Vale a pena pegar empréstimo para pagar dívida? Veja 7 dicas para entrar no azul
Especialistas explicam onde buscar pelos produtos, o que priorizar ao analisar as taxas de juros e outras informações para sair de vez do endividamento
No Brasil, 66,3% dos consumidores estão endividados, segundo a última Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). A pandemia e as medidas de restrição tornam a situação ainda mais complicada para quem tem dívidas.
Vale a pena pegar um empréstimo para pagar a dívida? Que tipo de produto de crédito é mais recomendado? Como se organizar para sair do vermelho? O CNN Brasil Business conversou sobre o assunto com os planejadores financeiros Gustavo Dias e Arthur Correa, da Duoo Finanças Pessoais, e com Ana Carrera, da Sicredi. Veja abaixo 7 dicas.
1. Pesquise as condições
Normalmente, as pessoas endividadas costumam consultar só seu próprio banco sobre empréstimo. Porém, Gustavo Dias aconselha fazer uma busca mais ampla, incluindo fintechs e empresas menores. Com isso, o consumidor pode conseguir reduzir a taxa de juros e/ou as parcelas do pagamento.
2. Parcela tem que caber no bolso
É comum que, ao negociar a dívida, as pessoas tentem diminuir o número de parcelas para pagar menos juros. No entanto, os especialistas da Duoo Finanças afirmam que a melhor parcela é aquela que pode ser paga sem comprometer o orçamento.
“A segurança de um empréstimo está no conforto de que a pessoa irá conseguir pagar todas as parcelas. É melhor ter uma parcela baixa, com mais juros e de maior tempo, do que uma alta, que compromete quase todo o orçamento do endividado”, explica Dias.
Quando as parcelas são muito altas, qualquer imprevisto pode impossibilitar seu pagamento. E deixar de pagar para negociar novamente no futuro costuma sair ainda mais caro.
3. Consignado ou com garantia
Se a dívida não for muito grande, a melhor opção é optar pelo crédito consignado, que tem juros mais baixos, segundo Ana Carrera. Para ter direito, o endividado precisa estar empregado ou possuir uma pessoa próxima que tenha folha de pagamento e esteja disposta a solicitar este crédito por ele.
“Quando existe uma folha de pagamento para que o valor da dívida seja descontado, o risco é menor e as empresas conseguem oferecer taxa de juros relativamente baixa”, explica.
Para dívidas maiores, em que o crédito consignado não dá conta do recado, a sugestão de Ana Carrera é buscar um empréstimo com alguma garantia –como veículo ou imóvel–, que também tende a ter juros mais baixos.
“Alongar a dívida é importante para que a parcela caiba no bolso do endividado, e a garantia oferece mais segurança às instituições para diminuir a taxa de juros”, afirma.
4. Quando vale a pena pagar à vista
Ao receber um dinheiro extra, como 13° salário ou restituição do Imposto de Renda, é comum que as pessoas busquem abater o valor da dívida o mais rápido possível.
Essa pode ser uma boa estratégia, uma vez que o juros cobrados em dívidas costumam ser maiores que o rendimento de qualquer investimento. O cartão de crédito parcelado, por exemplo, pode cobrar juros de 2% ao mês, enquanto o Tesouro Direto rende 2% ao ano, calcula Gustavo Dias.
O especialista recomenda que, antes de usar o valor total para pagar as dívidas, analise a porcentagem do endividamento que realmente irá diminuir. Ou seja, caso este valor extra possa pagar mais de 80% do valor da dívida, vale a pena fazer este pagamento em uma só vez. Por outro lado, se a diferença no final não for considerável, pode ser melhor seguir parcelando a dívida e investir a renda extra para emergências.
Ana Carrera também alerta para pessoas que tiveram a renda prejudicada e ainda não conseguiram se recolocar no mercado ou voltar a uma situação financeira estável. “Quitar a dívida pode ser importantíssimo, mas o endividado também precisa ter dinheiro para pagar as despesas mensais e para possíveis emergências”, diz.
Ela aconselha que parte do valor seja utilizada para “dar uma entrada” no pagamento, exibindo às instituições a intenção de pagar essas dívidas e, com isso, conseguir reduzir o tamanho das parcelas e os juros.
Vale ressaltar que, se for pagar a dívida de uma vez só, o endividado deve negociar ao máximo o valor restante, para que consiga desconto e reduções.
5. Quando usar a reserva de emergência
Vale a pena usar a reserva de emergências para pagar dívida? Isso varia de acordo com a situação de cada família.
Para aqueles que estão desempregados por causa da pandemia, ou que tiveram a renda prejudicada, não é recomendável gastar o valor da reserva com o pagamento de dívidas –principalmente se não tiver perspectivas de quando irá se recolocar no mercado.
“Para profissionais autônomos, sem renda fixa certa, também é melhor se estruturar financeira antes de utilizar o valor de emergências para este tipo de pagamento”, aconselha Dias.
Aqueles que estão empregados, porém, podem utilizar a reserva para debitar uma parte grande do valor que devem ou mesmo sua totalidade.
Porém, especialmente nesse cenário de pandemia, é recomendável sempre manter investido pelo menos o equivalente a um ou dois meses do custo de vida da pessoa, além de buscar “recuperar” a reserva de emergência todas as vezes em que uma quantia for retirada.
6. Organizar a ordem de pagamento das dívidas
É preciso planejamento para saber quais dívidas devem ser pagas com prioridade. A dica de Gustavo Dias é se concentrar primeiro em pagamentos que podem gerar transtornos imediatos. Contas de luz, por exemplo, geram corte do serviço de energia após três meses de inadimplência. Operadoras de celular, impostos, título MEI, IPTU ou IPVA também devem ser vistos com prioridade, para evitar cortes e multas governamentais.
Em segundo lugar, o recomendado é priorizar as dívidas com maiores juros. Nesses casos, o valor a ser pago cresce com mais rapidez e pode virar uma bola de neve.
Por fim, em terceiro, devem ser pagas as maiores parcelas, para que o orçamento do endividado deixe de ser fortemente comprometido.
7. Cuidado com instituições fora do sistema
Uma última recomendação para aqueles que estão buscando crédito para quitar suas dívidas é nunca procurar por ofertas em instituições que não estejam validadas dentro do sistema financeiro. Busque apenas bancos reconhecidos ou empresas com cadastro no Serasa.
Especialmente, não procurar empréstimos de pessoas físicas, popularmente conhecidas como “agiotas”. Gustavo Dias ressalta que neste cenário não há garantia nem alcance legal do acordo. Por isso, os juros cobrados podem mudar radicalmente e as normas impostas por aquele que fornece o crédito podem ser ilegais e maliciosas.
* Sob supervisão de Maria Carolina Abe