Se investir na Selic é mais atraente que produzir e trabalhar, a economia para, diz Ciro Gomes
Ex-ministro e ex-governador, Ciro realizou sua primeira transmissão desde às eleições de 2022, quando foi o 4° candidato mais votado do 1º turno
O ex-ministro Ciro Gomes criticou o patamar da taxa básica de juros do Brasil em sua primeira transmissão desde as eleições de 2022. Candidato naquele pleito, ele participou de palestra na Universidade de Lisboa nesta sexta-feira (12).
“Se a taxa de juros de uma economia é mais alta que o lucro médio de produzir e trabalhar em um banco de comércio, em uma indústria, no campo, essa economia para. Se eu tenho dinheiro, porque eu vou correr risco, já que se eu colocar meu dinheiro na renda fixa rende mais que meu lucro relativo?”, questionou.
Ciro Gomes comparou os patamares da inflação e da taxa básica de juros brasileiras com as métricas de países europeus. A Selic, definida pelo Banco Central (BC), está em 13,75% ao ano desde agosto de 2022.
“A Europa tem taxa de juros de 3,5%, com inflação entre 6% e 10%, alargando para o Reino Unido, onde o fenômeno inflacionário é mais grave. O Brasil tem uma inflação, no terceiro mundo, de 5,5%, com uma taxa de juros de 13,75%”, enumerou.
“52% do orçamento brasileiro hoje são ocupados com juros e rolagem da dívida pública”, reforçou a crítica sobre o suposto desequilíbrio.
Nova regra fiscal e investimentos
O ex-governador do Ceará ainda criticou o novo marco fiscal, proposto pelo governo federal para substituir o teto de gastos, em sua fala. Ciro Gomes destacou os impactos do “arrocho” gerado pela regra aos investimentos do país.
“Quero saber se é justo que a gente faça um novo teto de gastos, com o nome arcabouço fiscal, um arrocho absoluto na taxa de inversão. Sabe qual é a taxa de investimento do Brasil hoje? A menor da história. Da União federal remanesce para investimento 0,75 de 1%. E isso significa ao redor de 24 bilhões, que é nada”, disse.
Ao comparar as regras fiscais, Ciro Gomes disse que — na sua opinião — os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso, Michel Temer e Jair Bolsonaro e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) adotam o mesmo modelo econômico.
“Mudam as pessoas, se radicalizam as eleições, mas o modelo é rigorosamente o mesmo: teto de gastos, superávit primário, meta de inflação, câmbio flutuante, autonomia do Banco Central. A eleição é a mais dura e radical, e fica rigorosamente a mesma coisa no dia seguinte, com Michel Temer, Fernando Henrique [Cardoso], Lula, Bolsonaro”, disse.