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    Quebra do Silicon Valley Bank pode reduzir juros no Brasil; entenda

    Evento nos EUA pode fazer com o que BC indique, na sua próxima reunião, que o início do corte de juros pode ser antecipado

    Pedro Zanattada CNN , em São Paulo

    A quebra do Silicon Valley Bank (SVB) não deve afetar significativamente a economia brasileira, a princípio, segundo especialistas ouvidos pela CNN. Contudo, o evento no mercado norte-americano pode fazer com o que Banco Central (BC) indique, na sua próxima reunião, que o início do corte de juros pode ser antecipado.

    “No Brasil, o cenário de maior aperto também muda o balanço de riscos da inflação e o Copom [Comitê de Política Monetária do Banco Central] pode indicar na sua próxima reunião que o início do corte de juros pode ser antecipado. Vale ressaltar que a política monetária tem defasagem, que parece ser mais longa nesse ciclo, e o atual patamar bastante restritivo da Selic ainda terá efeito prolongado na economia”, explica o Inter em relatório publicado nesta segunda-feira (13).

    Na avaliação do Inter, o aperto adicional de crédito, que também já é observado no cenário doméstico, deve contribuir para uma queda maior do que o esperado na atividade econômica, acelerando o processo de desinflação à frente.

    Fundado em 1983 na Califórnia, o SVB atuava nos últimos anos como um banco com foco no atendimento à startups e fundos de Venture Capital.

    Embora relativamente desconhecido fora do Vale do Silício, a instituição estava entre os 20 maiores bancos comerciais americanos, com US$ 209 bilhões (cerca de R$ 1 trilhão) em ativos totais no final do ano passado, de acordo com o Corporação Federal de Seguro de Depósitos dos EUA (FDIC).

    A XP também mencionou a quebra do banco como um fator de atenção para o BC avaliar a política monetária, uma vez que o próprio Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, pode adotar uma postura mais frouxa.

    “Caso a crise nos bancos regionais americanos force o Fed a ter uma postura mais frouxa em relação à taxa de juros, como está sendo precificado no mercado, o mercado passou a precificar na curva de juros um espaço para o Copom também poder cortar juros no segundo semestre desse ano”, diz.

    Segundo a XP, um início de ciclo de afrouxamento dos juros no Brasil pode ajudar os ativos brasileiros, como a bolsa, e os títulos pré-fixados.

    Além dos possíveis efeitos em relação à taxa de juros no Brasil, de maneira geral, economistas avaliam que, a princípio, os impactos serão pequenos para o país.

    “Enxergamos pouco impacto, uma vez que, embora certamente algumas empresas tivessem aplicações ali, mas nada que possa trazer impacto. Claro que isso, para os investidores, no curto prazo, traz uma aversão ao risco maior, por conta de uma notícia negativa. No sentido de investimento dentro de bancos com exposição menor”, disse Heitor Martins, especialista em renda variável na Nexgen Capital.

    Para o mercado

    Com o colapso do banco, as bolsas pelo mundo iniciaram esta segunda-feira em baixa, digerindo os novos fatos.

    O Ibovespa, principal índice brasileiro, encerrou o dia em queda de 0,48%. Já o dólar terminou em alta de 1,16%, cotado a R$ 5,268, com monitoração do mercado sobre os próximos passos de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA).

    Ainda que o receio em relação a uma nova crise financeira seja natural em um momento como este, a avaliação é de que os bancos americanos e globais têm hoje uma regulação muito mais restritiva, que foi aprovada após a crise de 2008. O que tornou o sistema financeiro atual mais seguro do que era na época.

    “Os níveis de capital regulatório são maiores, e os níveis de alavancagem do sistema são menores, e as regulações ao redor de empréstimos também são mais duras. Isso tudo ajudou a tornar o sistema muito mais seguro, mas ainda não é à prova de falências, como vimos no caso desses dois bancos regionais americanos”, diz a XP.

    Além disso, a resposta rápida por parte do Federal Reserve, que se comprometeu a garantir todos os depósitos dos clientes dos dois bancos em intervenção, ajudou a estancar a crise de confiança que se gerou, avaliam os especialistas.

    Por conta disso, economistas entendem que a possibilidade de uma nova corrida bancária nos bancos pequenos e médios nos EUA foi reduzida após o anúncio das autoridades americanas.

    Desdobramentos

    Para acalmar e abaixar as expectativas ruins geradas pelo colapso dos bancos, nesta segunda-feira, o presidente dos EUA, Joe Biden, prometeu fazer o que for necessário para enfrentar a ameaça de uma crise bancária, após os colapsos das instituições que forçaram os reguladores a intervir com medidas de emergência.

    A breve declaração de Biden na Casa Branca antes de viajar à Califórnia veio depois que as medidas do fim de semana dos Estados Unidos para garantir depósitos no SVB, um credor focado no setor de tecnologia, não conseguiram tranquilizar os investidores sobre a saúde de outros bancos ao redor do mundo.

    Já no Reino Unido, o HSBC anunciou que irá comprar o braço britânico do SVB, pelo valor simbólico de uma libra, em um acordo intermediado pelo governo do Reino Unido e pelo Banco da Inglaterra (BoE, pela sigla em inglês).

    Em comunicado, o HSBC disse que o SVB UK tinha empréstimos de cerca de 5,5 bilhões de libras e depósitos no valor aproximado de 6,7 bilhões de libras em 10 de março. Já o Tesouro britânico, em comunicado à parte, garantiu que clientes do SVB UK conseguirão ter acesso normal a seus depósitos e serviços bancários.

    Na China, a falência causou preocupação generalizada, onde uma série de empresas correram para apaziguar os investidores dizendo que sua exposição era insignificante ou inexistente.

    A SVB, que trabalhava com quase metade de todas as empresas de tecnologia e saúde apoiadas por capital de risco nos Estados Unidos antes de ser adquirida pelo governo, tem uma joint venture chinesa, criada em 2012 e voltada para a elite tecnológica do país.

    Por que faliu?

    Em suma, o SVB encontrou uma clássica corrida ao banco.

    A versão mais longa é um pouco mais complicada. Várias forças colidiram para derrubar o banqueiro.

    Primeiro, houve o Federal Reserve, que começou a aumentar as taxas de juros há um ano para domar a inflação.

    O Fed agiu de forma agressiva e os custos de empréstimos mais altos minaram o ímpeto das ações de tecnologia que beneficiaram o SVB.

    As taxas de juros mais altas também corroeram o valor dos títulos de longo prazo que o SVB e outros bancos engoliram durante a era das taxas de juros ultrabaixas, quase zero.

    A carteira de títulos de US$ 21 bilhões (cerca de R$ 100 bilhões) do SVB estava rendendo uma média de 1,79% – o atual rendimento do Tesouro de 10 anos é de cerca de 3,9%.

    Ao mesmo tempo, o capital de risco começou a secar, forçando as startups a sacar os fundos mantidos pelo SVB.

    Assim, o banco estava parado sobre uma montanha de perdas não realizadas em títulos no momento em que o ritmo de saques dos clientes aumentava.

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