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    Juros altos devem diminuir abertura de vagas neste ano, dizem analistas

    Expectativa deriva de projeções de baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para o ano, que deve afetar a geração de empregos no país

    Tamara Nassifda CNN em São Paulo

    Em um cenário de juros altos, o mercado de trabalho deve engatar em um processo de desaceleração ao longo de 2023, disseram analistas à CNN.

    A expectativa deriva de projeções de baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) que, embora tenha avançado 2,9% ao longo de 2022, recuou 0,2% no último trimestre do ano, segundo informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no início de março.

    “Ao olhar o resultado do PIB no quarto trimestre, já dá para entender de onde o pessimismo vem. Os juros altos já começaram a incidir sobre a economia, embora o ‘pacote eleitoral’, com estímulos fiscais e de consumo no ano passado, tenha ajudado a reduzir o impacto nos dados”, afirma Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador sênior da área de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV-Ibre).

    De acordo com o especialista, os efeitos da taxa Selic, em trajetória ascendente desde março de 2021 e estacionada em 13,75% ao ano desde agosto do ano passado, demoram a aparecer na atividade do país. É por isso que, agora, o impacto começa a ressoar com mais força.

    “Eles ainda não estão impactando com todo o potencial, mas estarão. A Selic alta como ferramenta de controle da inflação tem o ônus de desacelerar a economia, e isso influencia diretamente na geração de empregos.”

    Fazendo um retrospecto dos últimos anos, o especialista analisa que 2023 terá uma natureza diferente. Enquanto 2021 apresentou uma recuperação “job-less“, ou seja, de PIB alto e desemprego alto, 2022 foi “PIB-less“, com mercado de trabalho aquecido e economia desacelerando.

    “Para 2023, acredito que será pouco PIB e pouco emprego. O mercado de trabalho deve desaquecer, e é bem possível que acabemos o ano com um desemprego maior do que o de 2022. Na verdade, ninguém projeta uma taxa menor.”

    Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do IBGE, a taxa média de desocupação no país caiu a 9,3% em 2022, marcando o menor resultado anual desde 2015.

    Para Bruno Imaizumi, da LCA Consultores, o resultado foi consequência direta da pandemia. “Em 2022, ainda tinha um espaço para recuperar as vagas perdidas no período mais crítico da Covid-19, além do aumento dos gastos públicos às vésperas das eleições terem contribuído com a criação de vagas em alguns setores”, analisa ele.

    “Agora não temos tantos estímulos fiscais, nem tanto espaço para gastar. As expectativas fiscais são o principal problema hoje, além do mercado de crédito estar mais difícil para algumas empresas, ainda mais após o caso Americanas. Setores que são mais sensíveis ao crédito, como indústria e construção, provavelmente terão mais dificuldade de gerar emprego esse ano.”

    É uma visão compartilhada por Rodolfo Margato, economista da XP, que afirma também enxergar um enfraquecimento no crédito para pessoas físicas. “O grau de endividamento elevado pode diminuir o consumo de categorias que produzem veículos, eletrônicos, eletrodomésticos, móveis… Pela queda na receita, então, empresas podem demitir de forma mais líquida”, afirma ele.

    Na outra ponta, a economista Claudia Moreno, do C6 Bank, acredita que o PIB desse ano pode ser impulsionado pelo setor do agronegócio.

    “As projeções de safras recordes de grãos, por exemplo, vão engordar o PIB do agro, que, por sua vez, pode compensar parte dos empregos perdidos nos outros setores mais sensíveis ao mercado de crédito.”