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    Previdência, poupança e bolsa: saiba como os pais podem investir para os filhos

    Quantidade de contas na bolsa brasileira registrada em nomes de menores de 15 anos aumentou 792% desde janeiro de 2019 até agosto de 2022

    Artur Nicocelido CNN Brasil Business , em São Paulo

    Quando o assunto é investir para o futuro dos filhos, as opções para serem aplicadas são diversas, desde previdência privada, poupança e até fazer uma carteira de investimentos diversificada.

    E, nesse sentido, especialistas entrevistados pelo CNN Brasil Business apontaram quais devem ser as aplicações mais interessantes aos familiares, já que o foco precisa ser o longo prazo, pois, quando um bebê nasce, são 6.570 dias – ou 157 mil horas – até que ele se torne maior de idade.

    Todo investimento destacado pelos analistas pode ser feito tanto no nome do responsável, quanto no CPF da criança.

    Previdência privada

    Para investir na previdência privada, o familiar pode entrar em contato com uma corretora para compreender qual plano é melhor diante de seus objetivos, PGBL ou VGBL. O cadastro na corretora pode ser feito também em nome da criança.

    Para criar um usuário é necessário informar o RG ou o DNV (Declaração de Nascido Vivo), comprovante de endereço e documento de identidade do responsável. A conta corrente vinculada também precisa estar no nome do filho ou ser conjunta com os familiares.

    É possível também investir na previdência privada pelos bancos ou fintechs. Mas, é necessário criar uma conta na instituição financeira para aplicar.

    Esse investimento é a principal recomendação de Loni Batist, diretora da Guide Life. Ela diz que uma das maiores dificuldades é manter a disciplina de sempre colocar um valor até a pessoa se tornar maior de idade.

    Por exemplo, se uma mãe tem um filho de 1 ano, ela precisará lembrar durante 204 meses que precisa colocar o mesmo montante todo mês.

    Dessa forma, para que os pais não esqueçam, a especialista recomenda ter previdência privada, pois, é possível colocar o valor via débito em conta. Assim, a quantidade sairá direto da conta para o plano de previdência.

    Bolsa de valores

    Outro investimento recomendado pelos especialistas é a bolsa de valores.

    Para menores investirem na bolsa, é possível criar uma carteira de investimentos em nome da criança. E o procedimento é o mesmo que a previdência privada. É necessário criar um usuário em uma corretora de investimentos para começar a aplicar.

    Vale destacar que, no caso do falecimento do pai e da mãe, é necessário enviar o registro de óbito, e o documento de outro familiar, que assumiria o papel de responsável. Pois, legalmente,  as pessoas têm a autonomia para abrirem uma boleta de compra e venda de um ativo ou assinar um termo de adesão de um fundo apenas aos 18 anos.

    A quantidade de contas abertas no CPF de crianças de jovens tem crescido nos últimos anos, segundo dados da B3. Em janeiro de 2019, eram 2.850 investidores com menos de 15 anos. Em dezembro do mesmo ano, a quantidade subiu para 6.617.

    2020, por sua vez, terminou com 14.738, e 2021, com 19.143. O último dado computado pela B3, apontou que existem 25.447 contas.

    O analista da Rico afirma que o mais importante no investimento é a diversificação, para não aplicar todo o dinheiro em um único ativo e acabar perdendo o aporte dependendo da movimentação do mercado.

    Loni também indica a bolsa porque o objetivo da renda variável é sempre o longo prazo. “Ou seja, para uma criança se tornar adulta pode demorar 5, 10 ou até 20 anos”.

    E, com o recebimento dos dividendos, ela diz também que os valores devem ser reinvestidos. “Além de ter um investimento fixo em um determinado período, também terá uma renda extra fruto dessa quantia recebida pelos acionistas”.

    Outros investimentos que o analista da Rico Antonio Sanches recomenda para diversificar a carteira são produtos atrelados ao IPCA, “pois, o objetivo de todo investimento é superar a inflação”.

    Os especialistas entrevistados pelo CNN Brasil Business sugerem então debêntures incentivadas, LCI, LCA ou tesouro, como o IPCA+.

    Tesouro direto

    O mesmo usuário de uma corretora também pode aplicar no tesouro direto. Esse é um modelo de investimento que visa comprar e vender títulos públicos federais.

    Os analistas recomendam esse investimento pensando no futuro dos filhos porque é focado no longo prazo. Tanto que, existem alguns títulos com data de vencimento para 2055.

