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    Novas indicações à Petrobras vão definir impacto de desistências, dizem analistas

    Desistência de Adriano Pires para ser conduzido à presidência da estatal ocorre após Rodolfo Landim também recusar convite para presidência de Conselho

    João Pedro Malardo CNN Brasil Business , em São Paulo

    As incertezas que pairam sobre o comando da Petrobras desde o fim de semana podem trazer danos limitados à estatal, segundo especialistas consultados pelo CNN Brasil Business. O tamanho do impacto vai depender dos nomes que surgirão após a desistência de Adriano Pires para a presidência da estatal, nesta segunda-feira (4)  e de Rodolfo Landim, para a presidência do Conselho, na véspera.

    Seria “muito importante ter logo, para o mercado, a definição de quem é o presidente”, evitando que questões de administração da empresa fiquem em suspenso, diz Gesner Oliveira, professor da FGV.

    Ao mesmo tempo, ele avalia que casos como o de Pires, de nomeações que não vão para frente ou enfrentam percalços, fazem “parte do dia a dia de qualquer corporação”. “É algo que se procura evitar, gera apreensão, mas não pode exagerar [o impacto], e isso deve ser superado se de fato vier a ocorrer”.

    O professor afirma que o tamanho do impacto à imagem e credibilidade da Petrobras dependeria muito mais de qualquer novo nome que fosse indicado.

    A expectativa do mercado é de um presidente com perfil semelhante ao de Pires, ou do atual presidente, general Silva e Luna, um “um nome técnico, familiarizado, com experiência executiva e que conhece o setor e a empresa”. Se isso se cumprisse, os danos provavelmente seriam revertidos.

    A indicação de Pires tinha sido bem aceita pelo mercado por se tratar de um nome técnico, especialista do setor de óleo e gás e por não apresentar uma ameaça à política de preços. No entanto, ex-gestores e ex-conselheiros da companhia já vinham apontando risco à sua nomeação, devido exigências da Lei das Estatais.

    Criada para blindar a governança da Petrobras, a lei diz que o CEO não pode nem ser dono, nem ter parentes diretos que comandem ou sejam proprietários ou executivos principais de empresas que indiquem conflito de interesse ou concorrência. Pires é dono do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais), e seu filho ficaria em seu lugar como principal executivo da consultoria o setor de óleo e gás.

    Virginia Parente, professora do IEE-USP, diz que é ruim para qualquer empresa ter uma indefinição em torno do seu presidente.

    Por outro lado, “a Petrobras tem um corpo de diretores e um funcionamento que roda mesmo sem eles. Mas o cargo não pode ficar vago por muito tempo, porque causa estresse”.

    O principal ponto negativo de um fracasso da indicação de Pires, segundo ela, seria a perda de um nome com bom trânsito no Congresso, que poderia ajudar a formular um fundo de estabilização de preços de combustíveis para reduzir o reflexo da volatilidade com a guerra na Ucrânia.

    É preciso ter um comando firme na condução da empresa em momentos como esse, e formar o quanto antes essa reserva de estabilidade, sobretudo porque a população está muito estressada e tem um custo alto nos combustíveis

    Virgina Parente, professora do IEE-USP

    A professora afirma que existem nomes “muito competentes” no setor de petróleo e gás hoje, e que o ideal seria selecionar um nome respeitada na área “o quanto antes, para evitar vácuo”.

    Entretanto, a Assembleia Geral da estatal que avaliaria os indicados pelo governo está marcada para o próximo dia 13, o que ela considera ser um tempo apertado para o processo de avaliação de indicados. Nesse caso, considerar atrasar a assembleia, se fosse possível, poderia ser melhor.

    A desistência de Pires tem como principal efeito, na visão de Parente, um “aumento de custos para futuros indicados”. “Eles vão ficar preocupados com essa reação em ano eleitoral, tem muito acirramento, e o nome precisa ser aprovado, ter apoio político para fazer mudanças necessárias, é preciso ter um curso tranquilo pelo Congresso”.

    “Se forem nomes com habilidades de negociação, que entendam minimamente da área de petróleo e gás, é tudo que precisa no momento, e aí o mercado tende a receber isso bem. Mas também demanda uma recepção boa pelo Congresso”.

    Oliveira avalia que o tempo de análise dos indicados, tanto de Pires e Landim quanto de possíveis novos nomes, não segue o cronograma ideal, mas ainda é factível, e é resultado de uma sobreposição do tempo da “política” em relação ao do “direito societário”.

    Por mais que a situação esteja “longe do ideal”, o professor afirma que o maior problema não está na questão de conflito de interesse, relativamente comum, mas sim um “conflito permanente” da Petrobras com seu acionista majoritário, o governo.

    “É muito ruim quando a União critica através do seu representante máximo, o presidente, a empresa e as políticas. Desvaloriza a empresa, coloca dúvidas sobre a coordenação dentro do governo. O acionista precisa ter um relacionamento profissional com quem indica”, diz.

    Efeitos nas ações

    Na segunda-feira (4), as ações da Petrobras já começaram as negociações em queda de cerca de 1% devido à desistência de Landim, e o movimento ganhou mais força, na casa dos 2%, quando a possibilidade de Adriano Pires também desistir foi levantada.

    Flavio Conde, head de Renda Variável da Levante Ideias de Investimentos, vê a troca de dirigentes como desnecessária devido ao bom trabalho que Silva e Luna vinha fazendo, e a pressa na mudança pode ter levado ao problema atual.

    O cenário “faz com que o investimento na empresa aumente o risco e perca credibilidade, a empresa historicamente nunca esteve com múltiplos tão baratos”, diz, mas isso ainda não se reflete na atração de investimentos compatíveis a esse potencial.

    Mesmo que as ações caiam, Conde vê uma chance de recuperação porque “a empresa está muito barata”, mas isso demandaria um nome bem-visto pelo mercado, como Pires.

    “Essa incerteza faz com que as pessoas cada vez mais diminuíam a sua posição na Petrobras. Vários investidores já cansaram da ação”, afirma.

    Ele cita uma migração para a PetroRio e 3R Petroleum, no setor de petróleo, e para a Vale, na área de mineração, como consequência desse cansaço.

    Já Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama Investimentos, afirma que o mercado não respondeu negativamente à demissão de Silva e Luna, um comportamento diferente do tombo nos papéis quando Roberto Castello Branco foi demitido da empresa.

    O motivo seria a percepção de que o novo indicado, Pires, cuidaria da empresa da mesma forma que o antecessor, sem afetar na política de preços, o grande medo dos investidores.

    “Do ponto de vista de ações, o impacto acaba não sendo tão grande, porque se já havia escolhido um time semelhante ao atual, não teria porque não fazer o mesmo hoje”, avalia.

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