Mês para esquecer: as 20 ações que mais se desvalorizaram em março na bolsa
Apenas um papel entre os 100 mais negociados da B3, o da SLC Agrícola, produtora de commodities, ficou positivo no intervalo
A B3 viveu um mês de março terrível. Preocupações com a COVID-19 em todo o mundo fizeram com que o principal índice da bolsa brasileira, o Ibovespa, despencasse quase 30% somente em março (37% no acumulado do ano). Em 2020, somente 21 das 354 ações listadas na bolsa brasileira se valorizaram.
Diante deste caos, o investidor estrangeiro foi o primeiro a abandonar seus ativos por aqui e buscar algo mais seguro. “É natural que retirem suas posições mais arriscadas em países emergentes durante períodos de grande volatilidade para procurar ativos mais seguros, como dólar e até ouro“, explica José Falcão, analista de investimentos da Easynvest.
Além disso, o descompasso interno entre as autoridades brasileiras contribuiu para aumentar o sentimento de incerteza e instabilidade, impactando ainda mais o mercado financeiro. “Em um momento de crise como esse, a presidência tem discutido muito com os governos estaduais. Também não há um diálogo saudável entre executivo e legislativo. Tudo isso acaba sendo precificado nas ações”, afirma Rafael Panonko, analista-chefe da Toro Investimentos.
Com isso, muitas empresas nacionais viram seu valor de mercado derreter 40, 50, 60% em um espaço de 30 dias – e sem previsão de recuperação. Fica claro que existe um fator comum, o coronavírus, que afeta a todos. Mas cada setor e companhia, com suas singularidades, sentiu a crise de maneira e intensidade diferentes.
É o que mostra o relatório da Toro Investimentos, disponibilizado com exclusividade ao CNN Brasil Business. O levantamento traz as ações do índice IBrX-100 (que avalia o retorno de uma carteira teoricamente composta pelas 100 ações mais negociadas na B3) que mais se desvalorizaram no mês de março. Curiosidade: apenas um papel, da SLC Agrícola, produtora de commodities, ficou positivo no intervalo.
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A resseguradora Irb Brasil Re lidera o malfadado ranking, com um retorno negativo de 70,89% no mês de março. É preciso lembrar, contudo, que a empresa já passava por problemas internos. Nos últimos 12 meses, foi propagado que Warren Buffett seria um dos grandes investidores da companhia, que abriu capital em 2017 após ser privatizada quatro anos antes. O que não era verdade.
Além disso, um relatório da gestora de fundos Squadra apontou que a empresa aumentou o seu lucro de forma artificial em 2019. Segundo a gestora, o lucro de cerca de R$ 1,4 bilhão registrado pelo IRB nos três primeiros trimestres de 2019 seria, na verdade, um prejuízo de R$ 112 milhões. Entre os dados extraordinários estavam contabilização de recebimentos de sinistros ainda não pagos e até a venda de participação em um shopping. Tudo isso, juntamente com o coronavírus, causou o derretimento das ações da marca.
Na sequência, vem a primeira representante das empresas aéreas, um dos setores mais castigados pela pandemia. A Smiles registrou perdas de 62,32%. Não muito distante aparece a Azul, com 60,51%, e a Gol, com 55,59%. “Existe o fator pânico que ajuda a explicar quedas tão bruscas. Mas é natural que os setores diretamente afetados sofram mais”, contemporiza Falcão. Dados da Associação Brasileira das Empresas Aéres (Abear), por exemplo, mostram que a pandemia já reduziu a demanda por viagens domésticas em 75% e internacionais em 95%.
Ligado às aéreas, o segmento de turismo também tem sofrido duras quedas com o isolamento social, o “fechamento de fronteiras” e a redução de viagens é a área de turismo. Prova disso é a CVC, que perdeu 56,86%. Já a Movida, de aluguel de veículos, teve um desgaste de 55,06%; a Locamerica, do mesmo ramo, recuou 50,43%, e a Localiza, idem, teve tombo de 46,78%.
Outro setor que já soma enormes perdas com o efeito da pandemia é o varejista. Segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC), o comércio brasileiro já perdeu mais de R$ 53 bilhões com o fechamento de lojas por conta da pandemia. Além disso, mesmo com a possibilidade de vendas virtuais, as empresas enfrentam queda na confiança do consumidor, que implica diretamente nos planos de consumo da população. De fevereiro para março, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC), medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV), caiu 7,6 pontos. Com a redução, o indicador chegou a 80,2 pontos – em uma escala de zero a 200 pontos – o menor valor desde janeiro de 2017, que atingiu 78,3 pontos.
Diante desse cenário, a ViaVarejo passou a cair 61,77% no Ibovespa em março. Menos impactada, mas ainda vulnerável aos números negativos do setor, a gigante Magazine Luiza registrou baixa de 22,82%. “Mesmo que o setor seja afetado, cada empresa suas particularidades. A Magazine Luiza, por exemplo, está muito bem avançada no e-commerce e na distribuição, por isso oscilou menos no período”, explica Panonko.
Sem tanta influência direta, mas com quedas igualmente significativas está o setor de educação. Cogna (antiga Kroton) perdeu 60,36% e Yduqs (Estácio) caiu 57,28%. “Em momentos de crise, as pessoas precisam fazer escolhas e acabam deixando os estudos para depois”, explica o analista-chefe da Toro. A incorporadora Cyrela também tombou forte, em 52,63%, mostrando que o brasileiro vai deixar este tipo de investimento para tempos mais calmos.
Confira, a seguir, a lista completa:
Apontando para o futuro, Panonko acredita que o pior já passou, mas que estamos longe de uma possível recuperação completa. “Muitas ações devem se manter baratas no curto prazo. Ainda precisamos entender o impacto econômico que este lockdown vai deixar para, aí sim, pensar no futuro”, explica. Como boa parte dessas empresas segue sem faturamento, também podem perder caixa e força de trabalho, o que dificulta ainda mais o processo.
Falcão opina que o setor de commodities pode se recuperar mais rápido. “A China vai começar a sair do isolamento e provavelmente vai investir em infraestrutura. Empresas com exposição a minério, aço, petróleo, soja são boas apostas”, diz. Ele também cita os bancos e as empresas de telecomunicações como referências seguras para o momento.