Entenda o que são os Fundos de Infraestrutura (FI-Infra)
Especialistas avaliam que os fundos são atrativos pelo atual cenário econômico, uma vez que seu rendimento está atrelado ao IPCA e possuem isenção de imposto de renda
Os investimentos privados no Brasil tem apresentado bons resultados e perspectivas nas avaliações do mercado. A tendência de crescimento do segmento na participação da economia ocorre desde 2017, após o ciclo de baixa entre 2014 e 2016. Em 2021, os investimentos privados representaram 17,56% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, ante 12,88% em 2017.
A avaliação é de que os novos marcos regulatórios, concessões e privatizações vem estimulando o retorno do investimento privado no Brasil, beneficiando, entre outros setores, a infraestrutura.
Um dos principais segmentos da infraestrutura, a Construção Civil, registrou o oitavo trimestre consecutivo de crescimento, ajudando na alta de 1,2% do PIB no segundo trimestre e de 3,2% na comparação com o mesmo trimestre de 2021.
Com este cenário, os Fundos de Infraestrutura (FI-Infra) se mostram atrativos para o mercado de capitais.
O que são os Fundos Infraestrutura (FI-Infra)
O FI-Infra têm como característica o investimento em dívida de companhias nos setores de concessões. Estes fundos operam também sob a forma de condomínio fechado, ou seja, é um fundo fechado onde não é possível resgatar as cotas. Entretanto, investidores podem negociar na B3 (mercado secundário).
Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter, reforça que o atual cenário econômico é uma oportunidade para os fundos. Segundo ela, o cenário positivo para a retomada do investimento privado no Brasil segue uma melhora nos marcos regulatórios, como exemplo, a reestruturação das regras do setor de saneamento que permitiu a contratação de novos projetos de infraestrutura em todo o país.
Dessa maneira, Vitoria avalia que os FI-Infra são importantes para o mercado de capitais por dar mais liquidez aos papéis, e fazer uma diversificação e monitoramento do risco em nome dos investidores.
“Para as empresas, é um novo mercado que permite a captação de recursos de longo prazo com um menor custo e, para os investidores, o rendimento atrelado ao IPCA com isenção de imposto de renda também se torna atrativo”, afirmou em relatório.
A analista de Real Estate e Fundos Imobiliários (FIIs) na XP, Maria Fernanda Violatti, resume os FI-Infra como sendo títulos de dívida onde o investidor, pessoa física, está “emprestando dinheiro para financiar projetos de infraestrutura no Brasil”.
“Em troca desse dinheiro, esse investidor recebe uma remuneração. Os FI-Infra surgem para trazer essa proximidade, essa acessibilidade ao investidor pessoa física. É uma alternativa para essa pessoa ter acesso a esses investimentos”, disse.
Presença
Os fundos estão presentes em diversos setores da economia como, por exemplo, na geração hidrelétrica, com investimentos na construção e manutenção de usinas hidrelétricas e PCH’s; na geração eólica, um setor que tem apresentado grandes investimentos nos últimos tempos, com o movimento de transição para fontes de geração alternativa e sustentável; ou na geração térmica, modelo de geração que entra como alternativa para a geração hidrelétrica no país.
Além destes, os fundos também marcam presença nos setores de:
- Geração fotovoltaica;
- Transmissão de energia;
- Saneamento básico;
- Portos;
- Rodovia.
Fernando Camargo, economista e sócio da LCA Consultores, explica que, no caso do Brasil, os setores de rodovias, saneamento e energia possuem em seu perfil uma característica importante para os fundos, a segurança jurídica.
“Eles [os fundos] gostam disso, eles veem perspectiva de crescimento, o Brasil, de fato, está migrando cada vez mais para o segmento privado nessas concessões, está saindo da mão do estado”.
O economista lembra que o marco do saneamento é um exemplo importante desse movimento de saída de ativos das empresas estatais. Segundo Camargo, tais companhias, “por muitos anos, mesmo sem ter condições de bancas os investimentos, eram donas dos contratos e tinham muita influência politica em cima dos municípios”.
Vantagens
Entre as principais vantagens dos FI-Infra está a isenção de imposto de renda, uma vez que os rendimentos e ganho de capital são isentos de IR para o investidor pessoa física.
Além disso, possuem maior liquidez que as alternativas. A maioria dos fundos tem negociação diária na bolsa. Já a venda de debêntures incentivadas antes do vencimento depende de oferta no mercado de balcão.
Outro ponto é a gestão profissional e maior diversificação. Com montantes pequenos de capital é possível diversificar enquanto a gestão profissional monitora o risco de crédito.
Por fim, são considerados como um passivo estável. Por serem fundos fechados, o passivo dos fundos é estável. O que permite a gestão focar no portfólio de ativos e carregar menos caixa.
O gestor de investimentos da Kinea, Aymar Almeida, lembra que os fundos sob a forma de condomínio fechado protegem mais a carteira em períodos adversos.
“Em períodos de aversão a risco, o investidor, geralmente, tende a solicitar o resgate das cotas. Mas, por se tratar de um regime fechado, ele não pode. Logo, a carteira do gestor não precisa vender as debêntures para fazer caixa para pagar o resgate. Diferente do regime aberto, onde o investidor pode pedir o resgate e o gestor terá de pagar, sendo forçado a vender seus ativos ou parte deles”, explica.
Em resumo, Almeida, avalia que os fundos proporcionam ao investidor uma carteira diversificada e pré-selecionada, já que passou pelo crivo de profissionais que escolheram e acompanham tais ativos.
Desvantagens
Com relação às desvantagens que podem ser encontradas, temos as taxas de administração e performance: assim como outros fundos de renda fixa, o FI-Infra possui taxa de administração e custódia.
Por serem produtos novos no mercado, os FI-Infra , possuem curto track record – ou histórico de desempenho. Atualmente existem apenas nove ativos negociados na B3.
Sendo poucos produtos e com um baixo volume negociado diariamente, pode haver um spread – a diferença entre o preço de compra e venda de uma ação – entre o preço de compra e venda das alíquotas.
Principais riscos
Assim como nas demais modalidades, o investidor pode deparar-se com alguns riscos nos fundos de infraestrutura.
Um deles é o risco de crédito, quando ocorre uma reestruturação das dívidas no portfólio do fundo, devido a condições financeiras adversas dos emissores. Com isso, pode haver uma redução dos fluxos de caixa dos ativos subjacentes, de modo a deteriorar o retorno para o investido.
Além do crédito, existe o risco de liquidez, que consiste na possibilidade do investidor precisar vender o FI-Infra mais barato para conseguir encontrar um comprador.
Existem ainda os riscos de mercado, ou seja, a possibilidade de perdas devido às variações dos preços dos ativos, tanto marcados dentro do fundo como pela variação da cota. E os riscos de duration, que são oscilações na cotação do ativo devido a mudanças na taxa de retorno requerida pelos investidores.