Juros altos e endividamento puxaram queda nas vendas do varejo em maio, dizem especialistas
Endividamento das famílias está em um dos patamares mais altos da história do país
O alto nível de endividamento e o aperto monetário foram os principais fatores que impulsionaram a queda no volume de vendas no varejo em maio, conforme apontam analistas.
O indicador de vendas no varejo brasileiro caiu 1% em maio na comparação com abril de 2023, rompendo uma sequência de quatro altas seguidas. Na comparação com maio de 2022, também houve queda de 1%, segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada nesta sexta-feira (14) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado veio abaixo das projeções do mercado, que esperavam uma estabilidade na comparação com abril, e alta de 2% nas vendas em relação ao ano anterior.
Para Gabriel Bassotto, analista chefe de ações do Simpla Club, o resultado foi impactado por dois principais fatores: o maior endividamento das famílias e menor crédito nos mercados.
O especialista explica que a queda concentrada nas atividades de hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-3,2%) pode ser entendida pela menor renda disponível nas famílias, que pode refletir em menores compras no varejo.
“O endividamento das famílias está em um dos patamares mais altos da história do país, enquanto a inadimplência também está aumentando”, segundo o especialista.
Segundo levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a proporção de endividados na classe média subiu de 78,7% para 79,6%, e a inadimplência foi de 27,3% para 27,7%.
Já o recuo registrado nos setores de imóveis e eletrodomésticos (-0,07%) preocupam o analista. “Os juros mais altos podem ter um impacto grande neste cenário”, explica.
Bassotto avalia que que a politica monetária está bem restritiva, e os bancos estão com dificuldade de aumentar sua carteira de crédito, sendo muito mais criteriosos no momento de análise dos empréstimos.
“Diante dos juros altos, o crédito disponível para as famílias caiu, e as pessoas que antes podiam contar com bancos para conseguir dinheiro não podem mais”, coloca.
Ricardo Pompermaier, estrategista-chefe da Davos Investimentos, concorda que em um ciclo de alta de juros e desaquecimento econômico, é normal este tipo de oscilação no varejo, “faz parte das escolhas do consumidor sobre onde colocar seus recursos”.
Perspectivas para o varejo
Para o próximo mês, Marco A. Caruso e Igor Cadilhac, especialistas do PicPay, calculam que o aumento no volume de vendas no varejo seja impulsionado pelo início do programa de incentivo aos carros populares.
O cenário para os próximos meses, contudo, é “desafiador para o comércio, que enfrenta um crédito caro e o alto comprometimento da renda das famílias”.
Para 2023, o PicPay projeta uma alta de 1,1% no comércio restrito e de 0,9% no comércio ampliado.
Claudio Felisoni, presidente do Ibevar e professor da FIA Business School, projeta um aumento de 7,78% no consumo no terceiro trimestre de 2023 em relação ao mesmo trimestre de 2022 e de 1,32%, em relação ao segundo trimestre deste ano.
O longo período de estabilidade do consumo, a queda da inflação, a esperada redução da taxa básica, com seus reflexos, ainda que demorados na ponta, e o impulsionamento do emprego são os principais fatores que corroboram com essa visão.