Entenda por que empresas decidem “desmembrar” suas ações na bolsa
Movimento conhecido em inglês como split visa ampliar base de investidores de uma companhia que pretende levantar mais capital no momento que realizar um follow-on
A empresa controladora do Google, Alphabet, realizou um desdobramento de suas ações em 20 partes iguais, na segunda-feira (18), o que levou os preços dos papéis de US$ 2.200 para cerca de US$ 110, queda de 95% – os BDRs caíram na mesma proporção.
Esse movimento é conhecido em inglês como split, e tem por objetivo ampliar a base de investidores de uma companhia que pretende levantar mais capital no momento que realizar um follow-on (oferta de ações subsequentes).
No Brasil, a última companhia a realizar o processo foi a Kepler Weber, em maio, quando dividiu seus papéis de um para três. A Magazine Luiza também já fez vários desdobramentos nos últimos anos.
As companhias, independente do país de listagem, costumam optar pelo desdobramento quando seus papéis estão sendo negociados a preços considerados extremamente elevados, “o que tende a afastar os investidores, já que existem outras ações dez vezes mais baratas”, diz Bruno Madruga, sócio e Head de Renda Variável da Monte Bravo Investimentos.
Se uma ação chega, por exemplo, a R$ 200, a companhia pode optar por desmembrá-la em 20 de R$ 10. É importante ressaltar que esse processo altera apenas o número de ações à venda e o preço unitário delas, mas o valor de tudo reunido, que é o valor de mercado da companhia, não muda. O valor que um investidor tenha aplicado nelas também não.
No Brasil, por exemplo, a medida é normalmente tomada quando uma ação chega perto dos R$ 100, mas não é uma regra. No caso da mineradora Vale, por exemplo, as ações chegaram perto dos R$ 120 em maio de 2021, mas a empresa não fracionou seus papéis.
Com essa decisão, a companhia aumenta a liquidez das ações, visto que há um custo menor e mais investidores terão a possibilidade de negociar seus papéis.
Para adquirir um lote de uma ação com preço muito alto, o investidor precisa desembolsar uma quantia muito grande de dinheiro, dificultando assim a diversificação de carteira, declarou Rodrigo Azevedo, economista e sócio-fundador da GT Capital Investimentos.
Victor Bueno, analista da Nord Research, explicou também que se o mercado entender que o investimento em uma determinada empresa é bom, “fica mais interessante para as companhias emitirem novos papéis via follow-on (que estarão valorizados por conta do desdobramento) para captarem recursos”.
A valorização ocorre porque os investidores costumam comprar os ativos esperando que o preço do papel seja retomado ao patamar pré-desdobramento.
Mas não é sempre o que acontece. Quando a Magazine Luiza desdobrou seus papéis em quatro partes em meados de novembro de 2020, os acionistas esperavam que o ativo voltasse ao patamar anterior de R$ 27,34.
Contudo, desde então, caíram mais de 90% – os papéis têm sido negociados por pouco menos de R$ 3.
É bom para os acionistas?
O procedimento pode ser interessante aos proprietários dos papéis, porque passam a ter um ativo muito mais líquido, facilitando a compra e venda da ação, disse Azevedo.
“Mas é preciso tomar cuidado porque pode existir uma falsa sensação de [possível] retomada dos preços”, como o caso da varejista de móveis e eletrodomésticos, diz Bueno, da Nord Research.
Os analistas da Toro afirmaram também que outro problema para o acionista após a divisão é que as ações passam a representar apenas uma determinada fração do capital da empresa. “Isso significa que [se o ativo for divido no meio, por exemplo], cada ação terá direito a metade do dividendo, dos ganhos e dos bens que já detiveram uma vez”.
Para realizar tal procedimento, as empresas precisam informar aos investidores via fato relevante, caso contrário, podem ser acionadas pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) ou, nos EUA, pela SEC (Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos).
O acionista também pode consultar esses documentos no site da B3 e no site de Relações com Investidores da empresa listada.
Hora de comprar?
Os especialistas declararam que a decisão de compra de um papel não deve ser baseada somente na realização de split.
“Esse evento por si só não gera valor [apenas divide o preço do papel] e não representa qualquer mudança nos fundamentos da companhia”, disse o economista da GT Capital.
“Mas, histórica e teoricamente, é mais vantajoso comprar no pré-split [quando a empresa apenas anunciou que irá desdobrar os papéis]”, disse o head da Monte Bravo. “Porque você já terá o papel com valor elevado, porém, por conta da penetração de mais investidores, a tendência é o preço subir após ser dividido [e o acionista ter um melhor retorno]”.
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