Juros altos desestimulam investimentos na bolsa de valores; entenda
Fundos de ações tiveram um saque total de R$ 70,4 bilhões no ano passado, de acordo com a Anbima
Dos vários efeitos para a economia de uma taxa de juros alta, a perda de força dos investimentos na bolsa de valores é um dos mais tradicionais e também mais imediatos.
Não é à toa que o Ibovespa, o principal índice acionário da B3, a bolsa de valores brasileira, vem andando de lado há vários meses, preso na órbita dos 110 mil pontos em torno dos quais vem gravitando, e ainda longe de seu recorde histórico, de 130 mil pontos, batidos em julho de 2021.
Naquele mês, a Selic, a taxa de juros de referência do país, estava ainda em 4,25%. Hoje ela está em 13,75%, o que impacta o mercado de renda variável que já vem sofrendo com a instabilidade e incertezas políticas do país.
Como a Selic impacta os investimentos
A Selic é a taxa de juros de referência da economia brasileira. Ela é definida pelo Banco Central e serve como uma espécie de piso para todos os outros juros praticados no país – tanto os dos empréstimos quanto os dos investimentos.
Ela é a ferramenta básica do BC para cumprir a sua principal missão: controlar a inflação do país. Quando os preços começam a subir demais, o Banco Central eleva os juros, o que encarece o crédito e leva as empresas a fazerem menos investimentos e as pessoas a comprarem menos.
Isso faz com que a demanda perca força gradualmente, desaquece a economia e, por consequência, ajuda a inflação a voltar a baixar.
Ao mesmo tempo, Selic mais alta puxa para cima as remunerações da renda fixa – poupança, títulos públicos, CDBs, crédito privado e outros.
São, no geral, investimentos mais previsíveis, seguros e menos arriscados do que os da renda variável, caso das ações.
O resultado é que o capital começa rapidamente a ser retirado da bolsa de valores e redirecionado para os retornos “garantidos” da renda fixa.
Volume recorde
Em 2022, por exemplo, o volume total de dinheiro investido nos principais produtos de renda fixa nos bancos do país cresceu 30% em relação a 2021 e bateu recorde.
O ano acabou com um total de R$ 3,7 trilhões aplicados em títulos como CDBs, LCAs, LCIs, RBDs, e Letras Financeiras (LFs), que são os títulos de renda fixa emitidos por bancos e financeiras.
Em 2022, o volume era de R$ 2,8 trilhões, de acordo com dados da B3, que, além da bolsa de valores, é também responsável pela custódia dos principais investimentos do país.
Os fundos de ações, por outro lado, tiveram um saque total de R$ 70,4 bilhões no ano passado, de acordo com a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
O resultado da Anbima considerada a captação líquida na categoria, ou seja, a diferença entre tudo o que foi aplicado e tudo o que foi resgatado pelos investidores no período.
No ano, o patrimônio total aplicado em fundos de investimentos de ações no país caiu 18%, segundo Anbima, de R$ 7,64 bilhões em 2021 para R$ 6,28 bilhões em 2022.
No ano passado, o Ibovespa teve uma alta de 4,69% – abaixo da inflação, que foi de 5,8%. Já o CDI, principal taxa de juros da renda fixa e que anda colada à Selic, acumulou um ganho de 12,4%.
Em 2023, o CDI acumula alta de 2,4% nos pouco mais de dois meses até a última sexta-feira, 10 de março. Já o Ibovespa tem perda de 5,6% no ano.