À frente do banco dos Brics, Dilma tem desafio de consolidar entidade no mundo
Novo Banco de Desenvolvimento foi fundado em 2015; ex-presidente brasileira foi indicada por Lula e assumiu o comando da instituição em março, com mandato até 2025
À frente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), conhecido como “banco dos Brics”, desde março, e com um mandato previsto para durar até 2025, Dilma Rousseff assume o desafio de consolidar no cenário internacional um banco de fomento que ainda é jovem, mas que tem potencial para galgar um espaço importante.
É o que afirmam especialistas consultados pela CNN a respeito da chegada da ex-presidente brasileira à presidência da instituição que reúne as maiores economias emergentes.
“O NBD é um banco muito novo perto de outros que já têm muita tradição de financiamento aos seus países membros. Ele está apenas começando”, diz o ex-secretário de Comércio Exterior Welber Barral, sócio da BMJ Consultores Associados.
Ele cita tradicionais veteranos como o Banco Mundial, fundado em 1944, e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), de 1959.
O NBD nasceu em 2015, reunindo os países que formam a sigla “Brics”: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (“South Africa”, em inglês).
A própria Dilma, presidente da República à época, representou o Brasil nas negociações e foi uma das signatárias de sua fundação.
O principal objetivo do banco é disponibilizar capital e empréstimos para fomentar projetos de infraestrutura, desenvolvimento social e sustentabilidade nos países membros.
“Há hoje um número grande de bancos de desenvolvimento como esses no mundo, mas o NBD chama a atenção porque já nasceu com um aporte volumoso, da China principalmente, então ele pode ser um player muito grande”, diz Barral.
“Ele quer ser um grande financiador de infraestrutura nos países emergentes, que precisam, e também de energias renováveis, e o papel da Dilma vai ser concretizar isso. E vai ser importante que ela consiga transformá-la nesse grande player”, acrescenta.
Presidência rotativa e indicação de Lula
Comum nos bancos multilaterais como ele, o banco dos Brics tem sua presidência rotativa entre seus membros, em mandatos de cinco anos.
O economista indiano e ex-executivo de grandes bancos e empresas da Índia, Kundapur Vaman Kamath, foi o primeiro deles, em 2015.
O Brasil inaugurou seu mandato em 2020, assumido pelo diplomata e ex-secretário de Comércio Exterior Marcos Troyjo, indicado à presidência do banco, que é sediado em Xangai, pelo governo de Jair Bolsonaro.
Ao chegar à Presidência do Brasil em janeiro deste ano, Luiz Inácio Lula da Silva indicou sua ex-ministra e afilhada política Dilma para o cargo.
Trata-se de um rito já previsto na gestão do banco, de acordo com Luana Paris Bastos, pesquisadora do Grupo de Estudos sobre os Brics (Gebrics) da Universidade de São Paulo (USP).
“O processo do banco permite que o presidente [do país] indique o novo presidente do banco, e, com a troca de governo, era uma troca esperada”, diz ela.
Troyjo renunciou ao posto no começo de março.
Dilma teve sua indicação aprovada, por unanimidade, pelos outros membros e assumiu pouco mais de duas semanas depois, em meio a críticas, dentro do Brasil, da politização de um cargo que deveria ser técnico. O mandato brasileiro, agora com Dilma, vai até 2025.
Novos membros e moedas locais
Entre os grandes planos que já vinham sido traçados pelo NDB, e que agora caberão à nova presidente conduzir, está a ampliação do grupo de membros para além das cinco letras do acrônimo “BRICS” e também a expansão de transações feitas com moedas locais, sem precisar recorrer ao dólar para os contratos que são feitos entre os parceiros latinos, africanos ou asiáticos.
Em 2021, em meio à intenção da instituição de ampliar seu alcance, a diretoria do NBD aprovou a entrada dos três primeiros participantes de fora da sigla original: Bangladesh, Emirados Árabes e Egito.
O Uruguai também já teve sua participação aprovada e deve ser o próximo a ser formalizado na lista de associados.
“O objetivo estratégico do NBD é se tornar o banco de desenvolvimento líder para mercados emergentes e países em desenvolvimento”, disse Dilma em um de seus primeiros discursos como presidente, durante a abertura do encontro anual do banco em maio.
Gestão compartilhada
Luana, do Gebrics, explica que o funcionamento do NBD é bastante profissionalizado e colaborativo entre os cinco membros fundadores, com diversas vice-presidências, diretorias e planos estratégicos de longo prazo que ditam as diretrizes e a agenda a ser seguida pela entidade.
“Dilma incorporou ao seu discurso os objetivos que já estavam traçados no plano estratégico feito em 2019”, diz ela.
Além da ampliação no número de associados e do uso de moedas locais, ênfase no financiamento a projetos sustentáveis e aumento da participação das mulheres no corpo do próprio banco são algumas das diretrizes que estão no plano que caberá agora a Dilma conduzir.
Papel diplomático
Com isso, explica a pesquisadora, o papel de destaque do presidente acaba sendo, em grande parte, o da diplomacia e da costura de acordos no cenário internacional.
“A Dilma, como os outros presidentes do NBD, tem, principalmente, a responsabilidade da representação internacional. Ela será a cara do NBD nos fóruns, congressos e encontros com outros organismos”, diz Luana.
“E a importância disso é, justamente, conquistar essas parcerias, atrair investidores e promover a importância do NBD para que os olhares se voltem para ele.”