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    Juros altos no Brasil prejudicam saúde financeira de empresas, dizem especialistas

    Enquanto falências subiram 80% nos últimos dois anos, Selic foi de sua mínima história de 2% a quase 14% ao ano, encarecendo dívida corporativa

    Ligia TuonPedro Zanattada CNN

    O atual cenário de alta dos juros e consequente restrição no mercado de crédito tem prejudicado a saúde financeira de empresas brasileiras, avaliam especialistas ouvidos pela CNN.

    Apesar das peculiaridades que cada caso apresenta, alguns exemplos de companhias que precisaram bater à porta dos credores em 2023 envolvem Americanas, Tok Stok, Marisa, Azul e CVC.

    “O varejo é um dos setores da economia que trabalha com as menores margens líquidas, ou seja, tem de vender muito para obter um percentual de lucro pequeno, e com isso o setor está sempre precisando de injeção de capital”, explica Ulysses Reis professor de varejo da Strong Business School.

    Vale dizer também que o Brasil tem os juros reais (que descontam a inflação) mais altos do mundo, de 7,4%, perdendo apenas para a Argentina, um desafio relevante para os negócios.

    “Os juros reais neste patamar, com a inflação baixa, que não permite repasse de preços, gerou uma explosão nas despesas financeiras de muitas empresas, pois a grande maioria das companhias de grande porte no varejo tem alavancagem — se financiam com dívida — e o custo dessa dívida ano passado explodiu”, disse Alberto Serretino, CEO da Varese Retail.

    O número de falências de empresas avançou 56,5% em janeiro deste ano, em relação ao mesmo mês do ano passado, segundo levantamento do Serasa Experian, de 46 pedidos para 72.

    O aumento chega a 80% quando consideramos os 40 pedidos de falência registrados em janeiro de 2021.

    Uma mudança de cenário que permeia esse movimento dos últimos dois anos é ligada à Selic, taxa básica de juros, que, em janeiro de 2021, estava em sua mínima história de 2% e, neste ano, bate na casa dos 14% ao ano, a 13,75%.

    Na vida prática das empresas, os juros altos indicam a necessidade de se ter mais dinheiro para pagar dívidas, muitas vezes, contraídas num cenário em que a taxa estava perto da mínima, como era em 2021.

    No caso da Tok Stok e da Marisa, varejistas tradicionais de seus ramos no país, por exemplo, as empresas tiveram, inclusive, dificuldade em quitar aluguéis.

    Vale dizer que, nesses dois casos, as empresas tiveram a situação financeira agravada pela crise na Americanas, que deixou os bancos — que tomaram prejuízo bilionário de empréstimos feitos à empresa —, mais criteriosos em relação a outras companhias do setor de varejo. Mas os juros altos também estão no centro do problema.

    Isso porque é comum que as empresas precisem de capital de giro para pagar contas do dia a dia, como, por exemplo, aluguéis e fornecedores.

    Remédio amargo

    Os juros são a ferramenta usada pelo Banco Central para conter a inflação.

    Apesar dos efeitos colaterais que podem ter na economia, deixando o crédito mais caro e reduzindo o ritmo da atividade de forma geral, economistas defendem que é um remédio necessário e uma redução forçada das taxas teria o efeito contrário nos preços.

    Em entrevista recente à CNN, o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, sócio fundador da Tendência Consultoria, explica esse efeito indesejado.

    “A percepção (caso o BC reduzisse os juros “na marra”) seria de que acabou a independência do Banco Central.

    Os juros futuros subiriam muito, impactando o custo do Tesouro Nacional e o crédito na economia, e isso desaceleraria ainda mais o crescimento. A fuga de capitais provocaria depreciação forte do câmbio, que ampliaria a aceleração da inflação. Ou seja, um completo e perfeito desastre”, diz.

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