Ibovespa fecha em queda de olho em transição de governo; dólar sobe a R$ 5,17
Moeda norte-americana volta a valorizar depois de ter tombado quase 5% na semana anterior; índice da B3 tem baixa de 2,38%
O Ibovespa encerrou em baixa nesta segunda-feira (7), após uma semana positiva, enquanto agentes financeiros aguardam novidades sobre a transição do governo brasileiro, principalmente na área econômica. O principal índice da bolsa registrou queda de 2,38%, aos 115.342,4 pontos.
Já o dólar encerrou com valorização de 2,4%, negociado a R$ 5,173, também em meio a temores sobre a configuração da futura equipe econômica do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), cujos planos de gastos extra-teto para 2023 têm preocupado investidores.
Essa foi a maior valorização percentual diária desde 24 de outubro (+2,94%) e maior patamar de encerramento desde 28 de outubro (R$ 5,30), pregão que antecedeu o segundo turno das eleições.
Investidores se mostravam preocupados com a falta de indicações claras sobre quem será o ministro da Fazenda de Lula. Há semanas os mercados vêm se atendo a esperanças de que o petista poderia indicar um nome amigável aos mercados para o cargo, como Henrique Meirelles, mas o ex-presidente do Banco Central já disse várias vezes que não recebeu convites para integrar o governo eleito, não toma decisões com base em hipóteses e tem responsabilidades no setor privado.
À medida que o próximo chefe da pasta econômica brasileira segue indefinido, crescem os temores de que o Ministério da Fazenda acabe sendo liderado por alguém mais à esquerda e que poderia ser inclinado a uma maior flexibilidade das regras fiscais do país.
Diante dessa possibilidade, alguns agentes financeiros entenderam o tombo dos ativos brasileiros nesta segunda-feira como um “recado” dos mercados.
Os ganhos desta segunda-feira vieram depois de, na sessão anterior, na sexta, a moeda norte-americana spot ter perdido 1,36%, a R$ 5,0524, menor patamar para encerramento desde 29 de agosto (R$ 5,03). No acumulado da semana passada, período que sucedeu a vitória eleitoral de Lula, o dólar despencou 4,71%, maior queda semanal desde o período findo em 29 de julho (-5,91%).
“Logo após as eleições, (o dólar) apontou uma tendência de queda após uma sinalização de uma transição um pouco mais tranquila. Porém, para que se confirme essa tendência, se faz necessária a divulgação da equipe que vai compor o gabinete nos próximos anos, em especial da equipe econômica”, disse Márcio Riauba, chefe da mesa de câmbio da StoneX.
O especialista também citou temores sobre a PEC que a equipe de transição do próximo governo planeja encaminhar para garantir uma excepcionalidade ao teto de gastos e adequar o Orçamento do ano que vem às promessas de campanha de Lula, como a manutenção dos R 600 do Auxílio Brasil e o reajuste real do salário mínimo. Os valores embutidos na PEC ainda não foram definidos oficialmente, mas a expectativa é de que possam superar os R$ 200 bilhões.
Nesta semana, investidores ficarão atentos à divulgação de dados de inflação norte-americanos e falas de dirigentes do Federal Reserve, que podem oferecer pistas sobre as próximas decisões de política monetária do banco central dos Estados Unidos.
O BTG Pactual disse em relatório desta segunda-feira que ainda vê “suporte para um dólar global forte” depois de indicações recentes do Fed de que pode elevar os juros a patamar mais alto do que se pensava anteriormente e mantê-los assim por mais tempo.
O foco também fica sobre as eleições de meio de mandato nos EUA, que acontecerão na terça-feira. Um resultado muito dividido entre republicanos e democratas seria visto, num geral, como positivo para ativos arriscados.
O presidente-eleito reuniu-se com sua equipe de transição nesta segunda-feira, tendo como pano de fundo informações de que convidou Persio Arida e André Lara Resende, economistas que ajudaram a desenhar o Plano Real que estabilizou a economia nos anos 1990, para fazer parte do grupo.
Para Dan Kawa, diretor de investimentos da TAG Investimentos, o cenário permanece ainda sem definição e muita especulação sobre o que será da agenda econômica do governo Lula.
Ele acrescentou, contudo, que o investidor estrangeiro tem estado disposto a dar o benefício da dúvida ao governo Lula e está vendo fluxo de suporte aos ativos locais no curto prazo. “Não há argumentos contra este movimento de mercado, que pode continuar”, avaliou em comentário a clientes.
Nos primeiros três pregões após o resultado da disputa presidencial, o saldo de capital externo no mercado secundário de ações brasileiro ficou positivo em R$ 2,9 bilhões, conforme os dados mais recentes disponíveis no site da B3.
A partir dessa segunda-feira, em razão do término do horário de verão nos Estados Unidos, a bolsa paulista passou a operar seu pregão alongado em 1 hora, com o call de fechamento se encerrando às 18h.