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    Inconsistências contábeis de Magazine Luiza e Americanas são negativas para o varejo, dizem especialistas

    Problemas com balanços das duas varejistas geram dúvidas entre os investidores

    Débora Oliveirada CNN , São Paulo

    Na última semana vieram à tona algumas incorreções contábeis do Magazine Luiza que despertaram muitas dúvidas entre os investidores, principalmente em relação a similaridade com o caso de fraude da Americanas.

    Para o especialista em investimentos no varejo, Gustavo Oliveira, as inconsistências das duas varejistas são diferentes em natureza, tempo de ocorrência e intensidade. Ele acredita que as questões da Magalu são bem menos preocupantes do que as das Americanas.

    Segundo ele, o principal problema da Americanas está relacionado a não contabilização dos empréstimos de risco sacado, que têm origem nas contas a pagar para fornecedores e, ao que tudo indica, existiu por muitos anos, reduzindo as despesas financeiras e nível de endividamento da empresa.

    Na avaliação dos profissionais que participaram da apuração dos fatos, a Americanas criou contratos fictícios de bonificação com fornecedores, o que vai além de uma inconsistência contábil. No caso da Magalu, o Comitê de Auditoria TozziniFreire e advogados identificaram incorreções em lançamentos contábeis também de verbas comerciais.

    “A principal inconsistência identificada é que o reconhecimento do benefício não estava alinhado com o cumprimento das obrigações. Ou seja, o benefício existia, mas a empresa estava se apropriando do benefício antes de concluir as campanhas de venda. São erros contábeis, e os executivos da Magalu não negaram os fatos e procuraram implementar medidas para melhorar o processo”, conclui Gustavo.

    Depois que as incorreções contábeis se tornaram públicas, na bolsa a ação do Magazine Luíza até abriu em queda de quase 10%, mas acabou fechando no positivo e acumula alta de mais de 60% na semana.

    Para o especialista em investimentos no varejo, esse desempenho positivo se deu porque a empresa explicou muito bem a natureza do problema, se empenhou em resolver com celeridade e está implementando um sistema automatizado para validar o cumprimento dos processos acordados com fornecedores, evitando novos lançamentos contábeis antecipados.

    Apesar dos erros contábeis, os resultados trimestrais anunciados pela Magalu foram ligeiramente melhores do que o esperado pelo mercado. Durante conferência com investidores, os gestores confirmaram que os resultados operacionais seguem uma tendência de melhora. As despesas financeiras ainda são altas, mas o prejuízo no trimestre (excluindo efeitos não recorrentes positivos) foi menor do que em 2022.

    Porém, o erros contábeis tendem a ser ruins para qualquer tipo de empresa e podem gerar grandes mudanças na estrutura organizacional e métodos de gestão da companhia.

    E, apesar de aparentemente não existir nenhuma sinalização de que isso vá ocorrer com o Magazine Luiza. Para a sócia e analista de ações da GTI, Paola Mello, fatos como esse são ruins não só para a empresa, como também para a bolsa de valores como um todo e, principalmente, para o setor de varejo.

    “Essa situação do Magazine Luiza literalmente não ajuda o investidor e já tem algumas pessoas classificando o setor, principalmente o de varejo, como um setor que não é mais investível. Porque já tem a complexidade de você ter que pagar o seu fornecedor e vender à prazo para o cliente, então é um capital de giro muito perverso”, afirma.

    Para Paola, esses fatores aliados as recentes fraudes e inconsistências contábeis ajudam a deixar o investidor muito mais receoso.

    O que aconteceu com Magalu e Americanas não é uma exceção das empresas brasileiras. Gustavo Oliveira lembra que no varejo mundial erros de apuração de verbas comerciais são bastante frequentes. “Não existe um formato tão transparente de reporting que permita a investidores identificar erros enquanto estes estão acontecendo.

    Neste ponto, o serviço das auditorias se torna essencial. Os auditores têm muito mais dados e acesso ao processo interno das empresas, o que permite a identificação dos erros. Quando isso ocorre com rapidez e transparência, os impactos nos negócios são menores, e os erros podem ser corrigidos. Isso parece ter sido o caso da Magalu.”

    Veja também: Americanas tem prejuízo de R$ 13 bilhões em 2022

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