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    Há 30 anos: relembre o programa do carro popular no Brasil, que trouxe o “Fusca Itamar”

    Segundo pesquisa feita pela Anfavea, ajustado para preços de hoje, o popular lançado por Itamar custaria R$ 80 mil

    Brasil, São Bernardo do Campo, SP. 24/08/1993. O Presidente da República, Itamar Franco (entrando no carro), acompanhado do governador de São Paulo, Luiz Antônio Fleury Filho (c), o presidente da Volkswagen, Pierre-Alain De Smedt (e), e o presidente-fundador do sindicato unificado dos metalúrgicos do ABC, Vicentinho Paulo da Silva (d), visita a linha de produção do automóvel Fusca, da Volkswagen, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista
    Brasil, São Bernardo do Campo, SP. 24/08/1993. O Presidente da República, Itamar Franco (entrando no carro), acompanhado do governador de São Paulo, Luiz Antônio Fleury Filho (c), o presidente da Volkswagen, Pierre-Alain De Smedt (e), e o presidente-fundador do sindicato unificado dos metalúrgicos do ABC, Vicentinho Paulo da Silva (d), visita a linha de produção do automóvel Fusca, da Volkswagen, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista Agência Estado

    Pedro Zanattada CNN

    em São Paulo

    Não é de hoje que a ideia do carro popular faz parte do imaginário brasileiro. Em 1993, o então presidente Itamar Franco lançava um programa de incentivo à indústria automobilística, deixando claro desde sua comunicação que se tratava de um projeto para popularizar o automóvel no Brasil.

    Passados 30 anos, o atual governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) planeja lançar um novo incentivo à indústria, acenando mais uma vez para um retorno do segmento do “carro popular”. Assim como em 1993, para colocar em prática, o governo pretende se movimentar através dos impostos.

    Sendo assim, o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, anunciou que carros de até R$ 120 mil comercializados no Brasil terão descontos em impostos federais.

    O benefício deve incluir redução de PIS, Cofins e IPI, envolvendo, ao todo, 33 modelos de 11 marcas. A medida implicará redução de até 10,96% sobre o valor de mercado dos veículos.

    Segundo especialistas, a indústria automobilística no Brasil vislumbrou incentivos ao longo de sua história e lembram, principalmente, o governo de Juscelino Kubitschek, que ficou conhecido pelas medidas e apoios à indústria brasileira de veículos.

    No entanto, para Vinícius Müller, doutor em História Econômica e professor do Insper, o plano mais passível de comparações com a ideia do atual governo é de Itamar Franco.

    Em 1993, o plano do governo atuou em duas frentes. Primeiro, estabeleceu a isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para veículos de mil cilindradas. Em paralelo, trouxe o relançamento do Fusca pela Volkswagen, através da Autolatina, uma joint venture formada entre Ford e Volkswagen presente nos mercados brasileiro e argentino entre 1987 e 1996.

    Em 1990 e 1991, antes da criação do carro popular, a alíquota do IPI do carro 1.0 era de 20%. Em 1992, o tributo foi cortado para 14%. Já com o lançamento do conceito de carro popular, em 1993, o imposto foi para 0,1%, prevalecendo assim até 1994.

    A redução surtiu grande efeito, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Em 1990, os automóveis novos de motor 1.0 representavam 4,3% do mercado de licenciamentos. Em 1992, ano anterior ao programa, a participação aumentou para 15,5%.

    Já em 1993, este percentual saltou para 26,7% de participação deste segmento no mercado. E, em 1994, ano seguinte ao projeto do carro popular, os veículos de 1000 cilindradas eram 39,7% dos licenciamentos de automóveis novos no país.

    Vista parcial da fábrica da Autolatina/Volks/Ford localizada na Via Anchieta. Do lado esquerdo encontra-se a favela do Montanhão em São Bernardo do Campo, no ABC paulista / Agência Estado

    Fusca Itamar

    A segunda medida teve grande apelo simbólico por se tratar de um modelo estabelecido no Brasil e que, por si só, já trazia a ideia do carro popular, segundo avaliação de Vinícius Müller.