    Assim, imagine que um bebê nasceu hoje e a família começa aplicar todo mês, o vencimento do título será quando o filho tiver 33 anos.

    No site do Tesouro Direto também é possível fazer simulações sobre quanto será o rendimento de um título dependendo do valor aportado mensalmente, data de vencimento, taxa de rentabilidade e taxa de administração.

    Os especialistas da Rico acreditam que antes de investir, o importante é fazer cálculos.

    Imagine para criança de 10 anos. Se for investido R$ 500 por mês, rendendo apenas 0,5% ao mês, quando ela completar 18 anos, terá R$ 48.000 acumulado mais a rentabilidade de R$ 13.413,44, ou seja, R$ 61.413,44 no total.

    Poupança

    A poupança é uma quarta possibilidade que familiares devem ter no radar. Para realizar esse investimento, os familiares precisam abrir uma conta em uma agência bancária. Os documentos necessários são RG, CPF e comprovante de residência.

    Alguns bancos, no entanto, costumam bloquear o investimento dos responsáveis em nome do filho porque eles podem estar fazendo a aplicação de forma “indevida ou sem querer”, diz Sanches. O especialista então recomenda fazer o aporte na poupança por meio de algum gerente, para que o procedimento seja autorizado.

    Cuidados ao investir

    O riscos de se investir na previdência privada é escolher planos que não condizem com a característica do investidor e escolher uma opção que não conte com a cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), afirmaram os analistas da Rico.

    O fundo serve para, caso a seguradora da previdência vá à falência, as pessoas que utilizam o plano não consigam ter dificuldade de reaver o patrimônio.

    “Apesar disso, o mercado previdenciário é bastante regulado, o que reduz bastante a probabilidade de isso acontecer”, afirmaram os especialistas da Rico em nota.

    Os perfis de investidores costumam ser definidos após o usuário criar uma conta em uma corretora e responder algumas perguntas

    Já o principal risco quanto a bolsa é a volatilidade. Assim, o investidor pode acabar vendo seu montante aplicado se diluir.

    Porém, a especialista da Guide destaca que nada no mercado de investimentos é estático. Apesar de não ser interessante fazer mudanças bruscas nos investimentos no curto prazo, “é sempre importante revisitar [os ativos], pois algo pode acontecer com determinada empresa e, assim, ser necessário vender o papel”.

    O analista da Rico, por sua vez, afirma que alguns produtos atrelados ao IPCA, como as dívidas, podem ter o risco de um emissor não pagar e o investidor acabar por perder dinheiro.

    Por isso, ele recomenda ser importante escolher investimentos que estejam bem medidos os riscos com o perfil do investidor.

    O analista da Rico afirma também que o mais importante no investimento é a diversificação, para não aplicar todo o dinheiro em um único ativo e acabar perdendo o aporte dependendo da movimentação do mercado.

    O tesouro, por sua vez, possui três possibilidades de risco, apontam a equipe de analistas da Genial Investimentos: risco de crédito, risco de mercado e risco de liquidez.

    No primeiro caso, o credor pode emprestar o dinheiro para alguém e a dívida não ser paga. Logo, com nos títulos públicos, uma pessoa empresta dinheiro para o Governo, e existe o risco de inadimplência. “Porém, as chances de o país não arcar com a responsabilidade são pequenas”, diz a corretora.

    Na segunda opção, há riscos de ter perdas financeiras no resgate antecipado. Por outro lado, também é possível que o título resgatado de forma antecipada tenha valorização.

    E na terceira, se refere à dificuldade do investidor de vender o título, quando desejar. “Contudo, no caso dos títulos públicos, esse risco é muito baixo, pois o Governo garante a recompra deles em qualquer dia útil”.

    Já o único risco da poupança é perder da inflação – o que acontece hoje. Com a nova taxa Selic, Michael Viriato, estrategista da Casa do Investidor, afirmou que a opção sempre será o pior investimento dentre as possibilidades na renda fixa pós-fixada.

    A poupança rende TR (taxa referencial) + 6%, “e a medida que a taxa Selic subir, os 6% continuam intactos, apenas o TR cresce, mas não na mesma velocidade que os juros. Assim, cada vez mais a poupança vai ficando distante dos outros investimentos”.

    Para ele, o investimento fica relativamente mais interessante apenas quando os juros ficarem abaixo de 8%.

