Abiec critica regra da Febraban para frigoríficos e cobra papel ativo dos bancos contra o desmatamento
Febraban definiu que bancos só poderão conceder crédito para frigoríficos com “sistema de monitoramento” para não aquisição de gado associado ao desmatamento ilegal
O presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Antônio Camardelli, criticou em entrevista à CNN a nova regra da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) para a concessão de crédito a frigoríficos e pediu papel ativo das instituições financeiras no combate ao desmatamento.
A Febraban definiu que na Amazônia Legal e no estado do Maranhão as instituições só poderão conceder crédito para frigoríficos que implementarem um “sistema de monitoramento” para provar que não compram gado associado ao desmatamento ilegal, seja por fornecedores diretos e indiretos.
“A gente já tem esse monitoramento desde 2009. O problema não é esse. É importante essa preocupação. Nossa bronca é todo mundo enxergar o frigorífico como aquele que vai empurrar esse ordenamento na cadeia [contra o desmatamento], quando isso precisa ser um esforço de todo mundo, inclusive dos bancos”, disse o presidente da Abiec.
Camardelli destacou que todo esforço para combater o desmatamento é “bem-vindo”, mas pediu que a Febraban se debruce sobre “detalhes fundamentais” que viabilizem essa operação de monitoramento.
Ele ainda confirmou que a Febraban mantém diálogos sobre essa nova regra com a Abiec desde 2022.
Em nota técnica divulgada nesta terça-feira (30) a Abiec reiterou que os frigoríficos associados já operam com preocupações ambientais e pediu para que os bancos “não terceirizem” apenas essas responsabilidades.
“É importante não só que os bancos exijam de seus clientes que implementem sistemas de monitoramento e rastreabilidade, mas que as áreas de compliance e due diligence das instituições financeiras adotem em relação a todos os seus correntistas, inclusive proprietários rurais, os mesmos critérios socioambientais já implementados pela indústria de processamento de carne bovina, e não apenas para concessão de crédito”, diz o documento.
A associação ainda afirmou ter cerca de 20 mil fornecedores “bloqueados” por inconformidades socioambientais, mas destacou a relevância do setor financeiro para que fornecedores passem a atuar com “conformidade”.
“Estamos trabalhando em conjunto com os pecuaristas que podem regularizar sua situação ambiental, para trazê-los de volta à cadeia produtiva. Essa abordagem precisa entrar na agenda do setor financeiro, dado que na maioria das vezes essa regularização exige investimentos.”
O que diz a Febraban
De acordo com a Febraban, o sistema de monitoramento deverá contemplar informações como embargos, sobreposições com áreas protegidas, autorizações de supressão de vegetação, identificação de polígonos de desmatamento, além do Cadastro Ambiental Rural (CAR) das propriedades de origem dos animais.
“Os bancos estão no epicentro das cadeias produtivas do país e irão estimular ações para desenvolver a economia cada vez mais sustentável”, disse Isaac Sidney, presidente da Febraban sobre a medida.
“O setor tem consciência de que é necessário avançar no gerenciamento e na mitigação dos riscos sociais, ambientais e climáticos nos negócios com seus clientes e canalizar cada vez mais recursos para financiar a transição para a Economia Verde”, completou.
Segundo o diretor de sustentabilidade da Febraban, Amaury Oliva, ao longo dos últimos meses, a entidade dialogou com representantes da indústria e da sociedade civil para “consolidar critérios alinhados às boas práticas socioambientais”
Publicado por Danilo Moliterno.