96% dos fundos de previdência de renda fixa não superam a Selic, diz levantamento
Comparação dos rendimentos foi feita com o CDI, que é uma taxa bem próxima à Selic e usada como referência para o rendimento médio da renda fixa no país
A opção preferida do brasileiro para investir sua aposentadoria não tem sido capaz nem de superar a taxa Selic: 96% dos fundos de previdência de renda fixa rendem menos que o CDI há mais de dez anos.
O dado faz parte de um levantamento divulgado em primeira mão para a CNN pela casa de análise Spiti. Para chegar ao resultado, o estudo considerou 179 dos 198 fundos disponíveis no mercado, ou todos os fundos de previdência de renda fixa abertos do mercado, que somam um patrimônio de R$ 306,9 bilhões.
A comparação dos rendimentos foi feita com o CDI, que é uma taxa bem próxima à Selic e usada como referência para o rendimento médio da renda fixa no país.
Em outras palavras, é como se os brasileiros estivessem investindo a renda de toda uma vida, o dinheiro guardado para garantir o sonho da aposentadoria tranquila, em produtos que rendem menos que o título mais conservador do Tesouro Direto, o Tesouro Selic. Esse título garante rendimento de 100% da taxa básica, o que 96% dos fundos não têm conseguido fazer, como mostra o levantamento.
“Esses fundos de renda fixa concentram mais de 80% dos investimentos em previdência privada no país. É uma parcela gigante de recursos investida em fundos que são muito ruins. E esse é justamente o dinheiro de mais longo prazo, onde poderia estar a maior diversificação”, diz Luciana Seabra, CEO e fundadora da Spiti.
Diversificação
Ainda que muitos investidores desconheçam as várias opções de fundos, os planos de previdência podem aplicar em fundos de renda fixa, multimercados, ações. O mesmo leque de opções de fundos disponível para investimentos no geral hoje também está disponível para os fundos de previdência.
Luciana recomenda, portanto, que o investidor não tenha apenas um produto previdenciário. “Hoje há fundos de previdência multimercados de gestoras como SPX, Kinea, Gávea, que são muito tradicionais. O investidor pode diversificar a aposentadoria, por exemplo, investindo 40% em multimercados, 30% em ações —ou menos, se for mais conservador— e 30% em renda fixa. Normalmente, as pessoas entram direto no plano oferecido pela empresa, mas é bom dar pelo menos uma espiada nessas outras opções”, diz.
Com planos de previdência com rendimentos que não superam nem a Selic, outra opção muito recomendada por especialistas em finanças para a aposentadoria é o Tesouro IPCA, título público que paga a variação da inflação mais uma taxa de juros. Entre os títulos disponíveis hoje no Tesouro Direto, há opções de Tesouro IPCA que pagam IPCA mais uma taxa de 5,73%.
A diferença entre investir por conta própria, em um título público, ou em um fundo, é que o fundo de previdência pode gerar uma cobrança menor de Imposto de Renda e traz mais comodidade, já que um gestor profissional escolhe as aplicações para o investidor. Mas essa praticidade tem custo, já que ao investir por meio de um plano de previdência, o poupador paga taxas, o que não acontece no investimento no Tesouro, por exemplo.
“O produto previdenciário tem muita economia de imposto embutida. Dá para chegar a um Imposto de Renda de 10%, menor do que o dos títulos do Tesouro, que permitem chegar a um Imposto de Renda de, no mínimo, 15%. Mas alguns fundos, como esses de renda fixa, têm taxas muito altas para o que se prezam a fazer, que é um investimento pouco sofisticado”, diz Luciana.
Portabilidade
Para identificar se o fundo é vantajoso ou não, a CEO da Spiti recomenda pesquisar sobre o produto em sites que comparam investimentos e que estão disponíveis para consulta de forma gratuita. “Se o seu fundo rende menos que o CDI, os fundos de previdência têm uma grande benesse que é a possibilidade de fazer a portabilidade e migrar os recursos para um outro fundo”, diz.
A possibilidade de fazer a portabilidade dos planos de previdência surgiu em 2001, com a criação da Lei de Previdência Complementar. A lei passou a permitir a transferência dos recursos dos planos de previdência privada de um banco para outro, sem que o investidor precise resgatar os valores e reinvestir — o que levaria à cobrança de impostos.