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    Juros altos devem fazer PIB brasileiro crescer menos nos próximos anos, diz Credit Suisse

    Expectativa é que economia do país cresça 1,3% em 2023, e não mais 0,7%; para 2024, porém, a revisão foi para baixo, 1%, ante estimativa anterior de 1,7%

    Tamara Nassifda CNN

    em São Paulo

    O Credit Suisse revisou suas expectativas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro para este e o próximo ano.

    Segundo relatório divulgado pelo banco suíço nesta quinta-feira (11), a expectativa é que a economia do país cresça 1,3% em 2023 — e não mais 0,7%. Para 2024, porém, a revisão foi para baixo, 1%, ante estimativa anterior de 1,7%. No ano passado, o PIB cresceu 2,9%.

    A desaceleração prevista pelo banco se ancora nos “efeitos defasados” da política monetária do país. Ou seja, como efeito da taxa Selic em 13,75% ao ano desde agosto de 2022, a economia deve crescer menos.

    Ao mesmo tempo, o crescimento econômico, segundo o banco, continua impulsionado pelo consumo das famílias, como resultado de um mercado de trabalho “resiliente” e da expansão de políticas públicas de transferência de renda e assistência social.

    Cortes na Selic a partir de setembro

    Em relação à taxa Selic, o Credit Suisse espera que, “de forma cautelosa”, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) comece a cortar os juros em setembro deste ano, inicialmente a 25 pontos-base. Isso seria seguido por mais seis cortes sequenciais na casa de 50 pontos-base, de forma a encerrar o ano em 12,50% ao ano.

    “O Comitê não deu nenhuma indicação clara de que está disposto a cortar as taxas de juros no curto prazo. Nossa projeção está condicionada à manutenção da meta de inflação no atual patamar de 3%”, afirma o banco, em nota.

    “Uma meta mais alta provavelmente transmitiria que a política econômica tem um compromisso fraco com a inflação baixa, resultando em inflação mais alta daqui para frente.”

    O Conselho Monetário Nacional (CMN) — que é quem define as metas de inflação do país — deve se reunir em junho para decidir sobre as taxas inflacionárias desejáveis para os próximos anos. Para o Credit Suisse, se as metas forem mantidas — e a nova regra fiscal for aprovada no Congresso com um desenho mais rígido do que o apresentado pelo governo —, a expectativas para a inflação podem melhorar, abrindo espaço para o corte da Selic no segundo semestre.

    Para 2023 e 2024, as metas são de 3,25% e 3%, respectivamente, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo.

    “A intensidade desse ciclo de flexibilização deve depender do rumo das contas públicas e de como o aumento dos juros nos países desenvolvidos afetará a economia brasileira”, afirma.

    Com isso, o banco também projeta que a Selic encerre 2024 em 10,5% ao ano.

    Inflação desancorada

    A expectativa do banco suíço é que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) — medidor oficial da inflação no país — encerre o ano em 6%, ante estimativa anterior de 6,6%.

    “A desaceleração da atividade econômica, a flexibilização dos gargalos da cadeia produtiva e a melhora da safra devem seguir reduzindo a inflação”, projeta.

    O Credit Suisse espera que a taxa inflacionária deste ano seja puxada pela reoneração de impostos e por serviços, enquanto os setores de alimentação e produtos industriais devem contribuir para uma baixa no índice, graças às perspectivas de melhores safras no campo e de fim das restrições de oferta.

    Já para 2024, houve uma variação para cima, de 4,3% para 4,5%. Caso se concretizem, a inflação seguirá acima da meta pelo terceiro e quarto ano consecutivos. O banco explica que isso deriva de uma desancoragem das expectativas para a inflação, conforme o último Boletim Focus, para 2024 e os anos seguintes.

    “Uma regra fiscal crível e o fim da incerteza quanto a uma eventual alteração do regime de metas de inflação são essenciais para a reancoragem das expectativas de inflação, e consequente redução do custo da desinflação”, diz.

    “Nosso cenário considera que as expectativas de inflação de longo prazo se estabilizarão em torno dos níveis atuais. Não incorporamos o potencial impacto de uma revisão da meta de inflação, que poderia elevar a projeção para o próximo ano acima de 5%. Por outro lado, a manutenção da meta em 3% e uma moeda mais forte representam riscos negativos para nossa projeção neste e no próximo ano.”

    Política fiscal como risco para o PIB

    O relatório do banco também prevê que o principal desafio para a economia brasileira daqui para frente será a política fiscal.

    O substituto do teto de gastos, já em tramitação no Congresso, prevê um limite para o crescimento dos gastos do governo, que, segundo o desenho inicialmente proposto pela Fazenda, deverá ser mais lento do que o crescimento da receita.

    Para o Credit Suisse, “o principal desafio será a trajetória positiva de convergência do resultado primário, que dependerá do sucesso na reconstrução das receitas, após perdas associadas aos cortes de impostos no ano passado e à crise econômica em curso”.

    “Segundo nossos cálculos, para cumprir a meta de déficit primário de 0,5% neste ano, seria necessário um aumento de R$ 80 bilhões nas receitas. Para a meta de 0,0% em 2024, calculamos que seria necessário um aumento de R$ 120 bilhões nas receitas.”

    O banco também projeta um déficit primário de 1,3% do PIB para 2023, e dívida bruta de 85% ao final do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2026.