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    Inflação de abril não é suficiente para mudar narrativa do BC sobre Selic, dizem analistas

    IPCA desacelerou para 0,61% na comparação mensal e chegou a 4,18% no acumulado de 12 meses; dados foram divulgados nesta sexta-feira (12) pelo IBGE

    Tamara Nassifda CNN , em São Paulo

    A inflação de abril, aferida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), desacelerou para 0,61% em abril na comparação mensal e para 4,18% no acumulado em 12 meses. Em março, o IPCA marcou alta de 0,71% e de 1,06% em abril de 2022. Os dados foram divulgados na manhã desta sexta-feira (12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

    Embora o balanço total mostre, objetivamente, um arrefecimento dos preços ao consumidor, especialistas consultados pela CNN afirmam que esta desaceleração não é suficiente para mudar a narrativa do Banco Central (BC) sobre a taxa Selic.

    A autoridade monetária acompanha de perto os dados da inflação do país, o principal termômetro sobre os impactos do aperto monetário sobre a economia, e tem como principal objetivo convergir a taxa inflacionária às metas anuais propostas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

    A meta do governo para o IPCA é de 3,25%, com margem de 1,5 ponto porcentual para cima ou para baixo. Ou seja: o teto da meta é de 4,75% e o acumulado de 12 meses até abril converge para isso.

    “A natureza da inflação exibiu a mesma figura que o IPCA-15 de abril: piora em relação à leitura do IPCA de março e ao que era esperado para hoje”, afirma Andréa Ângelo, estrategista da corretora Warren Rena.

    “Isso não é o suficiente para que o BC mude de narrativa. A inflação subjacente continua em níveis altos e a velocidade da desinflação segue em cheque, embora não tenha trazido piora adicional em relação ao IPCA-15 de abril.”

    Vale lembrar que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), considerado uma prévia da inflação, subiu 0,57% em abril, desacelerando após alta de 0,69% em março. O resultado daquela época, segundo a economista-chefe do Inter, Rafaela Vitória, já não seria o suficiente para alterar a visão do Comitê de Política Monetária (Copom) a tempo da reunião seguinte, que ocorreu entre os dias 2 e 3 de maio.

    A ata da reunião, na análise de especialistas, reforçou a postura rígida que o BC vem adotado há alguns meses em relação à política monetária, afastando a perspectiva de recuo na taxa de juros no curto prazo.

    É uma visão que se estende agora também para André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). Em entrevista à CNN, ele comenta que o resultado de abril mostra que a “pressão inflacionária está espalhada por todos os grupos” — uma análise corroborada pelo próprio IBGE, em coletiva de imprensa após a divulgação do IPCA.

    “Olhando o índice de difusão, que mostra o espalhamento da inflação e qual o conjunto de produtos que apresentou aumento de preços, vemos que ele voltou para 66%. No mês passado, estava em 60%. Isso mostra que a pressão inflacionária está espalhada por todos os grupos, e, exatamente por isso, todos os grupos pesquisados subiram”, avalia.

    Sempre que o índice de difusão fica acima de 60% é sinal de que a inflação está de fato espalhada pelos setores da economia.

    “Além disso, a inflação se manifestou de forma crescente em todas as cidades componentes do IPCA. Então isso é um cenário de maior tensão, que dificilmente vai criar um cenário favorável para a queda dos juros no compasso que imaginávamos.” Se a expectativa do FGV-Ibre era de cortes a partir de julho, agora foi adiado para setembro.

    “A inflação se mostra ainda muito persistente, e isso preocupa a autoridade monetária.”

    O Banco Modal, em comunicado enviado à imprensa, também tem a mesma visão de que o IPCA de abril afasta a perspectiva de corte da Selic no curto prazo. Segundo eles, a leitura inclusive endossa a postura rígida do BC vista nos últimos comunicados.

    “Apesar do desempenho abaixo do esperado em Serviços, outras aberturas, em especial Alimentação e Bebidas, apontam maior resiliência, reforçando que a inflação deve permanecer acima da meta neste ano”, avaliam.

    Para o Modal, a projeção de inflação de 2023 fica em 6,45%, que pode ser alterada caso os preços dos combustíveis sejam reduzidos de fato, como estuda a Petrobras.

    O mercado financeiro, por outro lado, segundo o último Boletim Focus, espera que o IPCA fique em 6,02% em 2023.

     

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