Em três meses, investimento estrangeiro na B3 tem saldo de R$ 67 bilhões
B3 havia informado inicialmente que valor era de R$ 92 bilhões, mas corrigiu a informação nesta sexta-feira, anunciando mudança de metodologia
Dados da B3, empresa responsável por gerenciar a bolsa de valores, mostram que entre janeiro e 30 de março deste ano, o saldo de investimentos estrangeiros foi positivo, de R$ 67,09 bilhões.
Inicialmente, a B3 informava que o saldo havia sido de R$ 92 bilhões —o que seria equivalente a 90% do valor total de 2021, quando foi de cerca de R$ 102 bilhões. Entretanto, a companhia informou nesta sexta-feira (1º) que realizou uma mudança na metodologia de análise, excluindo os dados de empréstimos de ativos por não representarem fluxo financeiro. Com isso, o novo valor é de R$ 67,09 bilhões.
A reportagem foi corrigida com os novos dados informados. Os valores divulgados de 2020 e 2021 também serão revistos, mas ainda não foram divulgados.
Os dados agora passam, segundo Luiz Kondic, diretor-executivo de produtos da B3, a refletir as operações feitas por esses investidores nos mercados à vista, opções e termo.
Mesmo assim, a quantia fica bem à frente da de anos anteriores, reforçando um processo de retorno do capital estrangeiro para o Brasil após um distanciamento a partir de 2015, com a crise econômica.
Para especialistas consultados pelo CNN Brasil Business, o ano de 2022 deve trazer uma entrada recorde de investimentos estrangeiros para a bolsa de valores brasileira, com um desempenho ainda melhor que o de 2021.
Causas
Pedro Albuquerque, CEO da plataforma de dados de mercado Economatica, afirma que a entrada de investimentos estrangeiros em 2022 não se resume à bolsa de valores ou à renda variável, mas sim a todo o mercado brasileiro, incluindo a chamada renda fixa.
Para ele, as principais causas ligadas a esse fluxo, em especial a entrada na bolsa de valores, já existiam em 2021, o que explica o valor recorde naquele ano, mas ganharam ainda mais força em 2022.
A de maior peso é a forte valorização das commodities, que começaram a subir ano passado devido ao descompasso entre oferta e demanda enquanto a economia mundial retomava após os fechamentos com a pandemia.
Já neste ano, esses mesmos produtores, em patamares elevados, acabaram subindo ainda mais com a guerra entre Ucrânia e Rússia, especialmente pelos países serem grandes produtores de uma série de commodities, caso do petróleo e do trigo.
Nesse cenário de alta, os investidores buscam mercados com forte peso de commodities, e o Brasil, em que as empresas produtoras de commodities correspondem a cerca de 30% do Ibovespa, é “um dos países mais lógicos para se investir”.
Fernando Ferreira, estrategista chefe e head de research da XP, também cita como fator uma fuga de capital estrangeiro de uma série de mercados estrangeiros, um movimento que já havia começado em 2021 e ganhou força em 2022.
“O Brasil aparece muito bem versus outros grandes países emergentes no relativo. Não é necessariamente que os investidores estão otimistas com o Brasil em si, mas todos os emergentes têm problemas, e alguns maiores que os nossos”, diz.
Ele cita o caso da China, que afastou investidores devido às intervenções governamentais em empresas, problemas no setor imobiliário e efeitos da política de “Covid zero”. São causas semelhantes à saída de capital em Hong Kong, e Taiwan também tem perdido investidores devido às tensões com a China.
Ainda na Ásia, há o caso da Coreia do Sul, cuja bolsa é fortemente dependente de empresas de tecnologia, com desempenho pior em um cenário de alta de juros pelo mundo, e também da Índia, um mercado “atrativo, mas caro”.
“Os investidores estão saindo da Ásia, e sem esses cinco grandes mercados, o maior é o Brasil”, avalia Ferreira.
Albuquerque lembra ainda que outro emergente de peso, a Rússia, se fechou para investidores estrangeiros devido às sanções de países ocidentais, e o Brasil conseguiu atrair parte desse capital.
“O Brasil é um mercado emergente grande. Existem fundos de mandato específico para emergentes, é a estratégia deles, e com problemas na China, Rússia, acaba potencializando o fluxo para cá”, afirma.
