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    Guerra na Ucrânia deve afetar preço do plástico no Brasil, apontam especialistas

    Custo do produto está diretamente ligado ao valor do petróleo, insumo com tendência de alta

    Nathalia TeixeiraLucas Janoneda CNN , Rio de Janeiro

    A mais de 10 mil quilômetros de distância, a guerra entre Ucrânia e Rússia deve afetar o preço do plástico no Brasil. É o que apontam economistas da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec).

    O encarecimento do produto está diretamente ligado ao preço do petróleo no mercado internacional, insumo que registra altas consecutivas desde o início do conflito armado no leste europeu e encerrou a semana passada em US$ 105, o maior nível desde 2014. O plástico é produzido majoritariamente de resinas derivadas do petróleo.

    “No quesito das commodities, a guerra na Ucrânia agrava muito e afeta a economia brasileira devido ao aumento dos custos. O plástico por exemplo é uma matéria-prima fundamental na composição de vários produtos, então isso acaba gerando uma alta da inflação e pode ter uns outros produtos em menor escala que venha a ser impactados”, explicou, à CNN, o economista do Ibmec, Haroldo Monteiro.

    Dados da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) mostram que o mercado interno brasileiro consome anualmente, em média, 7,3 milhões de toneladas do material. O faturamento do setor produtivo do plástico é de R$ 90,8 bilhões. O produto está entre os 10 insumos mais demandados pelo Brasil, segundo o relatório.

    De acordo com o Ministério da Economia, a cada R$ 1 milhão adicional de produção do setor de transformados plásticos há um aumento de R$ 1,3 milhão no Produto Interno Bruto (PIB) e de R$ 3,35 milhões na produção total da economia.

    Segundo a Abiplast, a construção civil representa 23,1% do consumo de plástico no Brasil, sendo o segmento mais consumidor dessa matéria prima. Em seguida, vem o setor de alimentos com 20,4% e o de Artigos de Comércio em atacado e varejo com 9,1%. O Brasil importa o produto majoritariamente dos Estados Unidos, China, Paraguai e Uruguai.

    “Provavelmente a construção civil e o setor alimentício serão impactados do ponto de vista de custos, e isso impacta na economia brasileira. Especificamente sobre o setor de alimentos, nós vamos ver uma alta no preço das embalagens, por exemplo. Isso gera um aumento de custos”, destaca o coordenador do MBA em Gestão Financeira da FGV, Ricardo Teixeira.

    O especialista da FGV ressalta também que a Rússia é responsável por grande parcela da produção de petróleo mundial. E, dessa forma, a interrupção na exportação pelo país e o aumento do preço do barril vão “pressionar” os valores internacionais.

    “A Rússia é um dos maiores produtores e exportadores mundiais de petróleo, matéria-prima para produção de plásticos. Essa situação de conflito, associada às sanções impostas por países da União Europeia, vão fazer com que a parcela do consumo do petróleo, que antes era comprado da Rússia, seja procurada junto a outros fornecedores. E, com a redução da oferta associada à demanda constante, haverá pressão nos preços internacionais”, afirmou Ricardo Teixeira.

    E o preço do plástico não será afetado apenas indiretamente com o custo do petróleo. Especialistas ouvidos pela CNN destacam um gargalo produtivo e uma menor oferta mundial do produto, em função da guerra na Europa.

    Consequentemente, a tendência global é registrar uma alta no valor do material. Somente a Rússia, um dos países envolvidos na guerra, é responsável pela exportação anual de US$ 254 milhões (R$ 1.310,64 bilhão, na contação atual) do produto para o Brasil.

    O também economista da FGV Ibre, André Braz, esclarece que o preço do petróleo não afeta apenas o valor dos combustíveis, mas também outros produtos que dependem do insumo.

    O especialista ainda compara o cenário de guerra com a pandemia de Covid-19. Ele explicou também o problema na distribuição do produto, em função da guerra entre Ucrânia e Rússia.

    “A indústria de petróleo não afeta apenas o preço da gasolina e diesel, e sim de todos os adubos, resinas, fertilizantes derivados do insumo. Então, na medida em que essa guerra não chega ao fim, isso compromete a distribuição do produto e prejudica muito a cadeia. Vai ser um pouco voltar no tempo e encarar aquele gargalo das cadeias produtivas que a pandemia de Covid nos impôs, muitos setores tiveram que paralisar suas atividades e isso comprometeu muito a logística de distribuição de produtos e agora, é mais ou menos a mesma coisa, mas agora é devido a um embargo. Com certeza teremos falta de mercadoria, aumentos de preço e uma pressão inflacionária”, destaca Braz.

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