    Investir em nome dos pais ou do filho

    Na previdência privada, por exemplo, dois modelos de investimentos quando pensado nas crianças: o primeiro é quando o filho está vinculado ao plano dos pais, enquanto esses são listados como titulares do plano. Dessa forma, “se alguma fatalidade atingir os responsáveis, o herdeiro receberá o dinheiro aplicado”, informou a companhia MAG Seguros em nota.

    E a segunda opção é colocar o próprio menor de idade como titular do plano de previdência, garantindo-lhe acesso a uma fonte de renda em determinado momento da vida.

    Todos os investimentos apontados pelos entrevistados podem ser feitos no nome dos familiares ou da criança, o que vai diferenciar são os documentos pedidos pelas corretoras ou pela instituição financeira na hora de abrir uma conta.

    Porém, o educador financeiro da XP Arthur Soares diz que, especificamente, a partir do momento que um menor de idade abre uma conta em uma corretora e começa a investir na bolsa de valores, é necessário declarar Imposto de Renda.

    A única saída para não declarar e aportar no mercado de renda variável é utilizar fundos que alocam seus investimentos nas ações.

    Caso o IR não seja feito, o CPF do responsável pode ser bloqueado, tendo outros problemas jurídicos como a proibição de votar e a impossibilidade de emitir um cartão de crédito, segundo.

    De todo modo, o analista da Rico Antonio Sanches declara que o mais interessante é ter uma conta no nome do filho “para que, na necessidade financeira, o familiar não acesse o dinheiro investido para a reserva da criança. Assim, atrapalhando o investimento e o rendimento da aplicação”.

    Pai ou mãe como gestor do investimento

    Quem não considera inteligente criar uma carteira de investimentos no nome do filho tendo em vista o impacto jurídico enquanto são menores de idade é Marlon Glaciano, de 38 anos.

    Ele realiza há cinco anos, todos os meses, aportes financeiros em uma carteira destinada a reserva econômica de seu filho, Guilherme, de 11 anos. Porém, carteira, porém, é feita em seu nome.

    “[Eu entendo] ser interessante que o próprio pai faça essa gestão tendo liberdade de direcionar da melhor forma no futuro”.

    A carteira possui ações, FIIs (fundos imobiliários), renda fixa e dólar. Ele pensa em usar o montante para custear a faculdade do filho nos EUA. Ao todo, desde 2018, foram investidos cerca de R$ 50 mil.

    O pai conta que gosta de ensinar para o filho o valor do dinheiro e a importância das decisões financeiras. “Como o Guilherme ainda tem 11 anos, não busco como foco principal a parte técnica de operações, mas, sim, a parte conceitual e emocional do dia a dia”

    Marlon, porém, não planeja dar a carteira para o filho quando ficar maior de idade, mas operar junto, mesmo que possua uma carteira própria, focada nos mesmos investimentos e em criptomoedas. Em aproximadamente 10 anos, ele já aportou R$ 500 mil para si.

    O pai gosta de sozinho acompanhar índices como o S&P 500, ações de empresas sustentáveis e boas pagadoras de dividendos. “Aproveito a variação da renda fixa na alta para tomar menos risco com mais rentabilidade e os FIIs são ótimas opções de rebalanceamento de carteira devido os dividendos”.

    Já Adeline Borges, de 40 anos, coloca cerca de R$ 200 todo mês na previdência privada para o filho Gael, de 1 ano, desde que ele nasceu. Sua conta é feita em nome da criança, no aplicativo da fintech Saks, que oferece planos para esse tipo de investimento.

    Ela contou também ao CNN Brasil Business que investe para que “ele possa fazer suas escolhas baseada no desejo, não estando limitado pelos custos”. Ela visa dar o investimento ao Gael quando o filho estiver próximo da faculdade.

    Como o filho ainda é novo, ela disse que não pensa na educação financeira dele, mas que irá fazê-la quando Gael for mais velho. “Procuro ter uma vida econômica estável e segura, e é isso que quero passar para ele [nos próximos anos], a importância de se resguardar e poupar para o futuro”.

    A decisão de investir em previdência privada foi de uma assessoria de investimentos. Adeline afirma que, por não entender tão bem de investimentos, prefere contar com a ajuda de profissionais.

    A mesma ajuda também deu ânimo para que ela criasse uma previdência privada para si, que começou em julho de 2020. O aporte mensal é de R$ 3 mil.

     

    Adeline Borges com seu filho, Gael, e seu esposo, Washington Luiz Bená (esquerda) Marlon Glaciano e seu filho Guilherme (direita) / Arquivo pessoal

     

     

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