Affonso Pastore e Eduardo Guardia dizem que crise pode ser pior sem isolamento
Economistas ressaltam que as medidas tomadas pelo Banco Central estão de acordo com as ações de outros BCs do mundo
A semana do Brasil foi marcada por uma atuação mais intensa da área econômica do governo para mitigar os efeitos da pandemia do novo coronavírus. Para discutir as ações anunciadas, a CNN promoveu conversa entre Affonso César Pastore, ex-presidente do Banco Central, e Eduardo Guardia, ex-ministro da Fazenda. Os economistas viram com bons olhos os anúncios, dizendo que estão alinhados com os melhores bancos centrais do planeta, como o europeu e o inglês. Eles também defenderam políticas de isolamento, afirmando que, caso contrário, o Brasil viverá cenário de “terra arrasada”.
A analogia foi usada por Pastore, que equiparou o momento ao de um conflito armado, e disse que o objetivo no momento é não destruir a economia.
“Neste momento, o governo tem que transferir renda e liberar crédito para empresas para a economia não acabar. Se nós tivermos sucesso em manter o PIB potencial, o que vai baixar é apenas o PIB atual. Quando acabar a guerra, ao invés de reconstruir um país, teremos empresas prontas para a retomada”, afirmou.
Guardia defendeu a tese de Pastore e disse que caso o governo não consiga mitigar os custos da pandemia neste momento, no futuro o “custo será maior”. Ele também destacou que é preciso separar as medidas anunciadas pelo governo para entendê-las melhor.
“Temos que separar as medidas em dois grupos: o primeiro, relacionado ao Banco Central, que garante a liquidez do mercado e que não terá impacto fiscal. Já as medidas de saúde, preservação da renda, manutenção de empregos e auxilio a pequenas e médias empresas envolvem o uso de recursos fiscais. A expansão fiscal é inevitável”.
Guardia fez uma ressalva sobre a necessidade da temporariedade das medidas. Em paralelo às medidas anti-crise, o governo deve se focar em mostrar comprometimento com o equilíbrio fiscal a longo prazo, afirmou.
“É possível, em paralelo à resposta contra o coronavírus, que o governo avance na agenda de melhora da situação fiscal a longo prazo, como a PEC 186 [PEC emergencial], para reforçar a percepção de solvência fiscal no longo prazo, que garante melhor controle da despesa pública”.
Ja Pastore relembrou que, mesmo em situação fiscal apertada, o Brasil tem mecanismos para liberar crédito, e que é necessário que o dinheiro chegue à população de maneira rápida.
“Mesmo com teto de gastos, há abertura diante de crises inesperadas. Esse dinheiro tem que chegar rápido na mão das pessoas, para gerar confiança na população de que a crise vai passar”.