Ibovespa muda de rumo e fecha em queda, puxado por Petrobras
Ainda assim, índice acumulou ganho de 11,71% na semana, melhor desempenho semanal desde começo de março de 2016
O principal índice da bolsa brasileira fechou em queda nesta quinta-feira (9), após superar os 80 mil pontos mais cedo. A guinada seguiu a piora de papéis de grande peso na composição do índice, como Petrobras. A véspera do fim de semana prolongado pelo feriado de Páscoa também deixou investidores cautelosos e referendou alguma realização de lucros após três altas seguidas.
O Ibovespa encerrou o pregão em desvalorização de 1,2%, a 77.681 pontos. No melhor momento do dia, chegou a subir 2,3%.
Ainda assim, o índice acumulou ganho de 11,71% na semana, melhor desempenho semanal desde começo de março de 2016.
O enfraquecimento do Ibovespa acompanhou a piora das ações preferenciais da Petrobras, que fecharam em queda de quase 3% após avançarem mais de 6% mais cedo, quando o preço do petróleo Brent chegou a subir 10,8%.
Alguns agentes do mercado acreditam que o pior momento da bolsa brasileira esteja ficando para trás, mas a visão não é consenso. O que todos acordam é que a volatilidade seguirá elevada, acompanhando as incertezas em relação aos impactos do coronavírus na economia.
Para o analista Ilan Arbertman, da Ativa Investimentos, há ainda uma disfuncionalidade muito forte nos mercados globais, que não mostra sinais de que irá arrefecer no curto prazo, o que reforça a cautela, principalmente antes de um feriadão.
“E quando falamos somente de Brasil, há ainda um risco político que está longe de ser desprezível”, observou, acrescentando que ruídos nessa variável podem fazer a recuperação do país ser mais lenta do que em outros pares.
A alta que a bolsa brasileira chegou a registrar mais cedo teve suporte em notícias mais positivas da evolução do coronavírus na Espanha e Itália, e também em novas medidas e declarações do banco central dos Estados Unidos de que não poupará esforços para ajudar a economia.
Reunião da Opep+ frustrou expectativas
Nesta sessão, na visão de Arbertman, o gatilho para as vendas que levaram o índice para o vermelho veio da frustração com o desfecho de uma reunião da Opep+, que havia gerado grande expectativa de acordo para um corte robusto na produção de petróleo, o que não aconteceu. “O acordo até veio, mas em menor potência que o possível.”
O grupo da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados, incluindo a Rússia, ventilou rumores de um corte de 15 milhões a 20 milhões de barris por dia (bpd), ou 15% a 20% do suprimento global.
No entanto, o ministro do petróleo do Irã disse que um corte de produção de 10 milhões de barris por dia valerá apenas para maio e junho de 2020. De julho até o final de 2020, a redução de produção será de 8 milhões de barris por dia e, a partir de janeiro de 2021, de 6 milhões.
Como resultado, o Brent LCOc1, que chegou a subir 10,8%, fechou em queda de 4,14%, a US$ 31,48 o barril. Analistas avaliam que a redução prevista na produção não deve compensar o colapso na demanda em razão da pandemia do coronavírus.
Lá fora
Ao redor do mundo, a perspectiva de que a pandemia de coronavírus está atingindo um pico conseguiu segurar bolsas no azul, mas isso foi incapaz de segurar o Ibovespa.
Os índices acionários da China fecharam em alta e os mercados da Europa tiveram valorização pelo quarto dia consecutivo, com o alemão DAX subindo cerca de 2,24% e o londrino FTSE ganhando 2,90%.
Wall Street também fechou em alta depois do anúncio de novos estímulos pelo banco central dos EUA e ainda diante da notícia de que os pedidos de auxílio-desemprego no país caíram na semana passada. O Dow Jones subiu 1,2%, o S&P 500 ganhou 1,44%, e o Nasdaq Composite teve valorização de 0,77%.
Destaques do pregão
Petrobras PN fechou em queda de 2,89%, após subir 7,9% na máxima da sessão, acompanhando o enfraquecimento dos preços do petróleo no exterior. Petrobras ON recuou 3,66%. Fontes afirmaram à Reuters que a Petrobras reduziu o fornecimento de combustíveis para distribuidoras brasileiras afetadas pela queda na demanda provocada pela pandemia de coronavírus.
Itaú Unibanco PN caiu 2,81%, em sessão marcada por novas medidas para o setor financeiro a fim de aliviar os efeitos econômicos da pandemia. Bradesco PN cedeu 0,04% e Banco do Brasil ON teve variação negativa de 0,27%. O BC afrouxou o requerimento de capital das operações de crédito destinadas a pequenas e médias empresas, numa investida com potencial de liberar cerca de R$ 3,2 bilhões no sistema para novos financiamentos.
Suzano ON recuou 6,74%, em destaque na ponta negativa, em sessão com queda de 1% do dólar em relação ao real. Mais cedo, o presidente-executivo da empresa, Walter Schalka, disse que fabricantes de papel na China estão operando à plena capacidade, e que a Suzano pretende reduzir investimentos previstos para este ano.
Eletrobras ON subiu 5,29%, após medida provisória para viabilizar ações de apoio ao setor elétrico, o que tende a aliviar preocupações com eventual inadimplência, que poderia vir a afetar geradoras, como é o caso da elétrica de controle estatal.
Ecorodovias ON avançou 5,63%, tendo de pano de fundo dados de tráfego de veículos, que a equipe do Bradesco BBI considerou estarem se estabilizando. CCR ON fechou em alta de 3,31%.
*Com Reuters