Clima favorável ajuda agronegócio a registrar recordes em safras e exportações, dizem especialistas
Apesar dos aumentos de volume de produção, especialistas não veem novo ciclo de "boom" de commodities com recordes em receita
Os recentes resultados do agronegócio brasileiro têm deixado otimistas os especialistas que acompanham o setor. A avaliação é de que questões climáticas e o cenário de demanda global beneficiam o Brasil, principalmente, no que se refere ao volume de exportações.
“Em volume [de exportações], de fato, os cenários são muito favoráveis. Tem uma demanda forte e consolidada no mercado internacional e nesse curto prazo, de 5 anos, não há grandes fornecedores com capacidade de gerar excedentes [como o Brasil] na escala que o mercado está demandando”, diz Felippe Serigati, pesquisador do Centro de Agronegócios da FGV (FGV Agro).
De acordo com o Ministério da Agricultura, a receita com exportações do agronegócio, nos quatro meses de 2023, alcançou valor recorde de US$ 50,6 bilhões. Em nota, a pasta diz que o setor foi responsável por quase metade das vendas externas totais do Brasil no período, com participação de 49%.
Já pelo lado da produção, principalmente de grãos, as perspectivas também são positivas. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), para a safra total de grãos 2022/23, a previsão atual é de recorde de 313,9 milhões de toneladas, contra 312,5 milhões na estimativa de abril, representando um avanço de 15,2% na comparação anual.
Ainda que o volume tem atingido resultados satisfatórios, os especialistas não veem um novo “boom” de commodities agrícolas, como o registrado no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), entre 2006 a 2010.
Serigati explica que, para que pudéssemos caracterizar este cenário como “boom” de commodities agrícolas, seria preciso observar, além do volume, os preços e cotações e, neste sentido, o pesquisador diz não vislumbrar tal desdobramento, uma vez que “as commodities estão operando em nível inferior do que visto no ano passado”.
Um cenário importante que difere daquele visto no final da década retrasada, é que, em 2010, a China registrava um crescimento econômico na casa dos dois dígitos, algo que beneficiou o Brasil no momento e que não faz parte do atual cenário, destaca o professor.
Leonardo Alencar, head de Agro, Bebidas e Alimentos da XP, afirma também que, dentro deste contexto de produção recorde, o país pode observar uma queda nos preços dos alimentos internamente.
Segundo Alencar, um cenário de comercialização das commodities com preços menores pode gerar uma perda de rentabilidade para os produtores, conduto, o especialista explica que o produtor está capitalizado. “Estamos entrando neste cenário de preços mais baixos, mas ele vem de 2,3 anos de margens muito boas. Isso é cíclico, continuamos em um volume grande de exportação ainda que com preços menores”.
Para os especialistas ouvidos pela CNN, ainda é cedo para avaliar se as expansões de quantidade devem superar os ajustes de preços.
A leitura também é feita pela agência de classificação de risco S&P Global Ratings, em um relatório divulgado no início do mês.
O relatório destaca três subsetores do agronegócio que foram analisados e que representam cerca de 72% das exportações totais do setor do país. Os produtores de soja,
milho e algodão; carne bovina, de aves e suína; e açúcar e etanol — geraram US$ 114 bilhões em receitas de exportação em 2022.
Segundo o documento, a desvalorização do real, a sólida demanda global pelos produtos e as condições climáticas — que beneficiam os volumes de produção — devem sustentar a lucratividade e a qualidade de crédito desses subsetores em 2023, apesar das condições de financiamento mais fracas.
As perspectivas positivas para os grãos também é observada pela Conab. Segundo a companhia, a safra de soja do Brasil 2022/23 está estimada em recorde de 154,8 milhões de toneladas, aumento de 1,2 milhão de toneladas na comparação com o número de abril.
Já a safra total de milho do Brasil 2022/23 foi prevista em 125,5 milhões de toneladas, com alta de cerca de 600 mil toneladas na comparação com a projeção divulgada no mês passado.
Flávia Bedran e Bruno Matelli, analistas responsáveis pelo relatório da S&P, dizem que o clima foi um fator determinante para os resultados da produção brasileira, principalmente após a seca registrada em 2021, que trouxe prejuízos para o setor.
Nesta segunda-feira, a Conab informou que o aumento do volume de chuvas nas principais regiões produtoras de grãos do país, entre os dias 1º e 21 de maio, contribuiu para o desenvolvimento dos cultivos da safra de verão e inverno 2022/23, em especial o milho segunda safra.