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    Ação do Carrefour despenca: o mercado acordou para o ESG?

    Após a morte de João Alberto Freitas, os papéis do Carrefour sofreram na bolsa. A agenda de governança está em pauta, mas os investidores esquecem facilmente?

    André Jankavski, , do CNN Brasil Business, em São Paulo

    As ações do Carrefour (CRFB3) despencaram na segunda-feira (23). A queda de 5,3% foi a maior dentre as empresas que fazem parte do Ibovespa, o principal índice da bolsa de valores. Após subir quase 1% na sexta-feira, dia posterior à morte por espancamento e asfixia de um homem negro, João Alberto Silveira Freitas, isso quer dizer que o mercado acordou para o tamanho do problema?

    Não necessariamente, na visão de analistas. Pode ser um movimento temporário e que, em breve, as ações do Carrefour podem ser reprecificadas para cima pelo mercado. O Carrefour foi o principal alvo de manifestações contra o racismo em todo o Brasil. 

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    Mas não foi somente o Carrefour que teve perdas significativas na bolsa na segunda-feira, apesar da alta de 1,6% do Ibovespa. Inclusive, empresas de varejo sofreram na bolsa, como foi o caso do Grupo Pão de Açúcar (PCAR3) e o Magazine Luiza (MGLU3), que caíram 3,97% e 3,22%, respectivamente.

    “Os protestos trouxeram uma repercussão ruim e o ESG é algo muito novo, então não dá para atribuir a queda somente ao caso”, diz Rafael Panonko, estrategista-chefe da corretora Toro Investimentos. “Mas casos como esse estão mostrando que o ESG precisa de práticas concretas, se não vai ficar algo para inglês ver”

    O ESG é a sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança. Cada vez mais, empresas estão propagando que elas têm responsabilidade social. O próprio Carrefour faz parte de diversos índices ligados à agenda ESG na bolsa de Paris. Mas, aqui no Brasil, a empresa coleciona casos bastante negativos (e midiáticos).

    Os mais recentes foram quando um promotor de vendas do Carrefour morreu subitamente em uma das unidades do Carrefour, em Recife. A loja, em vez de parar as operações, cobriu o corpo do ex-terceirizado com guardas sóis e as vendas continuaram normalmente. Em 2018, um cão foi envenenado e espancado em uma unidade na cidade paulista de Osasco.

    Mesmo com todos esses problemas, até agora, os bancos de investimento e analistas ainda não revisaram o preço-alvo da ação da empresa. A ação, que fechou em R$ 19,30 nesta sexta, pode chegar a R$ 27, segundo o Banco Safra. O Brasil Plural enxerga em R$ 26. Ou seja, a ação poderia subir quase 40% em doze meses. Um investimento e tanto.

    É verdade que tudo é muito recente, mas o mercado, pelo menos até agora, continua mais enxergando os balanços financeiros do que atos como os acontecidos dentro das lojas do Carrefour. Essa é a visão de diversos analistas ouvidos pelo CNN Business.

    Para o analista da Mirae Asset, Pedro Galdi, o caso deve ser considerado isolado daqui um tempo. “Isto poderia ter acontecido em outros supermercados, mas que os culpados sejam punidos. E, logo mais, no esquecimento da sociedade, a ação sobe de novo”, diz ele.

    Carrefour pode ser uma nova Vale?

    A Vale (VALE3) viveu pesadelos nos últimos anos. Depois do rompimento da barragem da empresa em Mariana (MG), a empresa teve um outro caso, ainda mais grave, em janeiro de 2019: a tragédia em Brumadinho, que deixou centenas de mortos e mais uma cidade arrasada.

    Depois de demissões de alto executivos e a empresa prometendo que tudo iria mudar, a ação da Vale passou a operar em viés de alta. Até chegar no ápice recente.

    Aproveitando o bom momento do minério de ferro no mercado internacional, a empresa não só zerou as suas perdas, como a sua ação está batendo recorde atrás de recorde. Nesta segunda-feira, o papel chegou a R$ 71,29, um novo patamar. E analistas enxergam que esse valor deve crescer ainda mais.

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    Mesmo assim, na visão de Fábio Alperovitch, criador do fundo de investimentos Fama, especializado em ESG, a Vale ainda está descontada. Afinal, mesmo o cenário sendo extremamente positivo para a companhia, ele enxerga que ela não está precificada da mesma forma do que concorrentes.

    A companhia é extremamente dolarizada (boa parte de suas vendas vão para exportação) e a desvalorização do real frente ao dólar, fora os preços em alta do minério, ajudam no atual patamar de preço.

    “Existe uma penalização, menor do que eu gostaria, mas ainda existe”, diz ele.

    Alperovitch acredita que, mais do que a Vale, o Carrefour pode seguir um caminho parecido com o da fintech Nubank. Após uma fala da fundador Cristina Junqueira em entrevista ao programa Roda Viva, em que ela disse que a empresa não tem negros em cargos de liderança “porque a seleção não pode nivelar por baixo”, o Nubank mudou de atitude.

    O anúncio mais recente foi que a empresa divulgou uma série de ações para promover maior diversidade étnico-racial na fintech no valor de R$ 20 milhões. Um dos principais objetivos, agora, é formar lideranças negras.

    “Em um mês, o Nubank foi do inferno ao céu e criou um dos mais amplos de contratações de negros. Quem sabe, aconteça algo nesse sentido no Carrefour”, diz ele. É a chance que a varejista francesa tem para fazer diferença.

    Após o ato, importâncias lideranças da rede, como Abilio Diniz, que é um dos principais acionistas e conselheiro da rede, afirmou que o racismo ‘é execrável e inaceitável’ e que deve ser combatido. O CEO global da rede, Alexandre Bompard, foi além.

    “Medidas internas foram imediatamente tomadas pelo Grupo Carrefour Brasil, principalmente em relação à empresa de segurança contratada”, disse Bompard em pronunciamento no Twitter.

    Na noite de segunda, o Carrefour anunciou a criação de um fundo de R$ 25 milhões para promover inclusão e combater o racismo.

    Que essas medidas, de fato, se mostrem acertadas e duradouras.

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