Lula quer abrir mercado da China a produtos brasileiros e fechar 20 acordos comerciais
Itamaraty espera assinar acordos nas áreas de tecnologia, inovação e desenvolvimento sustentável; na última década, a participação chinesa na exportação brasileira cresceu 56%
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer usar a sua viagem para a China para abrir o mercado do gigante asiático para mais produtos brasileiros e ampliar os investimentos chineses no Brasil.
A diplomacia brasileira espera assinar acordos também nas áreas de tecnologia, inovação e desenvolvimento sustentável.
Aliás, segundo o Itamaraty, há uma expectativa de que mais de 20 acordos sejam concluídos durante a viagem, quando “serão tratados temas da ampla pauta bilateral, incluindo comércio, investimentos, reindustrialização, transição energética, mudança climática e paz e segurança mundial”.
Na última década, a participação chinesa na exportação brasileira cresceu 56%, passando de 17,2% em 2012 para 26,8% em 2022, quando as exportações ao país totalizaram US$ 89,4 bilhões. Das 27 unidades da Federação, 14 tiveram a China como principal destino de suas exportações em 2022.
Entre as principais commodities negociadas estão a soja (36%), minério de ferro e seus concentrados (20%), óleos brutos (18%) e carne bovina (8,9%).
No mesmo ano, o Brasil importou um total de US$ 60,74 bilhões da China. Mas a pauta de importações é muito mais variada. Válvulas e tubos termiônicos tiveram a maior participação nos negócios (11%), com orgânicos-inorgânicos na sequência (8,2%) e equipamentos de telecomunicações em terceiro lugar (6,8%).
Com as outras grandes economias do mundo em recessão, o Brasil depende da China para aumentar suas exportações de um modo geral. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), só a economia chinesa, entre as principais do mundo – como Alemanha, Estados Unidos e Japão -, deve crescer em 2023, com projeção de 5,2%.
E a grande aposta brasileira é o agronegócio. A China é o principal destino das exportações do agronegócio brasileiro, respondendo por uma fatia de 31,9% em 2022, num total de US$ 50,79 bilhões. Soja, carnes bovina e de frango, celulose e cana-de-açúcar são os produtos mais negociados.
Não à toa, o Brasil levou mais de 100 empresários do setor para a China em sua comitiva.
Segundo relatório do Indicador de Comércio Exterior (Icomex) divulgado na última terça-feira (21) pela Fundação Getulio Vargas (FGV), são as exportações do agronegócio que poderiam dar o impulso previsto ao Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2023.
Mas a China tem que demandar – e o Brasil, entregar. Uma autoridade envolvida no planejamento da viagem do presidente Lula à China disse à CNN que é responsabilidade do Brasil tentar ser mais competitivo em outras áreas, para poder diversificar a pauta de exportações e depender menos de commodities.
E há outros problemas. O atraso da colheita de soja, por exemplo, já fez com que o país perdesse uma parcela importante de mercado para os EUA.
Além disso, a China busca alternativas para reduzir a dependência da soja brasileira e tem, inclusive, apostado em tecnologias alternativas para criar ração animal, como proteínas artificiais criadas em laboratório.
Mas isso não significa que os negócios entre os dois países devem diminuir, pelo contrário.
O Ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, já disse à CNN que essa viagem à China deve abrir novas oportunidades de mercado para o Brasil – inclusive onde mais lhe interessa, que são os produtos de comida industrializada.
No dia 23 de março a China não apenas acabou com o embargo à carne bovina do Brasil como habilitou quatro novos frigoríficos para exportar para o país – o que não acontecia desde 2019.