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    Novos produtos do Tesouro Direto podem popularizar programa e aumentar negócios, dizem economistas

    Governo anunciou que títulos do Tesouro poderão garantir aluguel e crédito; governo deve formalizar pacote em julho

    Pedro Zanattada CNN , em São Paulo

    Com o intuito de popularizar o Tesouro Direto, o governo anunciou que prepara um pacote com novos produtos, com títulos públicos sendo usados em garantias de financiamento e como caução de aluguel.

    A ideia é vista como positiva pelos economistas consultados pela CNN. Na avaliação deles, novos produtos devem cumprir o objetivo de popularizar o Tesouro, além de gerar liquidez e aumentar número de negócios no país.

    “Realmente ajuda a popularizar [o Tesouro] e aumenta a liquidez no produto do Tesouro Direto, pois muitos investidores verão, além da vantagem do próprio Tesouro Direto em rentabilidade maior do que a poupança, ainda vão ver essas vantagens das margens que o Tesouro pode gerar”, diz Virgilio Lage, especialista da Valor Investimentos.

    Também está previsto o lançamento de papéis para produtos específicos, como os de estímulo à educação, cartões-presente e até as populares “vaquinhas”.

    O pacote deve ser lançado pelo governo em julho. Durante o anúncio, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, disse que além do objetivo de popularizar, o governo pretende alcançar a população de baixa renda.

    “Estamos colocando muita prioridade no programa Tesouro Direto e vamos lançar um pacotão de coisas muito bacanas para popularizá-lo, criar um contexto para que cheguem à baixa renda”, disse Ceron.

    Para Heitor Martins, estrategista de investimentos da Nexgen Capital, iniciativas como esta são positivas. Segundo ele, o Tesouro ainda traz o benefício por ser um título seguro, do governo.

    “Ajuda sim. A partir do momento em que as pessoas estão mais preocupadas com as suas finanças e com seu futuro. Estão preocupadas com isso, iniciativas de popularizar e disponibilizar títulos específicos é algo bom, esse movimento leva o Tesouro a pensar em outros ativos para complementar e deixar mais claro os objetivos dos investimentos no final”, comenta.

    Ainda que a avaliação geral seja positiva, Lage também aponta alguns riscos.

    “O que pode acontecer de risco, é as pessoas se alavancarem utilizando esses serviços e produtos e acabarem fazendo mais dívidas ou dívidas maiores do que podem pagar, podendo tomar um prejuízo forte. Mas a vantagem é que realmente vai aumentar a liquidez no Tesouro, pois mais investidores vão investir, vai melhorar a questão de abertura da economia. Existem mais vantagens do que desvantagens no final”, diz o especialista da Valor.

    Financiamento

    Entre as frentes que serão abertas, está a de poder usar os títulos para financiamentos bancários e para a compra de automóveis, entre outros.

    Os papéis também poderão ser usados como caução no aluguel. Atualmente, o locatário precisa encontrar um fiador ou depositar antecipadamente o valor referente a alguns meses de aluguel.

    “O uso em financiamentos bancários seria, por exemplo, para compra de apartamentos ou algum empréstimo usando o Tesouro como margem. Isso aumenta a liquidez e aumenta o número de negócios no Brasil”, avalia Virgilio Lage.

    Neste caso, o dinheiro fica parado, sem rendimentos. A intenção, de acordo com o secretário, é que fintechs encontrem soluções para lastrear este tipo de produto. As próprias imobiliárias ou as seguradoras poderiam também oferecer a alternativa a seus clientes que tenham títulos públicos.

    Educação

    Uma das ideias é a de um papel com vencimento de três a 18 anos voltado para pais que queiram se programar para pagar pelo menos parte dos custos com a universidade. Assim, mesmo quem conta com um filho no ensino médio teria como começar a economizar.

    Diferentemente dos títulos tradicionais, que podem realizar pagamentos todos os meses, o retorno ocorrerá com parcelas fixas num período de quatro a cinco anos, durante o tempo da faculdade.

    “É uma forma de ir poupando. Como a taxa de juro é a mesma do mercado, é bem atrativa, então gera mais rentabilidade do que poupança, por exemplo”, comparou o secretário do Tesouro. Se o jovem acabar sem frequentar uma faculdade, os recursos poderão ser sacados da mesma forma.

    Ceron disse que prevê usar títulos como este para fomentar programas de políticas públicas, com incentivos, por exemplo, para alunos da rede estadual.

    Heitor Martins lembra que a educação particular é muito cara no Brasil, assim como em outros países. Logo, é bem-vinda uma medida que possibilite e estimule o planejamento da educação dos filhos a longo prazo.

    Ao fazer o anúncio, o secretário do Tesouro mencionou ainda que a secretaria trabalha em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que conta com um estudo sobre como incentivos como esse não apenas ajudam no desempenho do aluno, mas também colaboram para diminuir a evasão escolar, já que muitos estudantes passam a ter um horizonte.

    “A ideia é popularizar muito mesmo o Tesouro Direto, e queremos que todas as crianças tenham um cadastro no programa”, afirmou Ceron. O secretário lembrou que é possível comprar papéis a partir de R$ 30,00.

    “Vaquinha”

    Outra forma de poupança seria por dois outros tipos de produtos. Um é um “gift card” (cartão-presente) para amigos, parentes ou mesmo crianças. Outro é por investimento coletivo dentro de uma família, por exemplo.

    “Pais, padrinhos, tios e avós podem criar um ‘funding’ (reserva) para o ciclo universitário”, disse Rogério Ceron, explicando que aplicações por meio de débito automático serão opções disponíveis.

    Mais um formato em desenvolvimento é o de contrapartida de empresas em aplicações que seus funcionários possam fazer no Tesouro Direto para investimentos com foco nos filhos.

    Recorde em março

    Em março, os investimentos em títulos do Tesouro Direto atingiram a marca de R$ 6,8 bilhões, como informou o Ministério da Fazenda. Foi o maior valor da série histórica, iniciada em 2003.

    No mês passado, os resgates somaram R$ 5,781 bilhões, resultando em emissão líquida de R$ 1,061 bilhão. Em relação aos investidores, a base atingiu a marca de 2.141.535 pessoas — um aumento de 19.744 da passagem de fevereiro para março.

    Segundo o ministério, as aplicações de até R$ 1.000 representaram 53,5% das operações em março, enquanto o valor médio por operação foi de R$ 9.782,67.

    Entre os títulos do Tesouro Direto, o mais demandado foi o Tesouro Selic, que, com R$ 4,32 bilhões em vendas, representou 63,1% do total de investimentos, enquanto os indexados à inflação — Tesouro IPCA+, Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais e Tesouro RendA+ — somaram R$ 1,7 bilhão, ou 24,4% do total.

    *com informações da Estadão Conteúdo.

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