Fornecedora da Apple está sendo investigada na China
Investigação ocorre após fundador da Foxconn anunciar que concorrerá à presidência de Taiwan
A fabricante taiwanesa Foxconn está sendo investigada pelas autoridades na China, segundo a mídia estatal. A empresa é uma das principais fornecedoras da Apple.
A investigação surge em meio às pretensões de Terry Gou, fundador da empresa, em se candidatar à presidência de Taiwan. Gou reforçou que não será pressionado por Pequim, apesar de suas operações comerciais no país.
Embora não esteja claro se as investigações estão ligadas à entrada do fundador da Foxconn na corrida presidencial, analistas dizem que a medida causará nervosismo nas empresas estrangeiras na China.
No domingo (22), o jornal estatal Global Times informou que as autoridades fiscais auditaram as principais subsidiárias da Foxconn nas províncias de Guangdong e Jiangsu.
O veículo informou que o ministério dos recursos naturais também investigou o uso de terras pela empresa nas províncias de Henan e Hubei, citando fontes anônimas.
A Foxconn disse em comunicado enviado à CNN que cumprir a lei era um de seus “princípios básicos”.
“Cooperaremos ativamente com as unidades relevantes nos trabalhos e operações relacionados”, acrescentou.
A Foxconn, também conhecida como Hon Hai Precision Industry, possui fábricas de iPhone em Guangdong e Henan, incluindo a maior do mundo na cidade de Zhengzhou.
A unidade listada da empresa em Xangai, a Foxconn Industrial Internet, despencou seu limite diário de 10% na segunda-feira (23). A controladora Foxconn Technology, listada em Taipei, caiu mais de 2%.
A investigação foi revelada depois que a polícia chinesa supostamente invadiu o escritório de Xangai da agência de publicidade internacional GroupM, de propriedade da WPP, enquanto Pequim aumentava a pressão sobre as empresas estrangeiras.
A companhia afirma que está cada vez mais apreensiva em relação aos riscos crescentes, incluindo a possibilidade de buscas e detenções, num contexto de repressão às empresas de consultoria internacionais por razões de segurança nacional.
Na semana passada, autoridades japonesas revelaram que a China prendeu formalmente um cidadão japonês que supostamente trabalhava para a farmacêutica Astellas Pharma e que havia sido detido anteriormente por suspeita de violar a lei criminal e a lei antiespionagem do país.
“A contínua repressão da China às operações comerciais estrangeiras continua a desconcertar os investidores”, disse Brock Silvers, diretor de investimentos da empresa de private equity Kaiyuan Capital.
“À medida que a economia da China necessita urgentemente voltar a se envolver com os investidores, as medidas políticas reforçam as dúvidas sobre a capacidade de investimento básica.”
Eleições taiwanesas
A Foxconn é uma das maiores fabricantes terceirizadas do mundo. A empresa produz de tudo, desde veículos elétricos a smartphones para clientes como a Apple, mas não vende nada com sua própria marca.
A companhia começou a operar na China em 1988 e é um dos maiores empregadores privados do país.
Em agosto, o fundador e ex-presidente da Foxconn, o bilionário Terry Gou, anunciou que disputaria as eleições presidenciais de Taiwan em janeiro como candidato independente.
Quando questionado por jornalistas sobre como planeja lidar com a pressão de Pequim, dados os seus muitos anos de negócios na China, Gou disse que não “cumprirá as suas ordens”.
“Se o regime comunista chinês disser ‘se você não me ouvir, confiscaremos a propriedade de Hon Hai’. Direi ‘sim, por favor, faça isso’”, afirmou o fundador da companhia em coletiva de imprensa.
Mas Gou acrescentou que não acredita que Pequim ameaçaria a Foxconn, já que as implicações globais seriam enormes.
A Foxconn tem dezenas de milhares de acionistas em todo o mundo, incluindo grandes empresas de investimento e fundos de pensões, disse ele.
“Se o Partido se atrever a [confiscar a propriedade da Foxconn], que país, corretora ou empresa no mundo ousaria investir na China?”
A empresa também é fornecedora de muitas empresas ocidentais importantes, acrescentou Gou. Se encerrada a companhia, haveria uma crise global na cadeia de abastecimento.
“Como o governo chinês se explicaria para as empresas de todo o mundo?”, questionou o fundador. “Sem mencionar que a economia [da China] está em má situação agora.”
Gou está atualmente atrás de Lai Ching-te do Partido Popular Democrático (DPP, na sigla em inglês) – o partido governista – Hou Yu-ih do Kuomintang e Ko Wen-je do Partido Popular de Taiwan.
Pequim afirma que Taiwan é parte do território chinês e pressiona a ilha a aceitar o seu domínio. Mas o atual governo considera Taiwan um país soberano de fato.
No domingo, Zhang Wensheng, professor da Universidade Xiamen da China, foi citado pelo Global Times como tendo dito que a Foxconn se beneficiou das políticas favoráveis de Pequim em relação a empresa.
“Embora as empresas financiadas por Taiwan, incluindo a Foxconn, partilhem dos benefícios do crescimento [da China] e alcancem um rápido desenvolvimento no continente, elas devem também assumir responsabilidades sociais correspondentes e desempenhar um papel ativo na promoção do desenvolvimento pacífico das relações entre os dois lados”, disse Zhang.
Pressão contra empresas
Outras empresas mundialmente conhecidas têm enfrentado pressões no país recentemente.
A polícia chinesa invadiu o escritório de Xangai do GroupM, uma unidade da maior agência de publicidade do mundo, e deteve um executivo sênior, segundo vários meios de comunicação.
O Financial Times reportou a notícia pela primeira vez na sexta-feira (20).
Um dia depois, a polícia de Xangai emitiu um comunicado afirmando ter detido um executivo sênior de uma agência de publicidade junto com outras duas pessoas. Segundo a polícia, eles eram suspeitos de aceitar subornos.
A polícia não revelou o nome da empresa. A estatal Economic Observer disse que o comunicado da polícia se referia ao GroupM.
A empresa não quis comentar o caso.
A repressão ocorreu apesar dos repetidos apelos dos líderes chineses para acolher mais investimento estrangeiro para impulsionar a economia do país.
O diretor de investimentos da Kaiyuan Capital, Brock Silvers, salientou que a China acolhe externamente o capital estrangeiro, mas apenas nos seus termos.
“Agora também confrontados com uma desaceleração estrutural, os investidores estão a repensar a sua exposição à China”, disse Silvers.