Lira turca atinge novo recorde de baixa com possibilidade de reeleição de Erdogan
Forte queda do mercado de ações levou a bolsa de Istambul a interromper brevemente as negociações
Os investidores aguardam nervosamente o resultado da acirrada corrida presidencial na Turquia na segunda-feira (15), fazendo com que as ações caiam e o valor de sua moeda caia para um novo recorde de baixa em relação ao dólar americano.
O índice de referência BIST-100 da Turquia caiu até 6,4% nas negociações de pré-mercado depois que o presidente Recep Tayyip Erdogan parecia estar indo para um segundo turno em 28 de maio contra seu principal oponente, Kemal Kilicdaroglu.
“Uma vitória da oposição parece ter se tornado menos provável e isso desapontará os investidores que esperam um retorno à política econômica ortodoxa e um compromisso mais confiável para enfrentar o problema da inflação na Turquia”, disse Liam Peach, economista sênior de mercados emergentes da Capital Economics, em nota.
A forte queda do mercado de ações levou a bolsa de Istambul a interromper brevemente as negociações. O BIST-100 foi negociado pela última vez em queda de 2,8%, enquanto seu subíndice bancário caiu 8,3%.
A lira turca caiu 0,5%, sendo negociada a 19,70 em relação ao dólar americano, uma baixa recorde. O valor da moeda caiu mais de 40% no ano passado, quando as políticas econômicas pouco ortodoxas de Erdoğan alimentaram níveis de inflação impressionantes.
Erdogan está no comando do governo da Turquia há duas décadas e pode estar à beira de mais cinco anos no poder.
Com 98% dos votos apurados, nem Erdogan, nem Kilicdaroglu atingiram o limite de 50% dos votos necessários para declarar uma vitória decisiva.
Erdogan teve um desempenho melhor do que as pesquisas sugeriam, somando cerca de 49% dos votos contra 45% da oposição.
A incerteza faz com que os investidores em títulos do governo turco se preocupem com a capacidade do país de pagá-los.
O custo de compra de seguro contra o risco de inadimplência do governo subiu 22% nas negociações da manhã, para o nível mais alto desde novembro, segundo dados da S&P Global Market Intelligence.
A agência de classificação de crédito Moody’s disse na segunda-feira que uma vitória da oposição “melhoraria as perspectivas de retorno às políticas econômicas ortodoxas que — se efetivamente implementadas — seriam positivas para o perfil de crédito do soberano no longo prazo”.
Ainda assim, “resolver as medidas distorcivas implementadas nos últimos dois anos será um desafio”, disse a Moody’s, acrescentando que o risco de volatilidade na economia e nos mercados da Turquia é “significativo”.
No final de 2021, quando a inflação global começou a acelerar, Erdoğan ordenou que o banco central da Turquia reduzisse as taxas de juros — exatamente o oposto do que outros bancos centrais estavam fazendo para domar os preços descontrolados.
A inflação anual dos preços ao consumidor subiu para 85% em outubro, antes de desacelerar para 44% em abril, mostram dados do Instituto de Estatística da Turquia.
“Uma vitória para o presidente Erdogan, que agora parece o cenário de base… seria negativa para a estabilidade macroeconômica e os mercados financeiros da Turquia”, acrescentou Peach.
“Acreditamos que a continuação de baixas taxas de juros, regulamentações restritivas de moeda estrangeira e alta inflação podem aumentar a ameaça [de] uma grave crise cambial no futuro.”
— Yusuf Gezer contribuiu com a reportagem
