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    Investidores estrangeiros são perdedores na luta da Evergrande para sobreviver

    Incorporadora tem priorizado pagamentos para investidores chineses em seu processo de recuperação

    Michelle Tohdo CNN Business

    A forma como a crise da Evergrande acabará ainda é desconhecida. Mas o problemático conglomerado chinês está começando a colocar suas prioridades em ordem – e os investidores estrangeiros parecem estar no fim da lista.

    Nos últimos dias, a gigante imobiliária tem trabalhado para limpar algumas contas com os credores domésticos, enquanto tenta resolver sua montanha de dívidas de US$ 300 bilhões.

    Mas a empresa permaneceu em silêncio sobre dois pagamentos de juros a investidores estrangeiros que venceram nas últimas semanas.

    Esses pagamentos de juros eram devidos sobre títulos denominados em dólares: um de US$ 83,5 milhões e o outro de US$ 47,5 milhões. Os prazos vieram e passaram sem nenhuma atualização oficial.

    Isso sugere que a prioridade da empresa é pagar primeiro os investidores chineses, se é que é possível pagá-los. Ela também está sob forte pressão de Pequim para proteger as pessoas que compraram seus apartamentos e ainda não tomaram posse.

    Estima-se que o setor imobiliário da China e as indústrias relacionadas representem cerca de 30% do PIB (Produto Interno Bruto), e as autoridades querem evitar uma crise mais ampla.

    Na quarta-feira passada (29), a Evergrande anunciou que concordou em vender parte de sua participação em um banco local para uma empresa estatal por quase 10 bilhões de yuans (cerca de US$ 1,5 bilhão).

    Em um documento enviado para a bolsa de valores, a incorporadora disse que sua crise de caixa prejudicou as operações do Shengjing Bank “de forma material”, e que o credor exigiu que todos os rendimentos da venda fossem usados ​​para resolver “passivos financeiros” entre as duas partes.

    A Evergrande também chegou recentemente a um acordo sobre os juros devidos sobre um título em yuans, dizendo que a questão foi “resolvida por meio de negociações”.

    Pode levar algum tempo até que o futuro da empresa volte ao foco: a China continental acaba de dar início a um grande feriado de uma semana.

    Mas os mercados estão abertos esta semana em Hong Kong, onde as ações da Evergrande e alguns de seus títulos são negociados. E os rumores sobre seu destino podem continuar abalando as ações.

    As ações da Evergrande foram suspensas das negociações em Hong Kong na segunda-feira (4). Um aviso da bolsa de valores não entrou em detalhes sobre o movimento.

    Adam Slater, economista-chefe da Oxford Economics, disse que os investidores ficarão de olho em quaisquer desenvolvimentos, ou mesmo rumores.

    “Os mercados globais ainda podem reagir”, disse ele à CNN Business.

    Nenhum sinal de um ‘momento Lehman’

    A Evergrande é a incorporadora mais endividada da China, e seu enorme passivo inclui quase US$ 20 bilhões em títulos internacionais, de acordo com o provedor de dados Refinitiv Eikon.

    Mas como os credores estrangeiros detêm uma “parcela relativamente pequena” da dívida geral da Evergrande, suas perdas “não serão grandes o suficiente para causar qualquer contágio internacional significativo”, disse Slater.

    “Impor perdas sobre eles libera fundos para compensar os credores, fornecedores [ou] consumidores domésticos”, acrescentou.

    De acordo com Slater, a escala do dano potencial aos credores estrangeiros “parece administrável”. Ele estimou que eles poderiam perder cerca de US$ 15 bilhões, supondo que o preço atual dos títulos “reflita com precisão o valor de recuperação final dos títulos offshore da Evergrande”.

    “Isso não é particularmente grande no que diz respeito à inadimplência corporativa”, observou ele.

    Nas últimas semanas, os investidores internacionais foram influenciados por temores de contágio da Evergrande e uma desaceleração do crescimento chinês. A situação no mês passado gerou pânico nos mercados globais, bem como grandes protestos na China.

    Alguns até levantaram a possibilidade de que um calote da Evergrande possa se transformar no “momento do Lehman Brothers” da China, em referência à falência de um banco que gerou a crise de 2008, embora muitos analistas digam que isso é improvável.

    Slater disse que embora um colapso da Evergrande fosse significativo, “não é um ‘momento Lehman'”.

    A prioridade para as autoridades chinesas “parece ser evitar o contágio doméstico dos problemas da Evergrande, especialmente o que prejudicaria consumidores e fornecedores”, observou.

    “Os mercados presumem – provavelmente de forma correta – que as autoridades chinesas conterão o impacto dos problemas financeiros da Evergrande”.

    Pequim tem poucas opções boas, no entanto. O governo vai querer proteger os muitos chineses que compraram apartamentos inacabados da Evergrande, bem como trabalhadores de construção, fornecedores e pequenos investidores.

    De acordo com uma análise recente do Bank of America, a Evergrande vendeu 200.000 unidades habitacionais que ainda não foram entregues aos compradores.

    O governo também vai querer limitar o risco de falência de outras imobiliárias. Ao mesmo tempo, Pequim tenta conter o endividamento excessivo por parte dos incorporadores – e não vai querer diluir essa mensagem.

    Até agora, os especialistas dizem que os resultados potenciais incluem um resgate, reestruturação ou calote apoiado por Pequim.

    A China se move para proteger os consumidores

    Nas últimas semanas, o governo voltou seu foco para limitar as consequências da crise e proteger as pessoas comuns, embora tenha se abstido de comentar diretamente sobre a Evergrande.

    Em um comunicado no final do mês passado, o Banco Popular da China prometeu “manter o desenvolvimento saudável do mercado imobiliário e salvaguardar os direitos e interesses legítimos dos consumidores de imóveis”.

    Embora não se refira especificamente à Evergrande, o banco central tem injetado dinheiro no sistema financeiro nos últimos dias para ajudar a estabilizar a situação e acalmar os nervos.

    Na terça-feira passada (28), ele anunciou que havia acrescentado 100 bilhões de yuans (aproximadamente US$ 15,5 bilhões) ao sistema, dizendo que era para manter a liquidez.

    Iris Pang, economista-chefe da Grande China do ING, disse que a medida foi “um sinal simbólico para o mercado de que o governo chinês está no controle do incidente e não está permitindo que ele se transforme em uma crise”.

    Mas mesmo que as perdas para os investidores estrangeiros sejam relativamente contidas, a crise pode forçar alguns a repensar a forma como emprestarão a outras empresas chinesas no futuro, de acordo com Slater.

    Ele advertiu que os credores poderiam “decidir ‘reavaliar’ [os ricos na] China à luz de seu tratamento na reestruturação da Evergrande, e à luz do que os problemas da Evergrande dizem a eles sobre a relação risco e recompensa mais ampla na dívida chinesa”.

    “Isso, por sua vez, depende muito da maneira exata como a reestruturação da Evergrande será organizada”, acrescentou.

    (Texto traduzido. Para ler o original, clique aqui)

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