina da população, e sem uma rede de apoio, as mulheres não conseguem se inserir nas suas carreiras, deixando o crescimento da força de trabalho dessa parte da sociedade estagnada, explica o estudo.

    Cenário que exclui mulheres e reforça estereótipos

    O Instituto brasileiro confirma a análise, o qual mostra que homens conseguem fazer uma melhor transição escola-trabalho do que as mulheres, já que elas são as principais responsáveis pelos afazeres domésticos e cuidado de parentes.

    O impacto é agravado pela crescente inflação global e pela pandemia, explica Ana Claudia Plihal, executiva de soluções de talentos do LinkedIn Brasil.

    As maiores variações de preços se encontram no ensino médio (8,58%), ensino fundamental (8,23%), pré-escola (8,14%) e creche (5,91%) — lugares suporte nos cuidados infantis por um período ao dia, indicou o IPCA-15 divulgado na terça-feira (27).

    Dessa forma, a proporção de crianças no sistema educacional ainda se encontra abaixo do previsto pelo Plano Nacional de Educação (PNE). São apenas 35,9% dos bebês de 0 a 3 anos matriculados nas creches e 74,6% daqueles com 4 a 5 anos na pré-escola, diz um estudo do FGV.

    A executiva afirma que “considerando o aumento do custo de vida e incertezas econômicas em todo mundo, são elas que enfrentam a maior pressão para gerenciar o lar e assumir a liderança na chamada Economia do Cuidado”.

    Mas, nem sempre foi assim. O BofA analisa que após a Segunda Guerra Mundial, as mulheres entraram cada vez mais na força de trabalho dos EUA.

    Já ao longo deste século, esse crescimento está estagnado. Na pandemia do Covid-19, o Gabinete Nacional de Investigação Econômica explica que esse movimento se deu pelo público feminino se concentrar em áreas mais afetadas, como o de serviços.

    Além do “aumento das necessidades de cuidados infantis causado pelo encerramento de escolas e creches”. Depois da pandemia, esses números ainda estão se recuperando.

    Impacto econômico e social

    Ana Paula Hornos, psicóloga e educadora financeira, afirma haver uma perda de 1% a 5% do PIB anual nos EUA e na comunidade europeia por conta da baixa da perda da participação feminina no mercado de trabalho.

    “Se a gente fizer um paralelo com o Brasil nesse mesmo percentual, a gente está falando de bilhões de reais”, acrescenta.

    De acordo com o Bank of America, as pessoas com compromissos de cuidados infantis têm mais dificuldade em manter um emprego contínuo, afetando a renda por um período de três meses em média.

    Os serviços de cuidado infantil tomam 20% ou mais de renda familiar de 60% dos pais, conclui o Relatório de Custo de Cuidados de 2024 da Care.com.

    A perda não é somente econômica, “quando ela não tem a possibilidade de desempenhar um trabalho que ela tenha motivação, que ela goste (…) e também que não tem a remuneração, ela perde parte da sua própria identidade, da sua autoestima, da sua autoconfiança”, explica Ana Paula.

    No seu consultório de atendimento, a psicóloga aponta que existe uma diferenciação de gênero entre os adolescentes de 15 a 18 quando o assunto é o futuro trabalho.

    Os meninos esperam trabalhar intensamente, já as meninas respondem querer “trabalhar moderadamente, porque eu quero equilibrar família e a vida profissional”, diz.

    A pesquisa “Mulheres empreendedoras: contexto de atuação” realizada pela startup Olhi, em 2023, já relatou que as mulheres que empreendem estão mais sobrecarregadas, acumulando as tarefas de gestão e as domésticas, e por isso encontram mais dificuldades para se dedicar aos seus negócios.

    Ela ainda ressalta que a superação dessas dificuldades passa por uma discussão de empoderamento nas redes sociais, família, instituições de ensino e políticas públicas.

    “Porque a gente tem uma parcela só da população que pode pagar, mas a população tem que ser atendida no todo, para que a população tenha a possibilidade”, acrescenta.

    O estudo do BofA evidencia que o pagamento de serviços como a pré-escola ou uma babá impacta desproporcionalmente aqueles que têm menos condições de pagá-los.

    *Sob supervisão de Gabriel Bosa