Previdência ‘pop’: para vencer crise, corretoras tentam democratizar modalidade
Tentando atrair novo público em plena crise da Covid-19, corretoras e seguradoras baixam preços e investem em carteiras mais agressivas
Foi-se o tempo em que previdência privada era um investimento pouco rentável e voltado para uma parte pequena da população. É essa mensagem que corretoras e gestoras querem passar para os seus clientes ao oferecer fundos variados (multimercado, ações) com aportes iniciais ou mensais menores e interface 100% digital, incluindo na realização de portabilidade.
O objetivo, do ponto de vista do público-alvo, é simples. Alcançar investidores mais jovens que, por conta da Reforma da Previdência, pensam em guardar recursos para o futuro; e os “clientes varejo”, aqueles que fazem, por questões de perfil de investidor ou financeiras, aportes menores.
“É um movimento de democratização da previdência que vem ocorrendo nos últimos tempos. A ordem é baixar o ticket de entrada e disponibilizar fundos para todos os tipos de clientes”, explica Henrique Diniz, diretor de Previdência da Icatu Seguros. “A crise aumentou a velocidade desse processo.”
Somam-se ainda outros dois fatores nesta equação. Primeiro, a crise do novo coronavírus, que fez com que a captação líquida da modalidade fosse de R$ 4,6 bilhões entre janeiro e abril deste ano – contra R$ 11,6 bi em 2019 e R$ 13,7 bi em 2018. E depois, a dificuldade do setor de ampliar sua base de clientes.
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Dados de abril da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi), entidade que representa 67 seguradoras e entidades abertas de previdência complementar no país, mostram que o número de participantes da modalidade permanece estável há anos: 13,3 milhões de pessoas ou 6% da população.
Previdência ‘pop’
Diante desse cenário – e a fim de engajar consumidores – agentes do mercado buscam estimular novos investimentos. A Icatu baixou o preço de 75 dos seus 280 fundos até o dia 31 de julho, à procura deste público durante a crise financeira. Fundos varejo passaram a ter investimentos mínimo de R$ 100 mensais ou aportes de R$ 1 mil e os qualificados R$ 500 mensais ou aportes de R$ 5 mil.
Outro exemplo disso, por parte das corretoras, é a Easynvest, que entrou no mercado da previdência em outubro de 2019. A empresa reduziu 80% no valor de entrada de boa parte dos seus planos, passando de R$ 5 mil para R$ 1 mil. Diminuiu ainda, em 66%, o montante mínimo para aportes mensais, baixando de R$ 300 para R$ 100.
Fabio Macedo, diretor comercial da corretora, fala dos objetivos da empreitada. “Hoje, mais de 70% dos recursos da previdência privada estão concentrados em fundos de grandes bancos, rendendo menos de 100% do CDI”, diz. “Um dos grandes trabalhos é mostrar para investidor que ele já deu um grande passo ao aplicar seu dinheiro, mas agora precisa equalizar seus recursos.”
Trabalhando com essa expectativa, a instituição oferece mais de 25 fundos administrados por 16 gestores. E, “para fazer diferente” dos tais fundos dos grandes bancos, apostam em opções de multimercado que, a depender do grau de risco, estão rendendo até 14,3% ao ano. Permitiu também que os clientes realizem as operações via mobile, o que reforça a ideia de produto desburocratizado.
Como resultado disso, a empresa viu o volume financeiro aplicado na modalidade crescer 65% entre janeiro e junho e o número de clientes do produto saltar 59% no mesmo período. Além disso, mais de 58% das pessoas que investiram nos planos oferecidos na plataforma tem até 40 anos.
Seguindo a mesma linha de raciocínio, a Guide Investimentos, que oferece mais de 60 fundos de previdência para investidores gerais, também decidiu baixar os preços dos aportes pelo menos até o final de julho. “A ideia é oferecer produtos para aqueles clientes que antes só conseguiam ingressar em fundos de renda fixa”, explica Erika Santana, analista de fundos da Guide.
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“Essa redução incentiva uma diversificação da carteira de modo geral. É possível aplicar em uma quantidade maior de fundos com aportes menores, o que pode trazer retornos maiores do que investir em um produto só.” E por falar em investir em mais papéis com menos recursos, a XP criou o que chama de SuperPrev, aplicando um modelo criado por Luciana Seabra, CEO da casa de análise Spiti.
Trata-se de uma carteira teórica de ativos e gestores diversificados que forma um plano de previdência voltado, como se espera, para o longo prazo. Aqui entram produtos de renda fixa (21%), multimercados (40%), renda variável (31,5%) e investimentos globais (7,5%). O aporte inicial mínimo é de R$ 5 mil.
Roberto Teixeira, sócio e head da XP Seguros, afirma que a empresa vem trabalhando para diversificar a oferta de produtos na modalidade. “As mudanças regulatórias permitiram que a gente pudesse ter, nos fundos de previdência, mais exposição para renda variável e multimercados.”
“Isso faz com que clientes mais jovens busquem o produto e hoje a média de idade das pessoas que contratam o SuperPrev é 42 anos”, explica. “A previdência hoje não é um produto específico, é uma solução.”
Regras da Previdência
As aplicações de previdência privada continuam tendo duas divisões básicas: VGBL e PGBL. Ambos são planos que, após um período de acumulação de recursos, proporcionam uma renda: mensal (podendo ser vitatícia ou não) ou através de pagamento único. O primeiro tem característica de seguro de pessoa, enquanto o segundo é um plano de previdência complementar.
Grande benefício da modalidade, o Imposto de Renda incide apenas no momento do resgate ou recebimento da renda nas duas categorias. Com os fundos de previdência se aproximando dos tradicionais em rentabilidade, isso passa inclusive a ser mais uma munição para as instituições venderem o produto.
“Por conta disso, a gente tem visto planos cada vez mais alongados”, explica Teixeira. Mas há uma diferença fundamental: no VGBL, o imposto de incide apenas sobre os rendimentos; já no PGBL, incide sobre o valor total a ser resgatado ou recebido sob a forma de renda.
Com isso, participantes do PGBL devem utilizar o modelo completo de declaração de ajuste anual do IR para deduzir as contribuições do respectivo exercício, no limite máximo de 12% de sua renda bruta anual. Os optantes do VGBL, por outro lado, utilizam o modelo simplificado porque os prêmios não podem ser deduzidos na declaração de ajuste anual do IR.
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