    Em agosto de 1993, o presidente brasileiro foi até a fábrica da VW em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, para reinaugurar a linha de montagem do Fusca. Lá, foi produzido o modelo que ficou conhecido como “Fusca Itamar”, básico com motor 1600 cilindradas, movido a álcool.

    “O que nós queremos é que o Brasil tenha seu carro popular e esse carro popular significa hoje, através do Fusca, um símbolo. Esperamos, evidentemente, que ele possa ser acessível às classes mais populares do país”, disse Itamar durante o evento de relançamento do automóvel em São Paulo.

    No entanto, até mesmo um dos veículos mais populares do Brasil não teria um preço acessível atualmente, segundo pesquisa feita pela Anfavea: o modelo lançado por Itamar custaria cerca de R$ 80 mil, com o valor ajustado pelo IGP-M.

    Um fato curioso é que, naquela mesma fábrica, em 1959, o ex-presidente Juscelino Kubitschek participava da inauguração da Volkswagen no Brasil, dando início também à produção do Fusca nacional.

    Assim como Kubitschek, Itamar desfilou em um fusca conversível e cumprimentou os funcionários quando reinaugurou a linha de produção do Fusca.

    Ao lembrar de Kubitschek, Müller explica que a menção é válida, mas que em sua época, a ideia não tinha o mesmo apelo do carro popular, como foi no governo de Itamar Franco.

    / Divulgação/Volkswagen

    “Quando você lembra do Juscelino faz sentido, mas não porque ele fez uma política do carro popular, ou um incentivo. É por ter sido ele quem abriu o país e negociou a entrada das empresas e indústria automobilística multinacional. Por isso lembramos dele quando falamos em produção e mercado de automóveis”, afirma.

    O professor complementa ainda dizendo que se tratava de um contexto “muito diferente”, sendo o momento da chegada da indústria automobilística e período de desenvolvimento da indústria brasileira.

    “Na década de 1930 e 1940, houve um processo de crescimento da indústria de base no Brasil com a Petrobras, a CNS, Vale do Rio Doce, enfim. Quando Juscelino assumiu, o momento era de fato de consolidação e avanço de uma indústria de bens duráveis, eletrodomésticos, automóveis, muito vinculadas à um tipo de consumo entendido como mais moderno, um padrão norte-americano, e também que acompanharia o crescimento da classe média”.

    Quando Itamar trouxe sua política nos anos de 1990, o professor avalia que, apesar de o automóvel ser um bem ainda com grande apelo por parte dos consumidores, a proposta já era entendida na época como uma medida que traria impactos no curto prazo, mas que em seguida mostraria seus limites.

    “No fundo não era essa o tipo de política industrial que precisávamos. Era necessário uma indústria mais competitiva, mais tecnológica, mais produtiva. Por isso que a medida dele foi entendida muito da perspectiva populista, mais para fazer um tipo de impacto para que desse a ele uma popularidade ou que construísse uma certa euforia por parte da sociedade brasileira”, considera o professor do Insper.

    Programa atual

    Ainda sem ser apresentado formalmente, o programa que vem sendo planejado pelo governo tem ganhando mais detalhes. Segundo fontes da CNN, o programa de incentivo à compra de automóveis com preço final de até R$ 120 mil deve ter duração de quatro meses e gasto estimado em R$ 500 milhões.

    Na quinta-feira (1°), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) validou a fonte de financiamento proposta para colocar em pé o programa.

    “Nós redesenhamos o programa e submetemos ao presidente Lula hoje. Ele validou o programa e, agora, tramita aqui no Ministério do Desenvolvimento e na Fazenda para chegar à Casa Civil. Espero que a gente consiga fazer chegar amanhã e, ele [Lula] vê o dia de assinar a medida”, falou o ministro da Fazenda.

    Especialistas ouvidos pela CNN avaliam que o Congresso Federal deve aprovar o texto devido ao tema de interesse público e pela popularidade do assunto.

    *com informações de Daniel Rittner, Diego Mendes e Agência Senado.