FMI endurece visão sobre Argentina em relação a programa de empréstimos
Em reunião, diretoria executiva do Fundo destacou "má administração" por parte da Argentina
O Fundo Monetário Internacional (FMI) tem endurecido sua visão sobre como a Argentina está administrando um programa de empréstimos de US$ 44 bilhões (R$ 215,68 bilhões) antes do segundo turno da eleição presidencial no dia 19 de novembro, de acordo com três fontes com conhecimento direto.
A diretoria executiva do FMI se reuniu no dia 30 de outubro, em uma reunião que não havia sido relatada anteriormente, para receber informações informais sobre a Argentina por parte da equipe do Fundo, uma vez que o país sul-americano está lutando contra uma inflação de três dígitos e com reservas líquidas no vermelho antes do pleito.
Durante a reunião, foram levantadas preocupações sobre a rapidez com que o país vem gastando suas reservas internacionais desde a última revisão do programa em agosto, disse uma das fontes, que pediu para não ser identificada porque as conversas são privadas.
As palavras usadas durante a reunião também refletiram uma postura mais dura, acrescentou a fonte, com os membros da diretoria falando sobre a “má administração” do programa pelo governo argentino, em vez de termos como “deslizes” ou “baixo desempenho” usados anteriormente.
O banco central da Argentina interveio no mercado paralelo de câmbio por “um valor considerável de US$ 2,7 bilhões (R$ 13,24 bilhões) nos últimos três meses, já que as pressões cambiais têm aumentado em meio ao ciclo eleitoral”, de acordo com uma nota do JPMorgan.
O banco acrescentou que as reservas líquidas negativas de moeda estrangeira estão em US$ 15,3 bilhões (R$ 75 bilhões).
O financiamento do FMI tem sido crucial para manter as finanças do governo argentino, de modo que o Fundo deu ao país – que está sofrendo com uma seca histórica – alguma margem de manobra para cumprir suas obrigações nos últimos meses.
Em um relatório de agosto, o FMI disse que o programa havia saído dos trilhos, mas permitiu mudanças em algumas metas – como a redução das metas de reservas – para colocá-lo de volta no rumo certo.
A postura mais rígida do FMI reflete a opinião de que, apesar das concessões, o programa está saindo cada vez mais dos trilhos, o que poderia colocar em risco os futuros desembolsos.
A mudança também ocorre em um momento delicado para a Argentina, que tem uma revisão do programa esperada para novembro.
A revisão é um passo fundamental para que o país chegue a um acordo que, uma vez assinado pela diretoria executiva do Fundo, acionaria a próxima parcela de financiamento.
Um porta-voz do FMI confirmou que a reunião de 30 de outubro havia sido realizada “de acordo com a prática estabelecida” e acrescentou que nenhuma data havia sido definida até o momento para a sétima revisão.
“Como em qualquer revisão do Fundo, precisaremos estabelecer que o programa continua no caminho certo para atingir seus objetivos e que há trabalho e engajamento adicional a ser feito”, acrescentou o porta-voz do FMI.
Um porta-voz do Ministro da Economia da Argentina não respondeu a um pedido de comentário.