Após IPO, Multilaser quer ampliar portfólio de produtos e crescer fora do Brasil
Hoje a empresa possui mais de duas dezenas de marcas próprias e outra dezena de parceiras para produzir produtos de multinacionais para o mercado local
Novata na B3, a Multilaser chegou à bolsa brasileira de forma quase repentina. Não que a empresa de tecnologia não tivesse espaço por lá. Mas sim porque, pelo menos internamente, o plano era visto como algo relativamente distante.
“Era algo que estava no canto das nossas mentes, mas não era um projeto prioritário. Mas, em janeiro de 2021, vimos um crescimento forte dos negócios e precisávamos de capital de giro. Poderíamos, então, contrair uma dívida ou abrir capital. Escolhemos a segunda”, diz Alexandre Ostrowiecki, CEO da Multilaser.
“Completamos todo o processo em quatro meses. Como o nosso tipo de negócio não é óbvio, porque produzimos muitos produtos, também precisamos realizar um trabalho quase educativo durante o roadshow. Mas ainda conseguimos pegar janela adequada e considero que a abertura foi um sucesso.”
Fundada em 1987 para atuar no ramo de cartuchos de tinta para impressoras, a empresa foi se tornando um “Frankenstein” ao longo do tempo. Hoje possui mais de duas dezenas de marcas próprias e outra dezena de parceiras para produzir produtos de multinacionais para o mercado local.
A oferta inicial de ações da empresa saiu a R$ 11,10, perto do piso da faixa estimada pelos coordenadores, de R$ 10,80 a R$ 13 por papel. A operação envolveu a venda de 198.160.223 ações, movimentando R$ 2,2 bilhões. Desse total, cerca de R$ 1,9 bilhão corresponderam à oferta base e foram para o caixa da companhia.
Com essa grana, Ostrowiecki pretende reforçar algumas das frentes pré-existentes na empresa e alavancar outras.
Portfólio de produtos
Com uma amplitude de produtos que vai desde notebooks e televisores até produtos para pets e bebês, a marca pode assustar um investidor menos informado. Mas o gestor garante que há um método por trás das expansões heterogêneas, e que elas devem continuar ocorrendo.
“Tudo o que fazemos tem uma lógica por trás. A tecnologia torna a vida das pessoas melhor, e é isso que queremos proporcionar. Investir no mercado pet é uma extensão disso, já que as pessoas estão tendo menos filhos. Foi pensando nisso que compramos a Expet, marca de tapetes higiênicos, em junho”, diz.
“E há outros caminhos. No ramo de eletroportáteis, por exemplo, ainda podemos crescer muito. Não produzíamos, até pouco tempo, liquidificadores, batedeiras e ventiladores, que lideram este mercado. Também devemos aumentar a produção de computadores e celulares.”
O executivo explica que, apesar dos planos, ainda está difícil conseguir negociar a compra de chips no mercado internacional. No entanto, os preços deixaram de subir nos últimos meses.
Para escalar a produção, a Multilaser também irá fazer investimentos de infraestrutura. A fábrica de Manaus, no Amazonas, deverá ser aumentada em 70%, absorvendo a produção de uma nova linha de televisores. Já a fábrica de Extrema, em Minas Gerais, crescerá em outros 60%.
Expansão internacional
O reforço será importante porque, além da crescente ambição interna da empresa, há dois tipos de atividades externas ganhando espaço na operação. A primeira delas, já estabelecida, envolve a parceria com empresas internacionais para assumir a produção e distribuição de produtos estrangeiros por aqui. Toshiba, Nokia e Sony estão entre elas.
E a segunda estratégia, mais recente, é a ampliação do potencial exportador da empresa. Começando por Uruguai (onde terá galpão logístico) e Argentina, a Multilaser também pretende levar seus produtos, num segundo momento, para países como México, Bolívia, Chile, Portugal e Angola.
“Com o frete internacional subindo muito nos últimos tempos, a importação de produtos da China encareceu muito. Então, pensamos em aproveitar os benefícios do Mercosul e acrescentar os países de língua portuguesa, para os quais já temos manuais prontos, para começar a reforçar nossa exportação”, afirma.
Fusões e aquisições
Parece muita coisa, e é. Mas Ostrowiecki não para por aí. Segundo o prospecto apresentado pela companhia aos investidores durante a abertura de capital, sobram ainda 15% do valor arrecadado pelo IPO, montante que deverá ser utilizado para comprar outros negócios.
“Estamos falando com empresas, principalmente de bens de consumo. Fazer algo do zero demora muito mais tempo do que comprar, mas precisa ser o investimento certo. Procuramos algum produto que ainda não temos, com canais de venda diferentes dos nossos, marca consolidada e produção não muito complexa”, elenca.
Ambiente de negócios
A Multilaser registrou lucro líquido de R$ 202,3 milhões no segundo trimestre deste ano, alcançando alta de 122,9% em relação ao mesmo período do ano passado. No acumulado do primeiro semestre, o lucro líquido alcançado foi de R$ 395,9 milhões, aumento de 376,2% em comparação a 2020.
Em termos de receita líquida, totalizou R$ 1,237 bilhão, aumento de 103,4% ante mesmo período de 2020. Considerando o acumulado do ano, a receita líquida chegou a R$ 2,640 bilhões, crescimento de 142,8% sobre o mesmo período do ano passado.
Apesar disso, e com um momento mais fraco do mercado, o executivo não espera céu de brigadeiro pela frente. “Temos inflação alta, gasolina cara, PIB retraindo. Isso tende a dar uma enfraquecida nos negócios no segundo semestre. Mas ainda temos Black Friday, Natal e 13º salário, que podem ajudar.”
Desde a abertura de capital, em julho, os papéis da empresa despencaram mais de 30%. Apesar disso, o Itaú BBA iniciou a cobertura das ações com recomendação de compra e preço-alvo de R$ 14,70 até o final de 2022.