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    Fundos multimercados têm fuga de investidores. Confira se ainda vale a pena

    Aumento de juros fez categoria ter resgate forte, mas, para muitos gestores, ela ainda é opção para proteção e diversificação do risco na carteira

    Apesar das quedas na bolsa, multimercados sobem em média 2% no ano
    Apesar das quedas na bolsa, multimercados sobem em média 2% no ano Foto: Lorenzo Cafaro / Getty Images

    Juliana Eliasdo CNN Brasil Business em São Paulo

    Os fundos multimercados foram uma pequena estrela dos investimentos nos últimos anos.

    Com uma estratégia que permite alocar os recursos em um pouco de tudo, de títulos públicos a ações e moedas estrangeiras, os multimercados passaram a ser indicados para praticamente todos os tipos de carteiras e perfis.

    Com a taxa Selic em tendência de queda e a necessidade de levar o dinheiro para a renda variável, eles eram a recomendação preferida dos gestores e analistas como uma opção intermediária entre a renda fixa e a bolsa de valores.

    Depois, com as quedas violentas causadas pelo choque inicial da pandemia de coronavírus nos mercados, ganharam um papel adicional de proteção, já que eles podem se valer de recursos que ganham tanto com a alta quanto com as quedas dos mercados.

    Mas algo mudou: em setembro, quando a indústria de fundos como um todo recebeu R$ 29,3 bilhões em novos investimentos, os multimercados, especificamente, tiveram um resgate líquido de R$ 11,5 bilhões, de acordo com os dados mais recentes da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

    De acordo com a cientista política Lorena Laudares, do time de estratégia da corretora Órama, o movimento tem forte influência da Selic, que agora está em trajetória forte de alta e deve em breve voltar para cima dos 10%.

    “O brasileiro tradicionalmente gosta da renda fixa e, agora, já vê um título prefixado com vencimento para um ano pagando 12%”, diz. “É bastante retorno para a renda fixa, então os fundos multimercados acabam perdendo atratividade.”

    A Órama vem há alguns meses reduzindo recomendação para os multimercados nas carteiras de seus clientes.

    Nos portfólios de perfil moderado, por exemplo, em que ainda não entram ações, o pedaço reservado para os multimercados caiu de 20% para 15%. Os 5% da diferença foram para a renda fixa.

    Maior imprevisibilidade

    De acordo com Laudares, a cautela tem muito a ver com a grande volatilidade e imprevisibilidade que tomou o mercado brasileiro nos últimos meses, o que torna particularmente difícil o trabalho dos gestores desses fundos de acertar a estratégia.

    “Há uma indefinição muito grande no cenário, e o mercado ficou disfuncional, parou de responder às regras”, diz.

    “Os multimercados funcionam melhor quando há um direcionamento específico; se, por exemplo os juros estão em tendência de alta ou de queda. Mas estamos com esses juros a 12% e o câmbio a R$ 5,60 ou R$ 5,70, o que não era para acontecer. Pela teoria, o dólar deveria recuar quando há aumento de juros.”

    Juros, ações, moedas e títulos de crédito, dentro e fora do país, são algumas das coisas em que os fundos multimercados podem investir. E nem sempre importa se estão em alta ou em queda, já que eles têm mecanismos para ganhar dos dois jeitos.

    O problema está em não conseguir prever nem um pouco qual deve ser a tendência para eles.

    Ainda uma boa opção de diversificação

    Para muitos especialistas, porém, os fundos multimercados continuam cumprindo a importante função de oferecer diversificação e proteção, e, por isso, devem continuar nas carteiras.

    Na da gestora de recursos BNP Paribas Asset Management, as carteiras dos clientes foram, de fato, rebalanceadas para ter menos risco – mas, nesse processo, os multimercados acabaram até ganhando mais importância.

    “Para refletir a piora do mercado, reduzimos a exposição à renda variável nos últimos quatro meses, mas preservamos a parcela dos fundos multimercados”, conta Tiago Cesar, gestor da casa.

    “Para o cliente mais arrojado, é uma maneira de tirar um pouco da bolsa, mas sem sair completamente do jogo. Por outro lado, os multimercados são o ponto mais longe onde o conservador, que não quer bolsa, vai chegar. É uma maneira de ainda ter um pouquinho de risco.”

    Lucas Taxweiller, especialista de investimentos da gestora digital de investimentos Magnetis, lembra que os fundos multimercados são, em si, um universo enorme de variedades.

    Eles podem ter focos e estratégias muito diferentes entre si. Não são como os fundos de ações, que inevitavelmente andam mais ou menos junto ao Ibovespa, ou os de renda fixa, que seguem na mesma direção da Selic e do CDI.

    “Vai depender muito de que multimercado estamos falando; é um produto muito amplo e sempre vai ter algum fundo indo bem”, diz.

    “Neste ano, por exemplo, com a bolsa caindo cerca de 12%, os multimercados que investem mais em bolsa vão estar derretendo, mas, com o dólar em alta de 7%, aqueles que investem em câmbio estarão performando superbem.”

    Nas carteiras da Magnetis, que mantém a aposta nessa classe, a participação dos multimercados vai desde 9%, para os clientes de perfil conservador, até 41%, para os mais arrojados.

    Para a gestora, os fundos multimercados acabam tendo hoje um papel importante de proteção do portfólio.

    “O retorno médio dos fundos multimercados em 2021 está em cerca de 2%”, diz Taxweiller, citando o IHFA, índice da Anbima que mede o desempenho desses fundos. “Se a bolsa caiu 12%, e um pedaço da sua carteira subiu 2%, então já protegeu o seu patrimônio.”