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    Ibovespa descola de principais bolsas do mundo e encerra agosto com alta de 6,5%

    Índice brasileiro se recuperou de perdas no segundo trimestre, apoiado em ações de commodities e ativos descontados

    João Pedro Malardo CNN Brasil Business em São Paulo

    O Ibovespa, principal índice da bolsa de valores do Brasil, foi na contramão dos seus pares nas maiores economias do mundo, e encerrou o mês de agosto com forte valorização, mesmo em um mês negativo para os mercados desenvolvidos.

    Considerando a variação no mês, o Ibovespa teve alta de 6,55%, apesar de registrar queda de 0,82% nesta quarta-feira (31), último dia de agosto, e fechar um pouco abaixo dos 110 mil pontos.

    Já nos Estados Unidos, as duas bolsas do país operaram com perdas em agosto. O Dow Jones recuou 4,07%, enquanto o S&P 500 caiu 4,24% e o Nasdaq, que é exclusivo da bolsa de mesmo nome voltada a ações de tecnologia, desvalorizou 5,16%.

    O cenário foi semelhante na Europa. O FTSE 100, principal índice da bolsa de Londres, perdeu 1,88%, enquanto o Dax, que reúne as mais importantes ações da bolsa alemã, caiu 4,81%. Responsável por acompanhar o desempenho dos principais ativos das bolsas europeias, o Stoxx 600 teve queda de 5,29%.

    Na Ásia, o cenário foi menos negativo, com as bolsas alternando entre perdas e leves altas. O Kospi, índice da bolsa da Coreia do Sul, ganhou 0,84%, e o Nikkei, da bolsa do Japão, subiu 1,04%. Já entre as bolsas da China, o índice da de Xangai caiu 1,57%, da de Shenzen, 3,91% e o Hang Seng, de Hong Kong, recuou 1%.

    Commodities, ativos descontados e investimento estrangeiro

    Ao CNN Brasil Business, analistas atribuíram o desempenho positivo do mercado brasileiro em agosto a uma combinação de fatores que criaram um fluxo de entrada de capital estrangeiro no país, com boa parte dele destinado ao mercado de ações, ajudando na recuperação do Ibovespa.

    Um dos principais fatores positivos no mês foi uma melhora das perspectivas dos investidores para a demanda de commodities, que mesmo com quedas recentes seguem em patamares elevados de preços, segundo Bruce Barbosa, sócio-fundador da Nord Research.

    Atualmente, as ações de empresas ligadas a commodities tem um peso de cerca de 30% na composição do Ibovespa. Ou seja, as flutuações dessas ações têm forte impacto no índice.

    Para Raphael Figueredo, sócio e analista técnico CNPI da Eleven Financial, o momento internacional favorece commodities, em especial o petróleo, que está ligado à empresa que ele acredita ser a grande protagonista por trás do desempenho do Ibovespa, a Petrobras.

    Ele afirma que a estatal foi responsável por cerca de 30% da valorização do Ibovespa desde junho. “Primeiro porque há o próprio movimento do petróleo, que sobe forte com o problema de escassez e corrige pouco para baixo”.

    Com uma manutenção da política de preços, as ações da Petrobras acompanham melhor a cotação da commodity. Houve, ainda, uma “mudança de patamar pensando em governança, eficiência. Conseguiu resultados fortes e, com isso, passou a pagar bons dividendos”.

    Já Pedro Serra, chefe de pesquisas da Ativa Investimentos, destaca que os resultados financeiros das empresas no segundo trimestre corroboraram a avaliação que as suas ações estão muito baratas, atraindo investimentos.

    Outro fator que, de acordo com Serra, leva a esse descolamento é a “melhora de percepção para o PIB brasileiro, e a inflação com números melhores que o esperado. Há ainda a visão mais clara de até onde vão os juros, em 13,75%, caindo ano que vem”.

    Com mais segurança e uma economia mais forte no curto prazo, ele afirma que o mercado tem tido “fundamentos, solidez, previsibilidade”, ao mesmo tempo em que o mundo está sendo “surpreendido, com dúvida forte quanto ao ciclo de juros”.

    Figueiredo também vê um peso forte da “surpresa positiva” da economia brasileira, com revisões de PIB e inflação.

    “O Brasil acaba levando uma vantagem, e o investidor estrangeiro está marcando essa percepção de melhora da atividade local, muito contribuído por Petrobras, mas também por bancos”, diz.

    Além disso, ele lembra que “quando o Banco Central tem diretriz de taxa de juros diferente do resto do mundo, com os países ainda subindo as taxas, atrai recursos de capital estrangeiro”.

    Nesse sentido, Barbosa, da Nord, vê a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em 2 e 3 de agosto como o gatilho para o movimento recente de entrada de fluxo de capitais no país.

    “O Copom foi suave, e depois vimos os juros futuros do Brasil caindo e o Ibovespa subindo. Há a perspectiva de que o ciclo de juros acabou, já está em patamar alto, enquanto outros países ainda vão precisar subir mais”, avalia.

    Para ele, há uma correlação entre o desempenho médio de commodities e do Ibovespa. “Se as bolsas dos Estados Unidos não caem muito, e as commodities sobem ou permanecem em patamar elevado, o Ibovespa tem espaço para subir”, afirma. E esse seria o cenário atual.

    O sócio da Nord também vê como positivo o esforço da China para estimular a economia, injetando mais dinheiro no mercado, o que tende a aumentar a demanda por commodities e beneficiando exportadores como o Brasil.

    Além dos aspectos externos, Barbosa considera que houve uma revisão de expectativas quanto ao cenário eleitoral, que não tem sido “tão ruim quanto o esperado. O mercado previu catástrofe, levou em conta o risco que temos, mas agora viu que não está tão ruim assim”.

    Já a continuidade desse movimento, avalia, depende de uma combinação da cotação de commodities, dos desdobramentos das eleições e do desempenho das bolsas dos Estados Unidos.