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    Ações da Evergrande sobem mesmo com proximidade de data para pagamento de dívida

    Empresa precisa pagar US$ 83,5 milhões em juros de títulos de dívida estipulados em dólar até esta quinta-feira (23)

    Laura Heda CNN

    É uma hora decisiva para o fortemente endividado Grupo Evergrande, sediado na China. O conglomerado do setor imobiliário enfrentará um teste crítico nesta quinta-feira (23): ele consegue cumprir com suas obrigações com os acionistas ou ficará mais próximo do calote?

    A Evergrande precisa pagar US$ 83,5 milhões em juros de títulos de dívida estipulados em dólar, segundo dados da plataforma Refinitiv. Ainda não está claro se a empresa fará o pagamento, e ela não comentou sobre o assunto até o fechamento das negociações na bolsa de Hong Kong.

    Investidores ficaram abalados com o risco de que uma das maiores incorporadoras da China pudesse colapsar, o que gerou ondas de choque pela segunda maior economia do mundo.

    A empresa também precisava pagar os juros de títulos de dívida em iuan no mesmo dia, mas ela conseguiu fazer um acordo com os detentores dos títulos, segundo informações divulgadas pela Evergrande na quarta-feira (22).

    Após o anúncio, as ações da Evergrande chegaram a subir até 32% na quinta-feira, na reabertura da bolsa de Hong Kong após um feriado. Elas fecharam em alta de 18%.

    O índice Hang Seng terminou o dia com avanço de 1,2%, impulsionado por papéis de incorporadoras e empresas do setor financeiro.

    “O sentimento está muito melhor depois da notícia de ontem”, disse Julian Evans-Pritchard, um economista sênior sobre China na Capital Economics. Mas o cenário para o pagamento dos títulos no exterior permanece “incerto”, e a Evergrande “ainda está longe de resolver seus problemas”, afirmou.

    “Nós veremos se a Evergrande fará mais calotes. Mesmo se ela evitar um calote hoje, a situação não vai melhorar, a menos que o governo interfira”, disse Evans-Pritchard.

    A Chinese Estates, a segunda maior acionista da Evergrande e uma aliada de longa data da empresa, disse na quinta-feira em um documento na bolsa de valores que já vendeu ações da Evergrande no valor de 246,5 milhões de dólares de Hong Kong (US$ 31,7 milhões) nas últimas semanas.

    A empresa também pode vender suas ações remanescentes, acrescentou. As ações da Chinese Estates ganharam 5,5% em Hong Kong.

    Mesmo que a Evergrande não faça o pagamento do título de US$ 83,5 milhões na quinta-feira, ainda pode ter algum tempo.

    A empresa tem um período de carência de 30 dias antes de “oficialmente entrar em calote”, escreveu Jeffrey Halley, analista de mercado sênior para Ásia-Pacífico da Oanda, em uma nota de pesquisa esta semana.

    Mas qualquer prazo perdido alimentará a ansiedade dos investidores quanto à viabilidade da empresa.

    A Evergrande está enfrentando dívidas no valor de US$ 300 bilhões, amplamente detidas por instituições financeiras chinesas, investidores de varejo, compradores de residências e seus fornecedores nas indústrias de construção, materiais e design.

    Os investidores estrangeiros também possuem algumas de suas dívidas. Nas últimas semanas, a empresa alertou os investidores duas vezes de que poderia fazer um calote se não conseguisse levantar dinheiro rapidamente.

    Pequim salvará a Evergrande?

    O mercado imobiliário responde por mais de 7% da economia chinesa, segundo dados oficiais. Alguns analistas estimam que o número poderia ser muito maior se outras indústrias relacionadas, desde construção a fornecedores de materiais, fossem incluídas.

    De acordo com pesquisadores da Berenberg, estima-se que as atividades imobiliárias respondam por até 29% do PIB (Produto Interno Bruto) da China, e muitos acreditam que o governo chinês eventualmente intervirá em algum nível, mesmo que um resgate total seja improvável.

    Ainda não está claro se a empresa realmente ficará inadimplente ou se Pequim vai intervir e orquestrar algum tipo de reestruturação para conter as consequências para o sistema financeiro e a economia chinesa em geral.

    Em vez de um resgate, os analistas esperavam que o foco do governo fosse orientar a Evergrande por meio de uma reestruturação da dívida ordeira ou um processo de falência, ao mesmo tempo em que facilita as negociações e o financiamento para garantir que os pequenos investidores e compradores de residências sejam protegidos “tanto quanto possível”.

    Somente se o contágio de Evergrande causasse o colapso de outros grandes incorporadores, o governo interviria diretamente, acrescentaram. Mas eles acreditam que apenas o golpe de Evergrande no sistema financeiro ainda será “administrável”.

    Os economistas do Macquarie Group, por sua vez, também não acreditam que um “resgate por atacado” de Evergrande seja provável.

    “O governo garantirá que os apartamentos pré-vendidos sejam feitos e entregues aos compradores”, disseram eles, embora tenham acrescentado que os acionistas e credores podem “sofrer um grande prejuízo”.

    No entanto, Pequim fará questão de evitar qualquer escalada de protestos montados recentemente por investidores e proprietários de apartamentos, que se reuniram em frente à sede da Evergrande em Shenzhen para exigir seu dinheiro de volta.

    Preocupações de longa data

    Os problemas de Evergrande estão fermentando há algum tempo. Nos últimos anos, as dívidas aumentaram à medida que ela fazia empréstimos para financiar seus vários negócios, desde habitação e veículos elétricos até esportes e parques temáticos.

    Então, em agosto de 2020, Pequim começou a controlar o endividamento excessivo do setor imobiliário na tentativa de evitar o superaquecimento do mercado imobiliário e de conter o crescimento da dívida.

    Nas últimas semanas, a crise de liquidez de Evergrande se intensificou, provocando uma nova queda nas ações e títulos da empresa.

    A necessidade de “suavizar o golpe” para os pequenos investidores provavelmente será o foco de qualquer reestruturação da Evergrande, de acordo com Robert Carnell, chefe de pesquisa para a Ásia-Pacífico do ING Economics.

    Ele citou a recente ênfase do presidente chinês Xi Jinping na “prosperidade comum” e na necessidade de redistribuir a riqueza no interesse da “justiça social”.

    Essa promessa influenciou a ampla repressão de Pequim aos setores de tecnologia, finanças, educação e outros, ao culpar o setor privado por causar riscos financeiros e exacerbar a corrupção e a desigualdade.

    (Texto traduzido. Clique aqui para ler o original em inglês)

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