Ferreira aponta também que os investidores estrangeiros têm priorizado ativos menos expostos à alta de juros e da inflação que vem ocorrendo mundialmente. Dois setores favoráveis nesse aspecto são os de commodities e bancos, muito fortes na bolsa brasileira, o que atrai o capital.
“O exemplo disso é que, das cinco melhores bolsas no mundo hoje em desempenho, quatro estão na América Latina e uma na África. São locais com forte peso de commodities”, afirma.
O economista cita ainda o fato de os ativos na bolsa estarem, em geral, muito baratos. “Se olhar o indicador de preço sobre lucro, a média é 11,5 vezes, está em 8. Os lucros foram revisados para cima, muito por conta dessa questão das commodities, e isso ainda não se refletiu em preço. A bolsa subiu menos que a revisão de lucro”.
Como última causa para o quadro atual, Ferreira diz que o câmbio valorizado, com o real negociado abaixo de R$ 5 pela primeira vez desde o primeiro semestre de 2021, também atrai os investidores estrangeiros, que se sentem mais seguros e com menos chances de terem perdas por variações bruscas.
Até quando o fluxo vai durar?
Para o CEO da Economatica, as causas atuais para a entrada de capital estrangeiro na bolsa e no Brasil como um todo tendem a se manter em 2022. Ele aposta que o saldo final no ano deve superar o de 2021, que já havia sido recorde.
Um dos motivos para isso, segundo ele, está na visão do mercado em relação às eleições neste ano. “Vai ser uma eleição truculenta, disputada, mas mais benigna no lado econômico”, diz.
Ele cita a tendência de o ex-presidente de Lula escolher o ex-governador Geraldo Alckmin para compor sua chapa, o que indica um governo fora dos extremos, e a tendência de que, se o presidente Bolsonaro for reeleito, as reformas já feitas tenham continuidade.
“O cenário com qualquer um dos dois seria possivelmente de bolsa em alta, mas dependendo também de quem o Lula indicar para ministro da Economia. Na margem, [a eleição] é mais positiva do que se parecia ser em 2021”, avalia.
Albuquerque afirma que o ciclo de alta de commodities vai acabar em algum momento, mas que é possível que os investidores estrangeiros não saiam do Brasil quando isso ocorrer devido às boas oportunidades atualmente com ativos ligados ao mercado interno, caso do setor de varejo, cujas ações “estão muito baratas”.
Ferreira também aposta em um ano de 2022 melhor do que 2021. Um sinal disso, aponta, é o crescimento na participação dos investidores estrangeiros no total investido na bolsa, que teve forte queda a partir de 2015, mas engatou em uma recuperação.
Até março de 2022, estava na casa dos 53%, sendo que a média histórica é de 55%, o que indica ainda uma margem de crescimento.
Junto a isso, “quando olha esses R$ 90 bilhões, obviamente parece um número muito significativo, mas quando traduz em dólares e compara com o mercado lá fora, ainda é muito pouco”.
“O Brasil já chegou a ter quase 20% do índice de mercados emergentes no último superciclo de commodities, em 2007. Essa participação vem caindo desde então, principalmente com a entrada da China, hoje em torno de 4%. Não é que vai voltar para 20%, mas o Brasil realmente tem muito a recuperar com relação aos mercados globais”, diz.
A avaliação dele é que o ciclo atual de busca por commodities e saída de mercados asiáticos não deve parar tão rápido. Já o grau de impacto das eleições dependerá dos discursos adotados ao longo do ano, mas “hoje, o estrangeiro não olha como um cenário de ruptura, não vê muito risco, independente de quem ganhe”.
O próprio ciclo de alta de juros nos Estados Unidos pode acabar ajudando a manter o fluxo para o Brasil. Segundo ele, historicamente o início de alta de juros pelo Federal Reserve costuma ocorrer ao mesmo tempo em que a bolsa brasileira tem bom desempenho.
“Acredito que isso ocorre porque a alta de juros lá fora acontece quando commodities e inflação sobem e a economia dos Estados Unidos vai bem, então é um bom cenário para bolsa de mercados cíclicos, como o Brasil”, afirma.
Ele diz, porém, que o problema para mercados como o brasileiro tende a ocorrer no fim desse ciclo, como em cenários de recessão, os quais tendem a levar à saída de investimentos estrangeiros. Enquanto esse momento não chegar, o Brasil deve continuar sendo um mercado atrativo para os investidores de outros países.
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