Guerra na Ucrânia deve afetar preço do plástico no Brasil, apontam especialistas
Custo do produto está diretamente ligado ao valor do petróleo, insumo com tendência de alta
A mais de 10 mil quilômetros de distância, a guerra entre Ucrânia e Rússia deve afetar o preço do plástico no Brasil. É o que apontam economistas da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec).
O encarecimento do produto está diretamente ligado ao preço do petróleo no mercado internacional, insumo que registra altas consecutivas desde o início do conflito armado no leste europeu e encerrou a semana passada em US$ 105, o maior nível desde 2014. O plástico é produzido majoritariamente de resinas derivadas do petróleo.
“No quesito das commodities, a guerra na Ucrânia agrava muito e afeta a economia brasileira devido ao aumento dos custos. O plástico por exemplo é uma matéria-prima fundamental na composição de vários produtos, então isso acaba gerando uma alta da inflação e pode ter uns outros produtos em menor escala que venha a ser impactados”, explicou, à CNN, o economista do Ibmec, Haroldo Monteiro.
Dados da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) mostram que o mercado interno brasileiro consome anualmente, em média, 7,3 milhões de toneladas do material. O faturamento do setor produtivo do plástico é de R$ 90,8 bilhões. O produto está entre os 10 insumos mais demandados pelo Brasil, segundo o relatório.
De acordo com o Ministério da Economia, a cada R$ 1 milhão adicional de produção do setor de transformados plásticos há um aumento de R$ 1,3 milhão no Produto Interno Bruto (PIB) e de R$ 3,35 milhões na produção total da economia.
Segundo a Abiplast, a construção civil representa 23,1% do consumo de plástico no Brasil, sendo o segmento mais consumidor dessa matéria prima. Em seguida, vem o setor de alimentos com 20,4% e o de Artigos de Comércio em atacado e varejo com 9,1%. O Brasil importa o produto majoritariamente dos Estados Unidos, China, Paraguai e Uruguai.
“Provavelmente a construção civil e o setor alimentício serão impactados do ponto de vista de custos, e isso impacta na economia brasileira. Especificamente sobre o setor de alimentos, nós vamos ver uma alta no preço das embalagens, por exemplo. Isso gera um aumento de custos”, destaca o coordenador do MBA em Gestão Financeira da FGV, Ricardo Teixeira.
O especialista da FGV ressalta também que a Rússia é responsável por grande parcela da produção de petróleo mundial. E, dessa forma, a interrupção na exportação pelo país e o aumento do preço do barril vão “pressionar” os valores internacionais.
“A Rússia é um dos maiores produtores e exportadores mundiais de petróleo, matéria-prima para produção de plásticos. Essa situação de conflito, associada às sanções impostas por países da União Europeia, vão fazer com que a parcela do consumo do petróleo, que antes era comprado da Rússia, seja procurada junto a outros fornecedores. E, com a redução da oferta associada à demanda constante, haverá pressão nos preços internacionais”, afirmou Ricardo Teixeira.
E o preço do plástico não será afetado apenas indiretamente com o custo do petróleo. Especialistas ouvidos pela CNN destacam um gargalo produtivo e uma menor oferta mundial do produto, em função da guerra na Europa.
Consequentemente, a tendência global é registrar uma alta no valor do material. Somente a Rússia, um dos países envolvidos na guerra, é responsável pela exportação anual de US$ 254 milhões (R$ 1.310,64 bilhão, na contação atual) do produto para o Brasil.
O também economista da FGV Ibre, André Braz, esclarece que o preço do petróleo não afeta apenas o valor dos combustíveis, mas também outros produtos que dependem do insumo.
O especialista ainda compara o cenário de guerra com a pandemia de Covid-19. Ele explicou também o problema na distribuição do produto, em função da guerra entre Ucrânia e Rússia.
“A indústria de petróleo não afeta apenas o preço da gasolina e diesel, e sim de todos os adubos, resinas, fertilizantes derivados do insumo. Então, na medida em que essa guerra não chega ao fim, isso compromete a distribuição do produto e prejudica muito a cadeia. Vai ser um pouco voltar no tempo e encarar aquele gargalo das cadeias produtivas que a pandemia de Covid nos impôs, muitos setores tiveram que paralisar suas atividades e isso comprometeu muito a logística de distribuição de produtos e agora, é mais ou menos a mesma coisa, mas agora é devido a um embargo. Com certeza teremos falta de mercadoria, aumentos de preço e uma pressão inflacionária”, destaca Braz.